Capítulo 5 - Gatos Falantes?!?

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Se aquilo fosse mesmo real mais alguém teria que ouvir, mas ela estava sozinha. E agora? Como faria para provar que não estava enlouquecendo?

Chegou mais perto da janela e dessa vez conseguiu distinguir perfeitamente o que diziam. Os gatos preto e pardo tinham vozes masculinas, os outros dois, vozes femininas.

Gato Preto: — Tenho certeza de que podemos esperar mais....

Gata Branca: — Keith, não. Não dá. Precisamos de ajuda humana agora.

Gato Pardo: — Não podemos continuar com isso por muito mais tempo. A Sociedade está crescendo rápido e precisamos de mais comida e de aposentos melhores.

Gata Laranja: — Eu concordo com o Tom.

Gato Preto: — Chega! – E soltou um rosnado irritado. — Não falem mais nada.

Gata Branca: — Por quê?

Gato Preto: — Estamos sendo observados.

Alice decidiu se esconder. Por algum motivo, mesmo sem ter conseguido ouvir o que o gato preto disse por último, sentia que sua presença havia sido notada. Assim, começou a se afastar da janela tentando não fazer barulho. Olhava para trás o tempo todo, com medo de que a seguissem.

O único fone que permanecia em seu ouvido tocava Utopia, de Jeff Mills, mas assim que começou a correr a música mudou para This is Your Life, do The Killers. Seu coração batia ainda mais forte e suas veias pulsavam com sangue quente.

Olhou para trás diversas vezes, mas nada a perseguia. Então porque ainda assim sentia a sensação de que havia alguém atrás dela? Tropeçou em alguma coisa e caiu de barriga no chão. Suas coisas se espalharam pelo jardim, pois havia deixado a mochila aberta.

Sentou-se com dificuldade e deu de cara com o gato preto. Engoliu em seco. O bichano a observava com cara de poucos amigos. Será que tentaria atacá-la?

— E-Eu não quis... ouvir a conversa. – Sua voz saiu trêmula. Por que estava se entregando? Por que estava com medo? Era só um gatinho! — Desculpa. Já estou indo embora.

— Não devia entrar aqui. Esqueça tudo o que viu. – O olhar do gato era penetrante, mas tudo o que Alice conseguia pensar era “Ele realmente falou!.

— Vo-Você... você fala!

— E você não poderia ter feito afirmação mais estúpida.... – Disse lambendo uma das patas como se estivesse desinteressado.

— M-Mas... – E ficou muda novamente quando os olhos do gato tornaram a fixar-se nos dela.

Você vai esquecer de tudo. – A voz dele era grave e firme. Seu olhar parecia enfeitiçá-la.

Até que notou o pequeno medalhão pendurado na coleira do gato. Não havia reparado aquela coleira ali antes. O bichano percebeu seu olhar e soltou um som estranho de irritação.

— Parece que não funciona com ela, Keith. – A gata branca apareceu do nada ao lado de Alice e dirigiu a palavra ao gato preto. — Sabe o que isso quer dizer?

— O que não funcionou em mim? Como assim o que quer dizer? – A voz dela ainda tremia, mas os gatos não pareciam se preocupar com isso.

— Vou ajudar você a recolher suas coisas, humana. – A gata branca lançou a ela um olhar amigável e começou a pegar as coisas que se espalharam pelo chão, colocando-as na mochila de Alice.

— Obrigada. – Ela respondeu bem devagar, ainda sem acreditar no que estava vendo.

— Não deveria tocar nas coisas de um humano, Sophie. – O gato preto continuava com uma expressão de desconfiança e irritação.

— Por quê? Foi ela quem te protegeu da chuva, afinal. – Rebateu Sophie, a gata branca. — Enquanto outros apenas tentaram chutar e jogar pedras em você.

— E-Eu... – O gato pareceu desconcertado por um momento, mas logo se recuperou. — Isso não importa!

— Chutar? Jogar pedras? – Finalmente Alice havia encontrado uma brecha para entrar na conversa novamente.

— Ora, vai dizer que nunca viu um humano maltratar um gato? Principalmente humanos preconceituosos que assimilam que gatos pretos dão azar! – O olhar do gato preto parecia distante... e triste. — O que dá azar mesmo é o preconceito dessas pessoas.

— Eu concordo! Concordo com você. É ridículo que maltratem animais indefesos...!

— Já chega de papo. Obrigado pela comoção, mas você precisa ir embora. – O gato fez uma curta pausa. — E, por gentileza, não retorne mais aqui.

— M-Mas...! – A gata branca pareceu protestar, mas com um único olhar do gato preto, calou-se.

— Vá logo. Sophie já juntou suas coisas. – E indicou com a cabeça para que Alice saísse dali.

— Eu....

Esqueça tudo o que viu e ouviu aqui! – Os olhos verdes do gato pareciam brilhar e olhavam fixamente para ela.

Alice levantou-se antes que tudo aquilo ficasse ainda mais estranho. Tinha certeza de que não esqueceria aquilo tão cedo, mas também tinha a sensação de que se permanecesse ali sua sanidade mental seria seriamente abalada.

Começou a se dirigir para o bosque, mesmo que agora já tivesse perdido o ônibus. Chegaria atrasada e como explicaria isso? “Fiquei conversando com dois gatinhos no jardim de um casarão abandonado, Irmã Lucia!.

Não tinha nenhuma desculpa em mente. Nenhuma mentirinha que a ajudasse a se livrar de assinar seu nome no velho e empoeirado livro vermelho dos atrasados. Só esperava não receber nenhuma multa....

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— Então, só porque a Senhorita Martin se ausentou, a Senhorita decidiu que poderia se atrasar? – Irmã Lucia não estava de bom humor hoje. Isso era ruim.

— Eu já expliquei, Irmã Lucia. Fiquei esperando por ela e por isso me atrasei. Nós vamos juntas para o colégio todo dia. Só recebi a mensagem de que ela não iria depois de muito tempo.

E tornou a contar a mesma história pela milésima vez. Provavelmente estavam desconfiando que era mentira e fazendo-a repetir para pegá-la no pulo. Já havia perdido a primeira aula e agora estava perdendo a segunda.

— Hum. Parece que está mesmo falando a verdade.... – Irmã Lucia finalmente cedeu à mentira dela e agora talvez a deixasse ir. — Mas terá que assinar o livro.

— Ah, não...! – Resmungou sem pensar e ganhou um olhar cortante da inspetora.

— Ah, sim, Senhorita Riedel!

Assinou o maldito livro vermelho e voltou para a sala. Para seu azar era aula de álgebra e o professor não gostou nem um pouco de uma aluna chegar quase no fim da aula. Uma aula importantíssima, de acordo com ele, que cairia na prova com certeza.

Alice sentou-se em seu habitual lugar, ao lado da janela e na metade da fileira de carteiras. Mesmo que tivesse chegado a tempo, pensou ela, não teria conseguido prestar atenção. Sua mente não parava de pensar nos gatos do casarão.

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