Capítulo 22

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Sozinha, ela encolheu-se na cama e respirou fundo, tentando acalmar o coração, que batia acelerado.

Ela não queria ver médico algum, não queria conversar com ninguém, não queria reviver o que tinha acontecido ou analisar os seus sentimentos. Ela só queria ficar em paz! Tinham lhe dito que com o tempo ela conseguiria lidar melhor com a perda, então era disso que precisava: tempo. Não sabia de quanto, mas sabia que só isso lhe bastava!

Escutou Pipoca arranhando a porta para entrar e abriu para ele, que pulou na cama. Voltou a deitar-se e puxou a coberta, decidida a conciliar o sono.

Mas, como ela suspeitava, ele não veio. Sua mente estava tão acostumada a dormir sob o efeito da bebida, que ela, simplesmente, não conseguia relaxar.

Determinada a evitar lembranças dolorosas, recordou sua infância, do quanto ela e a irmã eram felizes antes dos pais morrerem e do quanto ficaram unidas após o acidente, quando foram morar com uma tia. Carolina sempre fora seu porto seguro e isso não tinha mudado. Lembrou-se de que a irmã quase não aceitou o pedido de casamento de Fernando por medo de deixá-la sozinha e Isabel a repreendeu severamente. Não podia permitir que Carolina abrisse mão da felicidade dela por preocupações tolas. Afinal, já era uma adulta e sabia se virar.

Pensar nessa época a lembrou de quando conheceu Lucas e do quão rápido tinha se encantado. Ele não era apenas sexy como também parecia entendê-la como ninguém e fazia seu coração bater mais rápido só de olhá-la. Ela logo se viu apaixonada e mergulhou de cabeça na relação dos dois.

Quando ele disse que deveriam morar juntos, ela nem tinha hesitado, apesar de sua irmã achar a ideia precipitada e tentar convencê-la a encontrar uma garota para dividir o apartamento. E não tinha se arrependido, a relação deles foi ficando mais forte, eles pareciam cada vez mais apaixonados e o sexo era maravilhoso - Lucas era um amante generoso, lembrou, sentindo o corpo se acender.

Ao lado dele, ela sentia-se não apenas feliz, mas capaz de conquistar o mundo. Lucas acreditava nela e em seus sonhos e isso lhe dava forças para ir cada vez mais longe e alçar voos ainda mais altos, pensou, sentindo os olhos lacrimejarem. Tinha saudades daquele tempo, tudo era tão simples!

Ou pelo menos ela achava que era, pensou, lembrando o quanto ele tinha mudado depois do casamento. Primeiro, fora uma mudança sutil, pequenas sugestões de que não havia necessidade de ela trabalhar, que o que ele ganhava era mais do que suficiente para que eles vivessem no conforto e que adoraria que ela passasse mais tempo em casa com ele.

Isabel não sabia muito bem como reagir a esta situação e explicava - mesmo achando que não era necessário - que não trabalhava porque eles precisavam, mas porque gostava. Cozinhar fazia parte dela, era seu sonho desde muito pequena, quando brincava de restaurante com Carolina, e ele sempre soubera disso e, aparentemente, a apoiava. Ela não ia simplesmente largar sua carreira porque tinham se casado, as duas coisas não eram inconciliáveis.

Ele parecia entender, mas depois voltava com a mesma conversa, o que sempre a cansava. Eram sempre as mesmas reclamações, as mesmas cobranças veladas e ela já estava farta de se justificar.

Quando finalmente conseguiu o capital necessário para abrir o seu negócio, ela precisou trabalhar ainda mais para fazer tudo correr do jeito que queria e ele, ao invés de apoiá-la, passou a enchê-la ainda mais de exigências, lembrou, desgostosa.

Ela, então, começou a repensar a relação deles e a pesar se valia realmente a pena ficar com alguém que queria tolhê-la. Ainda o amava, só que não dava mais para viver daquele jeito. Precisava de alguém que estivesse ao seu lado e não contra ela.

Estava prestes a sair de casa quando descobriu que estava grávida e, com isso, tudo mudou. Resolveu dar uma última chance aos dois e, por um tempo, as coisas realmente ficaram boas. Lucas tinha ficado radiante com a ideia de ser pai e a cercava de mimos e cuidados e quando Gabriel nasceu, ele transformara a vida dos dois.

Ah, se as coisas tivessem ficado assim, lamentou, sentindo o peito apertar, a respiração tornando-se difícil. Se ela não tivesse estragado tudo, se tivesse feito as coisas do jeito de Lucas... Gabriel ainda estaria ali, eles ainda seriam uma família e viveriam felizes!, pensou, sufocando um soluço, enquanto as lágrimas rolavam-lhe pela face.

Não gostava de pensar em como as coisas poderiam ter sido diferentes. Era muito perigoso, pois corria o risco de ficar presa no labirinto de possibilidades do que poderia ter feito de outro jeito, mas, às vezes, ela não conseguia evitar e se via pensando em como poderia ter impedido aquela tragédia.

Cansada de ficar se remexendo na cama, ela se levantou sem fazer barulho e saiu do quarto. O apartamento estava silencioso e o relógio marcava duas horas da manhã. Desistindo de dormir, ela abriu a porta da varanda e sentou-se em uma das cadeiras de jardim.

Estava frio, mas ela não se incomodou. Lá fora, a cidade dormia, e um mar de prédios se estendia a sua frente. Podia ouvir o barulho de um ou outro carro lá embaixo, mas fora isso, a noite estava silenciosa.

Ela colocou os pés na cadeira, abraçou os joelhos e ficou olhando o céu escuro, quase sem nenhuma estrela. Aos poucos, foi se acalmando e, quando já estava amanhecendo, ela finalmente conseguiu cochilar.

























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