Capítulo 51

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Cecília entrou no quarto correndo, sendo seguida por Pipoca. A menina se aproximou e colocou o estetoscópio de brinquedo na barriga da tia. Isabel largou o livro que estava lendo e aguardou a consulta terminar. Cecília agora era médica de pessoas, bichinhos e bebês e sempre ia ao quarto examiná-la.

— Como ele está? — perguntou, sorrindo.

— Muito bem — ela respondeu com a expressão bem séria.

— É porque ele tem a melhor médica!

Ela bagunçou os cabelos da sobrinha e a menina abriu um sorriso. Pipoca pôs as patas dianteiras em cima da cama, se colocando na frente de Cecília. Ele também queria carinho e não seria preterido.

— Onde está sua mãe?

— Ela saiu. Tava com cara de brava.

— E o seu pai?

— Tá na cozinha dizendo que a mamãe é cabeça-dura.

Isabel suspirou. Assim que Carolina chegou ontem, falou que tinha contado a Lucas sobre o bebê e a irmã ficou contrariada, mas não disse nada. Pelo menos não para ela. Logo depois, escutou ela discutindo com o cunhado, reclamando que ele tinha compactuado com aquela loucura e agora os dois estavam brigados.

Droga, não queria causar problemas a ninguém. Já estava constrangida em ter ficado com o quarto de Sofia e agora também era culpado pelos atritos de Carolina e Fernando. Mas assim que a irmã voltasse, colocaria juízo na cabeça dela e a obrigaria a fazer as pazes com o marido!

— Bel, você tem visita — Fernando entrou no quarto com Sofia no colo.

— Quem é? — perguntou, animada. Talvez fosse Miranda, ela passava ali sempre que podia.

— Elisa.

Ah, não! Com certeza, Lucas tinha contado sobre o bebê e a ex-sogra veio interceder pelo filho. Não estava com cabeça para aquele tipo de conversa, não tinha energia para ficar rebatendo os argumentos dela. Teve vontade de pedir a Fernando para dizer que estava indisposta, mas desistiu. Era melhor lidar com Elisa de uma vez.

Fernando levou as filhas para tomar banho e Isabel foi para sala com Pipoca nos calcanhares. Encontrou a ex-sogra examinando o varal de fotos de Carolina com um sorriso nos lábios.

— Suas sobrinhas são lindas — ela comentou quando a viu.

Isabel apenas assentiu, o peito cheio de orgulho e se sentou com Pipoca deitando aos seus pés.

— Se você veio me ver, então é porque Lucas já lhe contou sobre o bebê.

— Sim. — O sorriso dela aumentou. — Como você está? Está se alimentando direito? Repousando? Como está sua pressão? Quem está lhe acompanhando? Eu conheço uma médica ótima! Sua médica passou algum remédio, alguma suplementação?

— Respire, Elisa. — Isabel riu, nunca a tinha visto tão empolgada. Na gravidez de Gabriel ela tinha sido bem mais comedida. — Eu estou bem, minha pressão está se estabilizando. Fui ao nutricionista, estou seguindo à risca a dieta e não estou fazendo esforço físico, então você pode ficar tranquila. Ah, e a minha médica é a mesma que me acompanhou da outra vez e ela também é ótima!

Elisa foi até a poltrona, pegou uma bolsa com o logotipo de uma loja de artigos de bebê e lhe entregou. Isabel pegou o presente e, em meio às folhas de papel seda azul, havia um pequeno body branco, estampado com algumas bocas vermelhas e a frase ataque da vovó.

— Eu adorei, Elisa! É lindo!

Ela se sentou ao lado de Isabel e perguntou:

— Você vai ficar aqui até o bebê nascer?

— Sim — respondeu, preparando o espírito.

— Que bom! Fiquei com medo de que você resolvesse se mudar e não queria que ficasse sozinha.

Isabel arregalou os olhos, sem conseguir conter o espanto.

— Se você estivesse pensando em sair daqui, ia chamá-la para ficar na minha casa para que eu pudesse cuidar de vocês.

Isabel conteve o sorriso. Se Carolina ouvisse isso, teria um ataque, ela já estava até estudando o melhor lugar para colocar o berço do sobrinho! Mas ficou feliz com aquele convite, jamais esperaria que Elisa fizesse algo assim.

— Obrigada! — Aquele gesto lhe tocou muito.

Elisa pegou sua mão entre as dela e Isabel se inquietou. Queria que a ex-sogra falasse logo de uma vez, aquele suspense estava lhe matando.

— Eu queria lhe agradecer por ter contado a ele sobre o bebê. — E mais uma surpresa! — Ele ficou muito arrasado achando que você tinha perdido a criança, ainda mais da forma como tudo aconteceu.

Ela parou e baixou os olhos.

— Você tinha razão, Isabel. Eu devia ter contado antes.

— Nós, Elisa. Eu também me acovardei.

Tinha insistido naquela mentira e o fim não podia ter sido mais desastroso.

— Eu já vou, você precisa descansar. Mas antes de ir, queria pedir uma coisa. Posso visitá-la de vez em quando? Queria ver como vocês estão e também trazer muitos mimos para o meu netinho! — Ela ia pousar a mão na barriga de Isabel, mas parou no meio do caminho.

— Claro que pode! — Pegou a mão dela e venceu a distância até o seu ventre.

Elisa sorriu e fez mais uma série de recomendações para Isabel antes de partir, prometendo voltar na próxima semana.

Mesmo depois que a ex-sogra saiu, continuou no sofá, pensando naquele encontro inusitado. Pelo visto, as visitas de Elisa nunca deixariam  de surpreendê-la.

Foi tirada dos seus devaneios pelo barulho da porta sendo fechada, e antes que Carolina passasse para o quarto, Isabel a chamou.

— Ei, mocinha, pode vir aqui!

A irmã voltou desconfiada e sentou-se no local de Isabel indicava.

— Quanto tempo você ainda pretende continuar com essa cara? — Carolina não suavizou a expressão e Isabel continuou: — Se vai ficar com raiva de alguém, fique de mim e não do seu marido. Nando não tem nada a ver com a minha decisão.

— Você escutou a nossa discussão? — Carolina ficou vermelha.

— Meu quarto é ao lado do seu e você não é muito silenciosa quando está contrariada.

— Ele não devia ter deixado Lucas entrar.

Eu liguei para Lucas, Carol. Eu decidi contar. — O cunhado tinha razão, ela era mesmo cabeça dura. — Fernando estava certo, Lucas precisava saber.

Ela revirou os olhos e mordeu os lábios, um gesto que Isabel conhecia bem. Carolina sempre fazia isso quando perdia uma discussão.

— Tem certeza que ele não pode tomar o bebê?

— Sim, eu já providenciei uma advogada para evitar que isso aconteça. Não se preocupe.

— Está chateada por que eu menti?

— Não, você se parece comigo. Nós não tomamos as melhores decisões quando estamos com raiva.

— Eu só queria proteger você e o bebê.

— Eu sei e fico feliz que meu filho tenha alguém tão briguenta para protegê-lo. — A irmã sorriu e ela continuou: — Agora, vá acertar as coisas com o seu marido.

Carolina seguiu seu conselho e não demorou muito para as meninas entrarem correndo na sala e os dois aparecerem de mãos dadas. Isabel assentiu, vendo que a harmonia tinha voltado e concentrou-se em Cecília, que repetia a história que a professora lhe contou pela terceira vez naquele dia.

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