- Está vendo aquele prédio? - perguntou Dirceu. - ali era a casa grande.
Empolgada com a descrição de Dirceu, Lilia chegou a imaginar o casarão mergulhado no Verde, tendo, por fundo, os montes azulados.
- Lá, em companhia das tias, Catarina Leonor e Teresa Matilde e dos tios Bernardo ferrão, um advogado fechado, e João Carlos, militar ajudante do governador, vivia a filha do capitão Baltasar Mayrink: Maria dorotéa Joaquina de Seixas...
- A Marília do Dirceu? - peeguntou Lilia.
- sim. De sua casa, o poeta Gonzaga podia avistar a casa grande aqui embaixo. Olhe para o alto da cidade: não vê direitinho a casa do poeta?
Lília fez que sim.
- Ali, da escola normal, não dá para se ver a casa do poeta, mas do clube 15 dá. Então, o mais provável é que a casa de Marília ficasse lá, onde hoje é o clube.
O vento agitou os cabelos de Lilia. Estava emocionada por conhecer os segredos de outra adolescente de sua idade que, quase duzentos anos atrás, havia se apaixonado por um poeta.
- Por que dorotéa vivia com os tios e não com os pais? - perguntou Lilia.
- Porque o pai, o capitão Baltasar, tinha se casado pela segunda vez, agora com dona Maria Madalena. A primeira mulher, a mãe do dorotéa, havia morrido quando a filha estava com oito anos.
- Dorotéa era filha única?
- Não. Tinha mais quatro irmãos: Ana, Emerenciana e dois meninos menores: João Carlos e Francisco.
- Qual era a profissão do pai dela?
- Capitão, já disse. O velho capitão Baltasar ocupava o cargo de Capitão da cavalaria, auxiliar da nobreza de Vila Rica. Mas, chega de histórias - disse o rapaz. - venha, vamos atravessar a Ponte de Marília. Faça um pedido. Dizem que, se alguém que a atravessa pela primeira vez fizer um pedido, Marília e Dirceu, os amantes de Ouro Preto atendem!
Diante daquelas palavras, Lilia olhou firme para o rapaz e fez o pedido. Embora o tivesse feito com o coração apenas, percebeu que ele havia adivinhado.
Em silêncio, atravessaram a ponte. Na outra extremidade havia uma grande pedra.- sente-se - pediu Dirceu.
Ela obedeceu. Dirceu desceu até os lírios abertos entre as folhas, tendo colhido um buquê de flores, ele voltou e entregou-as a Lilia. Como eram cheirosas!
Feito isso de surpresa, Dirceu colocou-lhe na cabeça uma coroa de lírios entrelaçados. Em seguida, tirando do bolso uma flauta de madeira, começou a tocar.
E ficaram assim, a tarde toda... Dirceu tocava alguma melodia, e Lília o acompanhava..
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A ladeira da saudade
Teen Fictioneste livro é para todos os jovens, de corpo ou de espírito - que ainda acreditam que o romantismo é a maior riqueza da alma..