Falei com Jane para Ziggy vir brincar aqui semana que vem. — Madeline ligou para
Celeste assim que terminou de conversar com Jane. — Acho que você e os meninos
também deviam vir. Para o caso de ficarmos sem assunto.
— Certo — disse Celeste. — Muito obrigada. Um convite para brincar com o garotinho
que...
— Sim, sim — interrompeu Madeline. — O pequeno estrangulador. Mas, você sabe,
nossos filhos não são exatamente florzinhas delicadas.
— Na verdade, esbarrei com a mãe da vítima ontem quando estávamos comprando os
uniformes dos meninos — contou Celeste. — Renata. Ela está dizendo à filha para evitar
Ziggy e sugeriu que eu dissesse o mesmo aos meninos.
A mão de Madeline apertou o telefone.
— Ela não tinha o direito de lhe dizer isso!
— Acho que só estava preocupada...
— Não se pode botar uma criança na lista negra quando ela ainda nem sequer entrou na
escola!
— Bem, não sei, meio que dá para entender, do ponto de vista dela. Quer dizer, se isso
acontecesse com Chloe, quer dizer, acho...
Madeline apertou o telefone na orelha enquanto a voz de Celeste sumia. Desde que a
conhecera, a amiga tinha esse hábito. Em um segundo, estava conversando normalmente, então,
de repente, ia para o mundo da lua.
Foi assim que elas se conheceram para início de conversa, porque Celeste estivera
sonhando acordada. As crianças faziam aula de natação juntas. Chloe e os gêmeos estavam em
uma pequena plataforma na beira da piscina enquanto a professora levava cada aluno para dar
uma volta, treinando nadar cachorrinho e boiar. Madeline notara a mãe deslumbrante
observando a aula, mas elas nunca se deram o trabalho de falar uma com a outra. Madeline
normalmente estava ocupada vigiando Fred, que tinha quatro anos na época e era terrível.
Naquele dia específico, o filho estava entretido com um sorvete, e Madeline observava Chloe
dar a sua volta boiando como uma estrela-do-mar quando viu que só tinha um dos gêmeos em
pé na plataforma.
“Ei!”, gritou Madeline para a professora. “Ei!”
Ela procurou a linda mãe. A mulher estava um pouco afastada, com o olhar perdido.
“O seu filhinho!”, gritou ela.
As pessoas se viraram para olhá-la em câmera lenta. O supervisor da piscina não estava à
vista.
“Porra”, disse Madeline, e pulou na água, completamente vestida, de salto agulha e tudo, e puxou Max do fundo da piscina, que tossia e cuspia água.
Madeline gritara com todo mundo ao redor, enquanto Celeste abraçava seus dois meninos,
chorando, agradecida. A escola de natação se desmanchara em pedidos de desculpas ao
mesmo tempo em que respondia com evasivas chocantes. Disseram que a criança não correra
perigo, mas sentiam muito que a impressão passada fosse essa e com certeza iriam rever seus
procedimentos.
Ambas tiraram os filhos da escola de natação, e Celeste, que era ex-advogada, escreveu-
lhes uma carta exigindo uma indenização pelos sapatos estragados de Madeline, seu vestido
que só podia ser lavado a seco e, claro, o reembolso de todas as mensalidades delas.
Foi assim que se tornaram amigas. E Madeline entendeu quando Celeste a apresentou a
Perry e ficou claro que só havia contado a ele que tinham se conhecido por causa das aulas de
natação. Nem sempre era necessário contar a história toda ao marido.
Madeline mudou de assunto.
— Perry já foi para sabe-se-lá-aonde-ele-vai-dessa-vez? — perguntou.
A voz de Celeste de repente ficou clara e nítida de novo.
— Viena. Sim. Ele vai passar três semanas fora.
— Já está com saudades dele? — perguntou Madeline. Que piada.
Houve uma pausa.
— Celeste? — chamou Madeline.
— Eu gosto de jantar torrada — disse ela.
