Capítulo 9

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A garçonete veio lhe entregar o pedido e ele começou a comer, sem muito apetite. Sua cabeça latejava e tudo que queria naquele momento era deitar e descansar, mas sabia que não conseguiria. Sua mente estava fervilhando, tentando achar uma lógica em tudo o que estava acontecendo.

Quanto mais pensava na ideia de Isabel tê-lo traído, mais lhe parecia impossível! Para começar, a simples ideia dos dois terem se separado já era absurda, no entanto, era verdade, então já não sabia mais o que pensar. Sua mente, naquele momento, não era confiável.

Quando acordou no hospital e descobriu que tinha perdido parte de suas memórias, ficou muito frustrado, mas não imaginou que sua vida estaria tão transformada. Claro que esperava mudanças, mas nada tão drástico quanto o fim do seu casamento!

Lembrou-se da agonia que sentiu quando voltou a si e não a viu. Pensou que ela também estava envolvida no acidente e temeu pelo pior, por isso tinha ficado tão angustiado com as mentiras de sua mãe. Achou que Isabel tinha morrido e por isso sua mãe estava tão reticente. No fim, quando conseguiu fazer Elisa falar a verdade, chegou a se sentir aliviado porque, apesar de tudo, a esposa estava bem.

Passado o choque, ainda tentava digerir a separação deles. Era muito difícil, porque, embora tudo tivesse mudado, ainda se sentia o mesmo. Isabel podia odiá-lo agora, mas o que sentia por ela não tinha mudado.

Lembrou-se de quando tinham se conhecido. Ele tinha viajado para o litoral, para o casamento de um amigo de infância, e Isabel era a responsável pelo buffet do evento. Assim que a viu, se sentiu atraído e passou a festa inteira esperando uma oportunidade para falar com ela. Depois que a recepção acabou e quando a equipe do buffet estava se organizando para partir, finalmente conseguiu conversar com ela e a convidou para sair, o que foi aceito prontamente.

Foram a um pequeno restaurante italiano perto da casa dela e conversaram durante horas.  Isabel lhe falou que era órfã desde os doze anos e morava com a irmã mais velha, Carolina, que estava prestes a se casar. Tinha acabado de ser formar em gastronomia e trabalhava em uma empresa de festas, mas sonhava em ser uma grande chef e ter seu próprio restaurante. Ouvia tudo, fascinado com sua personalidade e a vivacidade que irradiava dela. Também falou sobre si; contou-lhe que era advogado e durante um bom tempo tinha trabalhado em uma grande firma e havia saído saíra recentemente para abrir seu próprio escritório. Falou, ainda, de sua mãe, que o criou sozinha depois da morte do seu pai, quando ele tinha oito anos.

Continuaram a se ver e a conversar todos os dias e, quando menos perceberam, estavam apaixonados. Com o casamento de Carolina, acabaram indo morar juntos e logo ficaram noivos. Tudo estava acontecendo tão depressa, mas nunca algo lhe pareceu tão certo. Eles se amavam, nada mais natural que ficassem juntos.

O casamento demorou um pouco mais porque, neste meio tempo, o escritório dele começou a crescer e Isabel conseguiu um emprego em um restaurante renomado. Foi difícil conciliar tudo, mas eles conseguiram.

Um pouco depois, quando já estavam casados, Isabel começou a se organizar para abrir o seu restaurante e ele se lembrava de que aquele período foi bem estressante porque o projeto a consumia bastante. Eles se desentenderam um pouco, mas contornaram a situação.

Lembrava que ela conseguiu inaugurá-lo. Era um local pequeno, mas charmoso, especializado na culinária mediterrânea e Isabel não poderia estar mais orgulhosa do resultado. Ela planejou tudo nos mínimos detalhes e trabalhou duro para que tudo saísse perfeito e ele estava feliz pelo sucesso da esposa.

Pronto, era até ali que sua memória ia, o resto era um branco total, reconheceu, frustrado.

Não sabia o que aconteceu com eles, nem o que a tinha feito desistir do seu sonho, mas sentia que estava tudo ligado. Ao contrário do que ela havia dito, tudo tinha a ver com ele, infelizmente. Seja lá o que tivesse acontecido, foi a causa do fim do casamento dos dois e também do estado deplorável em que Isabel se encontrava agora.

Ela estava tão diferente... Parecia tão perdida, tão desamparada! Era como se a vida tivesse se esvaído dela e só houvesse  sobrado a casca vazia... Onde estava a pessoa por quem tinha se apaixonado?

— Senhor — a garçonete o chamou, timidamente. — O senhor deseja mais alguma coisa?

Desperto de suas divagações, percebeu que era tarde e, pelo olhar ansioso da garçonete, o estabelecimento já deveria ter fechado. Desconcertado, ele perguntou onde poderia encontrar um lugar para passar a noite, pediu a conta, deixou uma generosa gorjeta e saiu.

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