☆Capítulo 1☆

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Por Katniss

O relógio alcança a marca das onze horas da manhã e um sinal sonoro invade a sala de aula.

- Bom fim de semana, crianças! - Eu me despeço dos alunos.

Ainda me emociono por trabalhar no colégio onde estudei. Eu tinha vinte e um anos quando comecei, dando aulas para os veteranos.

Alguns colegas me disseram que eu era muito nova para ser professora da escola secundária. No entanto, descobri que não é uma questão de idade, mas principalmente de como se age. Eu e os alunos temos um ótimo relacionamento, apenas me certifico de estabelecer limites, e isso vale para professores de qualquer faixa etária.

Aprendi que o modo como você se veste também é um fator importante. É interessante usar roupas mais formais, mesmo que o código de vestimenta na escola seja casual.

Antes do primeiro dia de aula, a sempre surpreendente diretora Johanna Mason sugeriu soltar uma barata na sala para eu esmagá-la sem piedade. Não sei como ela colocaria isso em prática, mas dispensei a oferta de ilustrar com tanta veemência o que eu, a professora nova, seria capaz de fazer se os alunos me tirassem do sério. Ela também lançou a ideia de que é fundamental andar com saltos que clicam no chão de modo irritante. Pode parecer loucura, mas essa dica acrescenta um último e necessário toque de autoridade.

Johanna sabe das coisas, tanto é que consegue ser adorada e, ao mesmo tempo, respeitada pelos estudantes, mas logo abandonei os saltos e os cliques, pois eles me irritam também.

Todo esse cuidado, porém, não me livrou de ser convidada para o baile de formatura algumas vezes por alguns alunos veteranos. Então, para dispensar meus admiradores nada secretos, tive que usar como desculpa a minha relação com Gale.

Gale Hawthorne. O vizinho da frente, com quem cresci e tive uma infância humilde, mas feliz. Ele é apenas dois anos mais velho que eu e sempre fomos muito próximos.

Foi também ao lado dele que amadureci a duras penas. Nossa amizade se transformou numa verdadeira aliança, quando meu pai e o pai dele morreram num acidente de trabalho.

Talvez por isso eu tenha algumas vezes imaginado que Gale era meu e eu, dele. Eu pensava que, dentre todos os rapazes disponíveis, eu e Gale é que fazíamos sentido juntos. Nós compartilhamos o mesmo passado e entendemos o que é sobreviver na Costura, sendo órfãos de pai.

No entanto, nossa relação nunca caminhou nesse sentido e ele, inclusive, namorou outras garotas na adolescência.

Até que, aos dezoito anos, Gale se alistou no exército americano. Lembro-me do dia em que partiu para sua primeira missão no exterior, luzindo inacreditavelmente bonito de farda.

Na despedida, aquele que eu considerava um bom amigo me surpreendeu ao dizer adeus com um beijo apaixonado.

Não sabia o que deveria sentir, mas não foi como imaginei meu primeiro beijo, apesar de ter sido bom. Também não sabia o que deveria dizer, então confirmei o pedido que Gale me fez de esperar por ele.

Mesmo sem estar certa de que estava apaixonada, eu me mantive fiel à promessa. Essa incerteza, no entanto, era muito conveniente pra mim, pois minha mãe me fez conhecer os efeitos de amar alguém e perdê-lo tragicamente, quando entrou num estado letárgico de sofrimento após a morte do meu pai.

Gale e eu costumávamos nos falar toda semana por chamada de vídeo ou por telefone.

Eu sempre dependia que ele se comunicasse comigo e entendia quando não era possível.

Sem o contato físico, nosso relacionamento não mudou muito e, estranhamente, sentia-me aliviada por ele estar longe, mas apenas por esse motivo, pois tinha saudade da nossa convivência diária.

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