— Ah, sim, eu como iogurte e biscoitos de chocolate no jantar sempre que Ed viaja —
contou Madeline. — Nossa, por que estou com uma cara tão cansada?
Ela estava sentada na cama do escritório/quarto de hóspedes onde sempre dobrava a roupa
lavada, e acabara de vislumbrar o próprio reflexo no espelho do armário. Levantou-se da
cama e foi até o espelho, com o telefone ainda na orelha.
— Talvez porque você esteja cansada — sugeriu Celeste.
Madeline pressionou a ponta do dedo embaixo do olho.
— Tive uma ótima noite de sono! — disse ela. — Todo dia eu penso: “Nossa, estou com
uma cara meio cansada hoje”, e só há pouco tempo me ocorreu que não é que eu esteja
cansada, é que essa é a minha cara agora.
— Pepino? Não é isso que você usa para diminuir o inchaço? — perguntou Celeste,
despreocupada.
Madeline sabia que Celeste não tinha o mínimo interesse em uma grande parte da vida que
ela adorava: roupas, cuidados com a pele, maquiagem, perfumes, joias, acessórios. Às vezes,
Madeline via a amiga com aquele cabelo louro-acobreado preso de qualquer jeito e desejava
agarrá-la e brincar com ela como se fosse uma das Barbies de Chloe.
— Estou lamentando a perda da minha juventude — disse ela a Celeste.
A amiga bufou.
— Sei que eu não era tão bonita assim para início de conversa...
— Você continua bonita — elogiou Celeste.
Madeline fez uma careta para seu reflexo no espelho e virou de costas. Ela não queria
admitir, nem para si mesma, quanto o envelhecimento de seu rosto realmente a deprimia.
Queria ser superior a tais preocupações superficiais. Queria estar deprimida com a situação
do mundo, não com o enrugamento de sua pele. Toda vez que via provas do envelhecimento
natural de seu corpo, era tomada por uma vergonha irracional, como se não estivesse se
esforçando o suficiente. Enquanto isso, Ed se tornava mais sensual a cada ano que passava,
conforme as rugas em volta de seus olhos se acentuavam e seu cabelo ficava grisalho.
Ela tornou a se sentar na cama de hóspedes e começou a dobrar roupas.
— Bonnie veio buscar Abigail hoje — contou a Celeste. — Ela surgiu na porta e parecia,
sei lá, uma sueca catadora de frutas, com aquele lenço xadrez vermelho e branco na cabeça,
e Abigail saiu correndo de casa. Ela correu. Como se não pudesse esperar para fugir da bruxa
velha da mãe dela.
— Ah — disse Celeste. — Agora eu entendi.
— Às vezes, tenho a sensação de estar perdendo Abigail. Sinto que ela vai se afastando, e
quero agarrá-la e dizer: “Abigail, ele também deixou você. Ele abandonou nós duas.” Mas
tenho que ser adulta. E o incrível é que acho que ela é realmente mais feliz quando está com a
família idiota deles, meditando e comendo grão-de-bico.
— Com certeza não — retrucou Celeste.
— Eu sei, não é? Odeio grão-de-bico.
— É mesmo? Eu até gosto de grão-de-bico. Faz bem à saúde.
— Cale a boca. Então você vai trazer os meninos para brincarem aqui com Ziggy? Tenho a
sensação de que aquela coitada da Jane vai precisar de amigas esse ano. Vamos ser amigas e
tomar conta dela.
— Claro, nós vamos aí — disse Celeste. — Vou levar grão-de-bico.
___________
Sra. Lipmann: Não. A escola não teve uma noite de concurso de perguntas que terminasse em
carnificina antes. Acho essa pergunta ofensiva e provocadora.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Big Little Lies
RandomBig Little Lies conta a história de três mães que se aproximam quando seus filhos passam a estudar juntos no jardim de infância. Até então, elas levam vidas aparentemente perfeitas, mas os acontecimentos que se desenrolam levam as três a extremos co...