I Remember You

1. Segredos

Dias atuais...

- Luíz, já falei que não voltarei pra lá, apesar de não querer ficar aqui tão pouco, mas estou conseguindo dinheiro o bastante para me livrar disso tudo e ter minha estabilidade! Diga aos meus irmãos que, aliás, são os únicos que sempre me entendem que não poderei ir e estou esperando uma visita deles ansiosamente. - falei trincando os dentes, não aguentava mais essa insistência em querer que viaje para fazer uma visita a Fernanda. Porque é somente isso que ela é agora para mim, Fernanda, a mulher que me colocou no mundo.

- Luna, por favor! Eu pensei que a gente já estava entrando em um acordo e que já havia tirado essa ideia absurda de morar sozinha da cabeça! E a sua Mãe, não está conseguindo lidar com essa atitude, como se desprezasse ela! Vamos você passa somente um final de semana! - poderia ver que ele realmente esta ansioso, como se tivesse escondendo algo de mim, mas aí lembrei que na verdade eles sempre esconderam tudo de mim, até hoje não entendo porque minha vida deve que mudar da água para o vinho, como a própria mulher que dizia me amar, arrumou minhas malas e simplesmente me mandou pro homem que mais odiava.

Fecho os olhos e tento me acalmar, sinto minhas mãos começarem a tremer e o começo de falta de ar, respiro fundo e tento normalizar o meu corpo o começo da crise foi embora, mas a vontade de chorar ainda esta presente, não desmoronei quando Fernando saiu de casa, não desmoronei quando Fernanda praticamente me expulsou, não desmoronei quando perdi minhas amizades e não desmoronei quando Thomas mostrou quem realmente era, não será agora que isso vai acontecer, coloco minha mascara já tão comum para todos e rio debochadamente.

- Ahhhhh, Luíz. Se ela realmente me quisesse perto nunca teria me mandado pra você e se está com a consciência pesada agora que lide com isso. E sim, não mudei de ideia, farei o que estiver ao meu alcance para não precisar olhar pra cara dos meus tão queridos pais já que os amo tanto e eles também me amam. Agora, me perdoe, mas terei que ir trabalhar. Boa Sorte com Fernanda! - peguei minha bolsa e sair o mais natural que pude, para não demonstrar como meu limite estava próximo.

Ao descer do apartamento entrei no meu carro, e fiquei sentada tentando entender, pensei que já tinha superado, mas a dor sempre vem com mais força. Preciso ligar para Rebeca e avisar que não tem como ir pra agência hoje, terão que cancelar as minhas fotos.

Só tem uma coisa que me fará bem, faz tempo que não me dou a esse luxo. Ligo para Rebeca e explico que não terei como ir, fica surpresa e preocupada já que nunca falto nenhum trabalho e minha voz deve esta denunciando meu estado, digo que depois explicarei e pegarei mais fotos para recompensar a falta hoje. Quando desligo o telefone, ligo o carro e vou ao supermercado pegar tudo que preciso. Compro todas as besteiras que antigamente era minha fonte de energia e de alegria, e que hoje mal posso ver que imagino quem deixei de ser. Depois de comprar tudo, ligo para Esmeralda, a única amiga e melhor amiga que me sobrou da minha antiga vida.

- Mel, você tem como me encontrar na sua casa para uma reunião urgente? - Digo com a voz mais frágil que consigo.

- Bom dia pra você também, Luna. E não tinha fotos marcadas? E que história de reunião é essa? Na minha casa? - parece que está confusa e faz total sentido, já que é a Mel que organiza todo o meu horário, porque sou uma bagunça completa, algumas coisas nunca mudam.

- Olha, vou ser direta. Quase tive uma crise hoje, Mel. O Luíz veio com a história de viajar pro interior de novo e você sabe como fico. Preciso de uma reunião de garotas como antigamente, e não tem como ser naquele covil de cobras, tem que ser na sua casa tenho tudo que a gente precisa, por favor, por favooor!

- Ahhh Luna, tinha lhe dito que ele não ia sossegar até aceitar, mas vamos esquecer esse assunto, e estou desmarcando tudo para termos esse momento, não é todo dia que Luna Fenty se da o luxo de comer besteiras em plena amanhã. Quer que leve alguma coisa?

