Epílogo

3.5K 515 316
                                    


Era um domingo de sol, um dia bonito. Isabel usava um vestido florido de alças finas e carregava um grande ramalhete de flores. Com a outra mão, ela segurava a guia de Pipoca que estava ali depois de ter conseguido impor a sua presença no carro — agora quando o cãozinho entrava no veículo, ninguém mais o fazia sair. Lucas caminhava ao seu lado, com Helena no colo, que segurava uma margarida nas mãos e, vez ou outra, acertava o rosto do pai com a flor, para depois olhar para ele com um sorriso delicioso.

Agora eles moravam na casa de Isabel, os dois tinham decidido que era melhor para a filha crescer ali, perto das primas e Pipoca também precisava de espaço. Já fazia três meses que ele tinha ido viver com as duas mulheres da sua vida e cada dia era melhor do que o outro.

Agora eles dividiam tudo, cada minuto de alegria e tristeza. A reforma do restaurante estava começando e Isabel resolvia os detalhes, mas sem a mesma correria de antes e não apenas porque ele estava ao seu lado. Agora a esposa tinha uma aliada de peso, que adorava preencher espaços vazios tanto quanto ela. Quando não ficava com a neta, Elisa estava com a nora, discutindo opções para deixar o restaurante charmoso e aconchegante. Lucas observava as duas conversando e pensava nas voltas que o mundo dava.

Helena se remexeu no seu colo, trazendo-o de volta à realidade e fazendo-o pensar que a sua alegria e a energia de Pipoca seriam fundamentais para que eles atravessassem aquele momento tão difícil. Tinham adiado aquela visita por um bom tempo, mas Isabel disse que havia chegado a hora e Lucas concordava com ela. Estava na hora de os dois visitarem o túmulo do filho. Juntos.

O cemitério estava vazio, felizmente, e o funcionário olhou para aquela família que entrava com uma garotinha e um cachorro, mas não disse nada, percebendo os olhos marejados dos dois.

Quando eles chegaram ao túmulo do filho, Lucas colocou Helena no chão e a pequena deu três passinhos vacilantes e caiu, sentada, na grama. Ela já andava e havia um vídeo que já tinha sido compartilhado à exaustão com a primeira caminhada dela e os pais chorando, rindo e gritando. Guilherme sempre caçoava dele quando falavam desse vídeo, dizendo que ele estava cada dia mais abobalhado, mas o amigo não ficava atrás quando via a afilhada. Ele e Miranda amavam a pequena e tinham sido a escolha natural para serem seus padrinhos, já que Carolina e Fernando tinham sido os de Gabriel.

Ao pensar na cunhada, ficou feliz ao lembrar que finalmente os dois estavam em paz. Carolina enfim tinha acreditado nas suas intenções e já o aceitava na vida de Isabel, mas ele ainda recordava bem a promessa que ela lhe fizera, quando foi pedir a ajuda dela para arrumar o restaurante. Se ele machucasse Isabel, ela o castrava com um alicate de cutículas e Fernando completou, dizendo que desta vez não seguraria a esposa!

Mas ele não precisava de incentivo para lembrar de fazê-la feliz. Era isso que o motivava todos os dias: amar a sua esposa e a sua filhinha, a família linda que tinha lhe dado uma outra chance.

Isabel soltou a guia de Pipoca e ele correu para Helena, que agitava os bracinhos, chamando por ele. O animalzinho tocou o rosto da garotinha com o seu focinho gelado e ela puxou os seus pelos, rindo alto.

Lucas observava a cena, mas estava perfeitamente consciente da esposa, que tremia ao seu lado e já tinha desistido de segurar o choro, assim como ele.

— Oi, meu amor — ela falou, baixinho, tocando a lápide fria de mármore.

