Capítulo 11 - A Descendente de Morgana

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Já fazia um tempinho que Keith a encarava e Alice estava começando a se sentir desconfortável com essa situação. Ele havia acabado de se abrir um pouquinho para ela, mas por algum motivo tornou-se pensativo de repente e ficou parado feito uma estátua.

— Keith? – E acenou com a mão bem em frente ao rosto dele. — Você está bem?

— Ahn? Sim! – O garoto teve um pequeno sobressalto e estranhou seu comportamento aéreo, geralmente felinos eram muito atentos, mesmo em forma humana.

— Desculpa se te fiz recordar momentos ruins com minha pergunta sobre a árvore.

— Não. Está tudo bem. Eu já superei esse tipo de coisa. – E deu de ombros para demonstrar indiferença. Nesse mesmo instante o celular de Alice tocou.

— Ops! Desculpa! – Ela retirou o aparelho do bolso da calça e atendeu imediatamente. — Alô? Liza?!? Ah! Estou bem e você? Não. Não estou em casa. Se vou demorar?

Ela lançou um olhar questionador ao garoto, que confirmou com a cabeça. Ele não parecia muito feliz, estava com os braços cruzados em frente ao corpo e sua boca formava uma linha reta.

— Sim. Acho que vou demorar um pouco. Sinto muito por isso. Eu te mando mensagem mais tarde, certo? Ok. Tudo bem. Tchau. – Desligou o celular e o guardou novamente onde estava.

— Terminou?

— Sim.

— Não quero que atenda ligações ou mande mensagens quando estiver aqui. – Ele falou num tom tão sério que a fez estremecer.

— Está bem, mas posso saber por quê?

— Olha, eu não devo satisfações para tud... – Ele fez uma pausa repentina parecendo retomar a compostura. — Este é um lugar que deve ser mantido em sigilo. Quando você usa o seu aparelhinho aqui dentro está dando sua exata localização para nossos inimigos. Entendeu?

— Sim, mas...!

— Chega. O passeio acabou. Podemos voltar para dentro agora e vou apresentar você aos demais membros da Sociedade. – E mal esperou que o seguisse, saiu andando depressa como se tivesse coisas mais importantes para fazer além que ficar ali respondendo às perguntas dela.

Alice se sentiu mal. Keith não parecia gostar dela por algum motivo que desconhecia, mas achava isso completamente injusto. Não tinha sido ela quem pediu para ser escolhida. Não foi ela quem insistiu em entrar nessa loucura toda. Não foi ela quem os procurou para descobrir seu segredo.

Ela apenas fez uma boa ação... e depois passou pelo lugar errado na hora errada. Não era justo que ele a tratasse dessa maneira, como se fosse culpada por algo.

— Por que está me tratando assim? – E apressou o passo para alcançá-lo.

— Assim como? – Virou-se para ela, parando de andar. Estava com uma expressão confusa.

— Não finja que não sabe o que está fazendo! – Ela falou um pouco mais alto do que planejou.

— Ele te trata assim porque está com medo. – Uma voz feminina soou de algum lugar entre as árvores.

Keith parecia saber exatamente a quem pertencia essa voz, por isso, olhou ao redor com irritação. Alice também procurou a dona da voz, mas seus ouvidos não eram tão bons quanto os dele.

— Medo de que? Quem está aí? — Assim que Alice perguntou isso, sentiu Keith segurar seu antebraço bruscamente e começar a praticamente arrastá-la para outro lugar. — Ei...! Eii! O que está fazendo?

— Vamos voltar para dentro. Há lugares que você ainda não viu... – E foi interrompido novamente pela mesma voz de antes.

— Ela já viu tudo que tinha para ver, Keith, mas ainda não sabe da verdade. – E fez uma curta pausa. — Você precisa contar para ela.

— A verdade? Sobre o que...?

— Cale a boca, Alina! Você não sabe do que está falando! Vá fazer algo de útil! Isso é uma ordem direta de seu líder! – Alice se assustou um pouco com o tom de voz dele, nunca o tinha visto assim tão alterado. Entretanto, Alina não pareceu abalada.

— Ah, é? Mas você esqueceu que não é mais o único líder? Que não é mais o único escolhido? As coisas não são mais do jeito que você quer. Você não está sozinho e precisa entender isso. – Aluna respondeu ainda num tom provocativo.

— Vamos, Alice! – E terminou de arrastar a garota para dentro do casarão.

Alice não sabia se devia perguntar algo ou se manter em silêncio. Era curiosa por natureza, mas sentia que seja lá qual fosse o segredo que Keith guardava, não contaria a ela assim tão fácil.

— Então... acabou o passeio? Devo ir para casa? Quando vou poder voltar?

Já havia mantido silêncio por tempo demais, tinha que perguntar alguma coisa. Não aguentava mais ficar parada no sofá da enorme sala de estar com Keith em pé num canto, pensativo.

— Pode voltar. Quando precisarmos de você mandarei chamá-la. Não se preocupe. – Foi tudo o que disse antes de deixá-la voltar ao casarão velho do outro lado do elevador mágico.

Keith não sabia mais o que dizer. As provocações de Alina o haviam preocupado muito. E se a garota decidisse investigar o motivo pelo qual ele temia se aproximar tanto dela? E se, de alguma forma, ela descobrisse sobre a história de Morgana e que era sua descendente?

Tudo iria por água abaixo se ela descobrisse antes da hora. Ou pior, se os inimigos deles descobrissem sobre ela antes que sequer tivesse o poder necessário para se proteger.

Com certeza fariam de tudo para capturá-la e matá-la. Ou talvez a torturassem até a morte. Keith era capaz​ de pensar em muitas coisas que esses demônios chamados de humanos poderiam fazer com uma garota como Alice.

E ele não deixaria nada disso acontecer.

Não deixaria o que aconteceu com Morgana se repetir.

E então a dúvida martelava sua mente: deveria ou não contar a ela a verdade? Deveria dizer logo que era uma bruxa? Isso ajudaria a despertar seus poderes? Ou isso faria com que ela nunca mais quisesse chegar perto dele?

Um longo tempo se passou até que conseguisse começar a organizar seus sentimentos. Eram coisas demais em sua cabeça.

Não conseguia ficar tranquilo, então saiu em forma de gato pela noite. Pulou de telhado em telhado, passou pela floresta e se esgueirou pelas sombras até chegar na janela que procurava. A garota já estava dormindo e ele ficou ali, a observando, velando seu sono... e se lembrando cada vez mais de sua antiga mestra e de como a havia perdido para sempre.

 e se lembrando cada vez mais de sua antiga mestra e de como a havia perdido para sempre

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