Capítulo 38

3.2K 454 232
                                    



Assim que Elisa saiu, Isabel calçou ao tênis, pegou as chaves e deixou o apartamento. Mais do que nunca precisava correr, tinha que extravasar as emoções que a visita da ex-sogra lhe despertou.

Não demorou para chegar no parque e, enquanto se alongava, as cenas daquela conversa inusitada se repetiam em sua cabeça. O que tinha dado em Elisa para fazer aquilo? Por que ela tinha resolvido tocar naquele assunto depois de tanto tempo?

Começou a correr e as palavras dela se repetiam a cada passo. Droga! Não queria ficar pensando naquilo, mas era impossível. Amentou o ritmo, mas não adiantou, a corrida não estava tendo o efeito relaxante de sempre. Tudo por culpa de Elisa!

Mas apesar da raiva que fazia seu sangue pulsar mais rápido, precisava admitir que entendia a ex-sogra. Sabia que ela não tinha aprovado a escolha de Lucas e que  teria ficado muito mais feliz se o filho tivesse se casado com uma jovem que seguisse o padrão de esposa e mãe adotado por ela, mas não dava muita atenção para esse fato e, de certo modo, até entendia a sua forma de pensar.

Essa foi a escolha que ela fez e tinha sido feliz daquele jeito. Conhecia a história dela e sabia que Elisa tinha se casado, quando ainda estava cursando a faculdade de Direito e que mal chegara a exercer a profissão. Ela tinha atuado em poucos processos antes do nascimento de Lucas, quando ela já estava casada há três anos, e com a chegada do filho, Elisa tinha deixado de trabalhar de vez para se dedicar a ele.

Ela também não precisou a voltar a trabalhar após a morte prematura do marido, que falecera antes dos quarenta anos, vítima de um acidente vascular cerebral. O irmão mais velho dele sempre cuidou para que nada faltasse aos dois e ela ainda recebia uma generosa pensão deixada pelo marido, que era juiz.

E, agora que Lucas já era um homem feito e o ninho dela tinha ficado vazio, Elisa se dedicava a vários projetos de caridade.

Enfim, aquela vida tinha dado certo para a ex-sogra, mas isso não queria dizer que traria felicidade para ela. Quando ainda estava casada e aquele assunto era ventilado, seu interior convulsionava só de pensar em deixar o seu amado trabalho, não importava quão bem o marido ganhasse. E Elisa sempre aproveita qualquer oportunidade para enumerar as vantagens de ser como ela, mas Isabel nunca deixou que aquilo a afetasse.

Pelo menos não afetou até Gabriel nascer. Quando ela passou a questionar a sua competência como mãe, Isabel começou a perder a paciência e precisou de muito autocontrole para não dizer uns desaforos para a ex-sogra.

Agora se arrependia, pois se a tivesse escutado e seguido seu exemplo, Gabriel ainda estaria ali...

Não! Apertou o passo, aumentando ainda mais o ritmo da corrida. Não podia enveredar por essa linha de raciocínio. Se continuasse admitindo esse tipo de pensamento, iria atrapalhar todo o seu progresso e estava indo muito bem!

Correu mais rápido, os músculos reclamando da exaustão, o pulmão queimando em buscar de ar, mas não parou até conseguir expulsar a culpa que ameaçava se emaranhar no seu peito.

Mais calma, parou para respirar e se dirigiu à saída do parque. Precisava pegar Pipoca antes que ele pensasse que tinha sido abandonado e enlouquecesse os funcionários do pet shop com seus latinos chorosos. E, assim que chegasse em casa, tinha que correr para o banho, pois ela e Lucas combinaram de ir ao cinema hoje à noite. Confessava que não estava mais tão animada, a visita da ex-sogra mexeu  muito com ela, mas não permitiria que Elisa estragasse sua noite.



Isabel estava colocando a comida de Pipoca quando o interfone tocou e o porteiro avisou que tinham deixado uma encomenda para ela. Estranhou o fato, não estava esperando nada e não conseguia imaginar quem poderia ter lhe enviado algo.

Uma Segunda Chance Onde histórias criam vida. Descubra agora