A dor na voz dela fez o seu coração se quebrar de mil jeitos diferentes e ele a abraçou forte. Isabel mergulhou o rosto no peito dele e soltou um gemido estrangulado. Sabia que ela queria gritar, mas temia assustar Helenas de novo. Uma vez, a esposa não tinha conseguido se conter e a garotinha ficou angustiada com o desespero da mãe.

Acariciou as costas dela com suavidade, tentando lhe dar força, embora não tivesse muita. Era assim que eles viviam agora. Um ajudando o outro, um levantado o outro. Tinha dias que era Isabel quem ensopava sua camisa e se agarrava a ele, outras vezes era ele quem deitava a cabeça no colo dela e pedia para o seu garotinho voltar. Todas as vezes, eles acabam indo ver a filha, para lembrar do porque precisavam ser fortes. Ela não era um substituto para o irmão, o espaço que Gabriel deixou jamais seria preenchido. Mas a sua garotinha era um presente único, um raio de esperança na vida dos pais, o sol que iluminava todos os seus dias.

Isabel passou os braços pela sua cintura e também acarinhou suas costas. Estreitou-a ainda mais em seus braços, tocado com a sensibilidade dela. Mesmo sangrando, a esposa lembrava que estar ali também era difícil para ele e tentava confortá-lo.

O carinho dela lhe lembrou um momento especial, que ele guardava com todo o carinho. O natal estava chegando e sua empolgação paterna cresceu. Quis se vestir de Papai Noel outra vez, mas a lembrança do filho o travou, queria passar esse momento com Helena, mas achava que não conseguiria suportar a dor que aquele gesto traria. Ele passou quase o mês inteiro neste dilema, mas não chegou a falar com ninguém, nem mesmo na terapia — às vezes, ainda era difícil se abrir.

E quando chegou a véspera de natal, a fantasia de Papai Noel estava em cima da cama deles e Lucas olhou para esposa, confuso. Isabel lhe disse que elas o estavam esperando na sala, e que ele não esquecesse os presentes, que estavam em cima do guarda-roupa. Ele confessou que não conseguiria, então a esposa o abraçou e lhe disse que ela estava lá e que eles passariam por aquele momento juntos. Lucas, então, se encheu com a coragem dela, vestiu a roupa e venceu seu medo. E ainda hoje ele podia sentir os bracinhos rechonchudos de Helena em seu pescoço e sua alegria em brincar com todas as caixas que ela tinha ganhado.

— Eu sinto falta dele, Lucas — ela falou, afundando ainda mais o rosto no peito dele.

— Eu também. — Todos os dias.

— Ele está bem, não está?

— Sim, Bel, ele está. — Eles precisavam acreditar nisso para seguir em frente. — Onde quer que ele esteja, Gabriel está bem.

Ele com certeza estava bem e orgulhoso dos pais que, finalmente, tinham conseguido se reencontrar. Lucas olhou para filha que tinha se levantado, apenas para ser derrubada por Pipoca e balbuciar contrariada para o cachorrinho e sorriu. Apertou ainda mais a esposa em seus braços e mais uma vez ali, no túmulo do filho, ele jurou amar, cuidar e proteger a sua família. Seu bem mais precioso.

Então é isso, pessoal! Este é o final e me desculpe pelos erros que com certeza existem, mas eu estava muito ansiosa para que vocês  chegassem a este momento e postei logo, sem revisar, porque a minha vista está embaçada pelas lágrimas. Lágrimas de tristeza pela cena, pela realização de ver esses dois finalmente juntos, no lugar que eu tinha planejado para eles, de saudade porque agora eu vou ter que me despedir do meu casal lindo. Mas também são lágrimas de alegria por ter conseguido terminar este projeto e também de gratidão a todos que torceram não apenas pela Bel e o Lucas, mas também pelo meu trabalho! Muito obrigada!!!

Eu vou deixar a história aberta ainda porque quero escrever um capítulo todo especial de agradecimento, assim que eu parar de chorar!!! Beijos!

Uma Segunda Chance Onde histórias criam vida. Descubra agora