- Poderia trazer a seção choro, preciso me aliviar dessa tensão que estou sentindo. - Quando éramos crianças, eu e a Mel tínhamos seções de filmes intensivas, para cada estado de espirito. A seção choro, gargalhadas, terror, culinária e quando começamos a ficar mais velhas os eróticos, apesar de que só ocorreu essa seção uma vez e ambas ficamos horrorizadas já que éramos virgens e era tudo muito pesado pra nossa idade, era um tempo leve e sem nenhum problema de grande escala.

- Com certeza! Seção choro saindo. Chego já, rabugenta.

- Não me chama assim, Esmeralda.

- Desculpa, por um minuto, esqueci. 

Cheguei primeiro que a Mel, como tinha a chave dela entrei e fiquei deitada no sofá querendo compreender o que estava acontecendo com meu corpo e minha mente, fazia anos que não tinha o começo de uma crise, e o gatilho para isso foi uma coisa tão simples, teria que voltar pra terapia mesmo que isso não me agradasse em nada. Enquanto ficava debatendo comigo mesma, percebi que já havia se passado quase uma hora e nada da Mel, decidi ir organizando as comidas e preparar o chocolate. Já tinha feito o chocolate colocado ele na geladeira e limpo o que estava sujo, coisa que só fazia aqui na Mel, depois de varias discussões sobre minha falta de organização. A minha cabeça estava começando a doer e nada da Mel, a manhã tinha sido pesada, então tomei um remédio e fui deitar para ver se passava logo, acabei caindo no sono.

***

Acordei com cheiro tão gostoso e sem saber onde estava, mas aí me lembrei de tudo. Respirei fundo e fui encontrar a Mel.

- Que cheiro bom é esse? - Ela estava colocando algo no fogão, limpou as mãos e veio ao meu encontro.

- Acordou Bela Adormecida, pensei que teria que jogar um balde de água em cima de você como antigamente.

- ha ha ha, que engraçadinha. - falei, revirando os olhos.

- Vem cá, me dá um abraço, ultimamente só tenho escutado sua voz nada de lhe ver. - Mel me abraçou como se pudesse tirar todos os pesos que minhas costas carregavam, desejei bem lá no fundo que pudesse.

- Sinto tanto a sua falta.

- Luna, também sinto muito sua falta. Isso não aconteceria se morasse comigo logo.

- Não, já falamos sobre isso, quero ter o meu canto construir minha vida, se morasse contigo isso não iria acontecer.

- Ok ok, vamos mudar de assunto, o cheiro bom pelo qual estava perguntando é uma lasanha, não podemos comer tanta coisa doce sem almoçar. Quer dizer jantar, dormiu bastante. - falou olhando no relógio.

- Lasanha? Era a minha favorita. - falei com a boca cheia de água.

- Era?

- Sim, não posso me dar o luxo de comer lasanha, Esmeralda. Então meio que apaguei da minha vida.

- Mas comia uma travessa inteira, que me lembro bem. Como assim não come de jeito nenhum? - estreitou os olhos para mim. - Luna Fenty, o que anda comendo?

- Pode ir parando aí, me alimento bem, mas lasanha tem muita massa, Mel. Olha, vamos fazer assim vou comer tudo que você comer hoje, nada de dietas.

-  De dieta? Você disse que tinha parado com essas dietas, Luna...

- Não é bem uma dieta... Enfim, vamos comer?

- Estou de olho em você, me preocupo e não vou deixar passar por aquilo de novo.

- Não vou, prometo. - falei olhando para minhas mãos.

- Ta certo, chega de assunto pesado, almoço e depois seção choro!

- O chocolate já  se encontra feito e do jeito que gosta.

- Estava com tantas saudades dessa sua versão.

- Cala a boca e vamos comer.

- Depois da nossa seção, temos que conversar não sabe? - perguntou segurando minha mão.

- Sim, eu sei.

De repente sentir aquela sensação de novo, que a tanto tempo não sentia de que algo estava prestes a mudar. Esperava que dessa vez fosse pra melhor.