Isabel acordou com a cabeça latejando. Não demorou para reconhecer o quarto de hospital onde a enfermeira a tinha colocado. As lembranças da noite anterior ainda estavam confusas, mas sabia o que tinha acontecido.
Tinha surtado mais uma vez e acabara indo ao último lugar que deveria voltar. Ainda não entendia porque havia ido ao restaurante. Aquele deveria ser o último local onde colocaria os seus pés e não o seu refúgio. E se não bastasse aquela incongruência, ainda tinha desabado ao ver o prédio em ruínas!
Definitivamente, suas reações não eram normais. Qualquer pessoa em seu lugar teria ido à antiga casa ou ao túmulo do filho, mas ela não. Isabel tinha que ir naquele maldito restaurante, o causador de toda a sua desgraça!
Talvez Lucas tivesse mesmo razão, pensou, angustiada.
Ouvindo o ranger da porta, voltou sua atenção para Carolina. A irmã tinha um sorriso aliviado no rosto e seus olhos estavam avermelhados.
- Com está se sentindo?
- Bem - mentiu, notando as feições abatidas de Carolina.
- Sei quando você está mentindo, Bel.
- Está bem, dói um pouco.
- Quer conversar sobre o que aconteceu ontem?
Isabel hesitou. Não queria confessar o quanto foi insensível, mas, se existia alguém que podia compreendê-la, era Carolina. Com o olhar preso em suas próprias mãos, começou a contar o que tinha acontecido. A irmã a ouvia sem fazer perguntas, atenta a cada palavra e incentivando-a a continuar quando ela vacilava.
- Eu não devia ter ido para lá, Carol - falou, a voz chorosa.
- Não devia mesmo!
Não soube o que responder, estarrecida com a reprimenda da irmã. Não esperava por isso, mas sabia que merecia.
- Você devia ter me ligado assim que saiu da terapia! Quando vai entender que sempre pode contar comigo? Você não precisa passar por tudo sozinha, Bel!
Seus olhos brilharam e ela se jogou nos braços da irmã. Não ia suportar se Carolina também a julgasse. Já bastava a sua consciência fazendo um trabalho inclemente.
- E você não é insensível, um monstro ou qualquer outra coisa parecida por ter ido ao restaurante ontem. - A suavidade na voz dela ia acalmando Isabel. - Você precisava por um ponto final no passado. Desde a morte de Gabriel que você não ia lá. Nunca mais tinha visto o lugar e é natural que tenha ficado abalada com a sua decadência. Você lutou tanto para construir aquilo, minha irmã! É claro que ia doer vê-lo daquele jeito!
- Mas... - Isabel não resistia à vontade de argumentar. Não conseguia aceitar que não havia errado. A culpa já estava enraizada em seu ser.
- Não faça isso com você, minha irmã. Pare de se martirizar! O que aconteceu com Gabriel não foi sua culpa. Você não era uma mãe ruim ou o amava menos porque queria investir na sua carreira e nem deixou de sentir a falta dele só porque foi ao restaurante ontem.
Queria poder acreditar as palavras de Carolina. Queria se libertar de toda aquela angústia, que só crescia a cada dia, mas era tão difícil...
- Está na hora de seguir em frente, Bel. Você já caiu tudo o que podia. Só existe um caminho agora. Para cima.
Quando Lucas entrou no quarto, as irmãs ainda estavam abraçadas. Mesmo de onde estava, conseguia ver o semblante tranquilo da esposa e isso aplacou sua agonia
Voltou, tentando não fazer barulho, mas a porta rangeu e Isabel se virou em sua direção. Um sorriso tímido surgiu em seus lábios e ela olhou para a irmã. Carolina deu-lhe um último beijo na testa e saiu.
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Uma Segunda Chance
ChickLit#11 em feminina em 14.08.2017 Capa por Jessica Geber - JF Geber Depois de um evento traumático, Isabel tenta refazer a sua vida ao lado do seu adorável cãozinho, Pipoca. Quando estava dando os primeiros passos em sua nova vida, seu ex-marido ressurg...