Capítulo 1 - Uma Boa Ação

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🐾 Dias Atuais 🐾

— Ah, fala sério, Liza!

— É sério, Alice! Estou dizendo! Eu realmente me apaixonei dessa vez e ele é...

Alice se desligou da conversa assim que a amiga começou a descrever as qualidades do atual garoto por quem estava apaixonada. Esse tipo de conversa já tinha se tornado chata, considerando que a amiga se apaixonava por alguém a cada esquina.

As meninas estavam voltando de uma exaustiva manhã de aulas e caminhavam a passos calmos pelas ruas desertas do bairro nobre da cidade. As ruas eram desertas porque os moradores dali só andavam com seus carrões importados.

Liza era uma das garotas que vivia nesse bairro, seu pai era um dentista renomado e sua mãe, uma excelente advogada.

Alice, por outro lado, morava logo depois das enormes casas luxuosas, num pequeno bairro de classe média. Seu pai tentava se manter no mercado de trabalho através da venda de imóveis e sua mãe trabalhava em casa, vendendo bolos e doces para fora.

As duas se conheceram por acaso. Alice havia conseguido uma bolsa em Saint Anna, o colégio de Freiras onde Liza estudava, e, certo dia, foram colocadas juntas para realizar um trabalho de religião.

Já fazia muitos anos que elas se conheciam. Dez, para ser mais exata. E sempre viveram as mais loucas e divertidas aventuras juntas: desde entrar escondidas no escritório da vice-diretora para ouvir sobre a conversa dela com seus pais, até se embrenhar no bosque que ficava próximo à escola para colher amoras.

Em ambas as situações foram descobertas e devidamente castigadas.

— Você não está prestando atenção!

— Ah...! Ahn... estava sim! Estava me contando sobre o tal do Fabian, não?

— É... Sim. Ele mesmo. E o que você acha que eu devo fazer? Dessa vez eu sinto que é o cara certo! – A expressão de Liza era a de uma garota sonhadora.

— Talvez deva... deixar as coisas acontecerem em seu devido tempo, Liz. – Alice respondeu com um suspiro cansado. As duas já estavam em frente à casa de Liza.

— Affs, Lice! Nem parece você mesma! Cadê seu espírito aventureiro?

— Meu espírito aventureiro não gosta de aventuras românticas. – E para completar, revirou os olhos enquanto cruzava os braços.

— Um dia ele ainda vai gostar! – Liza abraçou a amiga e correu para casa, estava quase na hora de sua série favorita começar. Ela queria muito assistir o novo episódio de Pretty Little Liars.

Alice voltou a caminhar em direção à sua casa, ainda levaria uns vinte ou trinta minutos para chegar, mas isso era bom. Ela gostava de caminhar sozinha ouvindo sua playlist favorita e observando as casas chiques do bairro onde a amiga morava.

Colocou os fones e começou a tocar sua playlist "Happy Sad Days", e ao som de Stiches - Shawn Mendes, recomeçou sua caminhada como se estivesse em um filme ou seriado. Era divertido pensar assim.

As casas eram luxuosas e muitas delas tinham cercas altas ou muros protegendo-as de assaltos ou olhares alheios. Esse bairro ainda contava com Steve, o vigia noturno, para manter seus moradores seguros. Mesmo que na verdade o vigia mais dormisse em serviço que qualquer outra coisa.

Alice estava agora ao som de Ghostbusters, a trilha sonora daquele filme antigo: Os caça-fantasmas. Era uma musiquinha meio boba, mas era bem animada. E a reconstrução do filme para a versão feminina agradou muito, tanto ela quanto Liza.

Se por acaso ou por consequência do destino, nesse exato momento passou em frente ao casarão abandonado da família Katzen. Não havia ninguém morando ali há muito tempo. A segurança era precária por ficar já às margens do bairro nobre, próximo à onde Alice morava. As únicas criaturas que viviam ali eram ratos e, por consequência, gatos.

O dia estava nublado e ameaçava chover, mas aparentemente só no final do dia. Raios cortavam o céu escuro pelas nuvens acinzentadas e Alice achou melhor apressar o passo, entretanto... algo chamou sua atenção. Nunca havia reparado direito no casarão. Já quis invadi-lo para ver como era por dentro, mas as histórias sobre ele não permitiam que o fizesse.

Os mais velhos diziam, e de fato acreditavam, que era mal-assombrado. Muitos afirmavam também que o gato preto que sempre estava ali por perto era algum tipo de espírito que protegia o velho casarão da família Katzen.

Outro raio cortou o céu.

Um arrepio correu a coluna de Alice.

Havia um par de olhos a observando de cima do muro do casarão. Eram um par de olhos verdes que pareciam brilhar sempre que os raios cortavam o céu.

Alice não tinha medo de gatos. Gostava muito deles, mas aquele gato preto a observando fez com que repensasse seus medos. Não era supersticiosa, mas a maneira como a olhava... era como se dissesse “Mantenha distância. Sou perigoso.

Engoliu em seco. Cerrou os punhos e tentou controlar a respiração. Fechou os olhos para tentar se acalmar e pingos grossos começaram a cair. A chuva chegou mais cedo do que pensou.

Abriu os olhos novamente e rapidamente voltou a andar, tentando tirar o guarda-chuva da mochila vermelha. Tropeçou em algo e caiu de barriga no chão, mas ao se levantar viu novamente o gato preto encarando-a. Havia tropeçado nele.

— D-Desculpe. – Balbuciou meio sem saber porquê sua voz tremia. Era só um gatinho indefeso.

Tirou o guarda-chuva da mochila ainda sentada na calçada e o abriu. O gato fez um pequeno movimento, assustado.

— Shhh. Tudo bem. É para você não se molhar. – Sentiu a necessidade de sorrir e se aproximou com cuidado, colocando o guarda-chuva ao lado do gatinho.

Levantou do chão e o observou atentamente. O animal não se moveu, apenas olhou do guarda-chuva para ela e vice-versa. Pareceu confuso. A chuva ficou mais forte e a garota foi obrigada a se apressar. Deu às costas ao bichano, mas não deixou de observá-lo por sobre o ombro.

O gato caminhou até o guarda-chuva e o cheirou, depois esfregou a cabeça nele e finalmente se enfiou embaixo. Ficou sentado, olhando na direção oposta à que Alice seguiu.

— Ingrato. Nem agradeceu. – Resmungou, começando a correr, embora soubesse que chegaria em casa ensopada.

 – Resmungou, começando a correr, embora soubesse que chegaria em casa ensopada

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