3. Passado

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Era isso, as malas já se encontravam prontas. Não tinha mais nenhuma saída, iria mesmo voltar pra aquele lugar. Levantei da cama, encarei o espelho e por um momento conseguia ver a menina que era descrita como não feminina, "machão" do meu lado, com uma regata com uma blusa xadrez por cima, calça jeans folgada, tênis e um boné pra trás.

 Aquela garota a me olhar não reconheceria a si mesma, o provável que fosse acontecer seria uma revirada de olhos, uma cara de nojo e sairia correndo para seu quarto, ri comigo mesmo. Aquela garota nunca usaria as roupas que estou vestida agora, roupas coladas, saltos altos, maquiagens e cabelos elaborados não era a sua. Aquela garota queria roupas que fossem práticas que não dessem trabalho e por isso foi tão julgada. Mas apesar disso o mais ficou presente foi as memorias felizes antes do fatídico dia. 

O dia em que mudou tudo que conhecia, tudo que era seguro. Lembro-me como se estivesse revivendo tudo de novo.

[Flashback]

Não consigo tirar da minha cabeça, o que será de tão importante? Passei o dia pensando nisso e ainda não tenho a menor pista, além disso, espero que minha intuição esteja errada e o motivo da conversa não seja ele.

- Luna, ainda vai lá pra casa? Eu tô ferrado nessa matéria! Não sei como consegue entender matemática.

Estávamos na frente da escola esperando Scott, Bryan e Thomas, que tinha acabo de chegar, para irmos pra casa.

- Thomas não vou. – falei revirando os olhos enquanto me encarava com o olhar perdido e sua última forma de se salvar tinha sumido. Não queria dar detalhes, sendo que não havia detalhes, aquele dia só piorava. – Olha, minha mãe quer ter uma conversa comigo e não deixou certo? Deixa pra amanhã.

- O que andou aprontando, rabugenta?- falou enquanto me encarava com sorriso torto, e toda vez, toda maldita vez, meu coração dava um pulo. Maldito sorriso e aquilo só me irritava mais.

- Nada que seja do seu interesse. – bufei. Mas parece que minha resposta apenas o intrigou mais. – Vamos lá Luna, me conta o que fez dessa vez?

- Deve ter descoberto que ela é sapatão! – um dos meninos que estavam ali perto disse, nunca ligava pra esse tipo de suposição quem sempre me defendia era Thomas e os meus irmãos, mas hoje minha paciência já tinha se esvaído e antes que Thomas pudesse falar algo, virei pro menino, percebi que era um dos colegas de Scott e Thomas de sala apesar de não saber o nome já o tinha visto lá por casa.

- E se eu for sapatão? O que esses dois neurônios que tem na sua cabeça tem haver com isso? – encarava com uma expressão de deboche. Todos me encaravam, se assustaram porque nunca fui revidar e antes que ele pudesse responder, coloquei o dedo na minha boca como se tivesse pensando e fiz cara de quem resolveu um grande problema. – Ah, já sei! Finalmente entendi porque tamanho interesse no assunto, está com medo de que as garotas me queiram em vez de um menino que só tem dois neurônios pra brigar né? Afinal, também sou bem mais bonita que você no seu melhor dia. - o encarava, enquanto todos ao meu redor riam dele e ele me olhava como se pudesse me matar. Por um momento me senti bem. 

Todos riam, mas de repente os meninos começaram a se cotovelar, era quase como um código, sabia exatamente quem via. Amanda Bynes. O clichê ambulante de todo colégio, loira, líder de torcida.

- Thomas, querido. Poderia falar com você um instante? - Amanda estava virada para Thomas, enrolando os cachos e mascando um chique. Me olhou revirou os olhos. - A sós.   

Revirei os olhos, o dia de merda só piorava. Precisava ir embora logo, não ia assistir essa cena patética. 

- Thomas, avisa ao Scott e ao Bryan que já fui pra casa.

I Remember YouOnde histórias criam vida. Descubra agora