8. Ferida Reaberta

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Ao ver Thomas me encarando, desviei o olhar e fui para dentro o mais rápido que pude.

- Com ele você sai, mas comigo não fala né? Como as pessoas mudam não é mesmo, Luna? - ao ouvir o que Thomas gritou, virei com ódio no olhar.

- Não queira se comparar com o Lucas. - disse entre dentes.

Thomas pulou o cercado que dividia as duas casas e me olhava com perplexidade.

- O que? Não acredito que no que diz. - ria com escarnio. - O garoto que vivia pegando no seu pé, que te chamou de várias coisas e ele não pode ser comparado a mim? Acredito que se encontra certa, mas pelos motivos errados.

Thomas não era ninguém para estar me julgando, muito menos julgando o Lucas disso tenho certeza.

- Pelo menos Lucas nunca fingiu ser alguém que não era, poderia dizer o mesmo Thomas?

- O que? Do que esta me acusando?

- Quer saber? De nada, absolutamente nada. Preciso entrar. - falei virando pra subir as escadas da varanda.

De repente sentir uma mão me puxando, foi Thomas me trouxe para perto dele.

- Não, vai explicar direitinho essa história.

- Me solta. - rosnei. - Vou gritar, quero saber o que Bryan e Scott vão achar do que está fazendo.

Thomas me soltou e me encarava.

- Não sei o que Lucas lhe disse, mas é mentira. - através do seu olhar passava tanta certeza, se não tivesse sido eu mesma que escutei, acreditaria.

- Não culpe o Lucas. Ele não me falou nada.

- Então quem foi? Explica-me, porra! - Thomas já estava vermelho, nervoso, não queria ter essa conversa, mas estava-me dano nos nervos. Como podia fingir que não tinha feito nada?

- Luna, me diz o porquê.

- Thomas, como você pode não saber?

- Eu não sei juro, por favor, me conte, você é minha melhor amiga! Eu jamais faria algo.

O único fio que ligava meu auto controle foi destruído quando ele me chamou de melhor amiga, como conseguia ser tão falso?

- Se lembra que vim pra cá uma vez? Depois de ser praticamente expulsa dessa casa? Estava tão feliz, iria ver meus amigos, meus irmãos e você, mas todos estavam diferentes ou talvez, tenha começado a ver quem realmente todos vocês eram de verdade. - sorri com uma mistura de tristeza e raiva.

- Claro que eu lembro, mas não cheguei nem a ver você. Voltou antes de conseguir, estava com tantas saudades, o que seus fizeram não foi justo com nenhum de nós.

- Se não tivesse escutado da sua boca, acho que realmente acreditaria que é verdade o que diz o que só confirma como nunca realmente ti conheci.

- Do que esta falando? Nunca lhe fiz nenhum mal, sempre lhe defendi. - me olhava como se suplicasse para acreditar nele e tudo que eu queria era que isso fosse possível.

- Mentira! EU ESTAVA LÁ! Escutei tudo, entendo que nunca sairia com... Como foi que disse? "A irmã macho do meu melhor amigo", mas não precisava me menosprezar! Era meu amigo, já havia perdido todos, o único que me restava era você! Era o único motivo que ainda vinha pra esse interior de merda, pra ver se te via, tinha pelo menos parte da minha vida de volta! Mas na primeira vez que lhe vejo em meses, foi isso que presenciei, pensei que minha enxergava além do que os outros viam. Mas não, é igual a todos. Igual ao Luíz, igual à Fernanda, todos iguais! Lucas pode ter sido um otário comigo quando éramos crianças, mas sempre foi na minha cara que falava, nunca se fez de meu amigo para me ferir por trás. Então, sou obrigada há passar esses dias aqui, mas não sou obrigada a ter que olhar pra sua cara todo maldito dia! Então suma! Saia já da minha frente. – precisava que fosse embora, não poderia dar esse gosto, não choraria na sua frente.

- Luna, por favor! Posso explicar... Deixe-me, explicar! O que disse foi verdade e foi errado da minha parte, mas nos éramos crianças e não era o que queria dizer... Deixe-me, explicar! - via o pavor em seu olhar.

- Não, saia daqui agora, Thomas. Agora, não quero mais mentiras, enganações, nada. Saia daqui. Pra mim, você está morto, como também a "menina macho" está.

Thomas procurou no meu olhar algo que o fizesse ficar, mas pelo que percebi não encontrou nenhuma esperança, virou as costas e começou a ir embora, virou para me olhar e eu ainda estava com a mesma face endurecida, com ódio e mágoa no olhar, quando percebi que estava chorando um pedaço do meu coração que não sabia que ainda existia se partiu. E foi nessa hora, quando Thomas foi embora chorando, quando quebrei parte do meu amigo, do meu primeiro e único amor, que percebi não estava machucada porque as pessoas me chamavam de apelidos, porque me julgavam por não ser tão feminina como se espera, mas porque o Thomas me julgava por ser assim, porque amava com amigo fiel, mas principalmente porque meu primeiro amor me chamava de apelidos e me enxergava de maneira distorcida como todos os outros, e mesmo assim apesar de tudo isso, de toda a mágoa e do ódio que alimentei, ainda o amava. E isso me chocou mais que tudo.

Corri para dentro de casa não falei com ninguém e todos me olhavam espantados, subi a escada correndo, entrei no meu quarto e me joguei na cama.

Tudo dói-a, ferida foi reaberta e parecia doer como se fosse nova. Senti braços ao meu redor e vi que era o Bryan, agarrei-me ainda mais nele, enquanto manchava toda sua camisa.

- Luna o que foi? O que Lucas fez? - Bryan tentava entender, limpava meu rosto, mas era um trabalho em vão já que as lagrimas não deixavam de cair.

- O Lucas não fez nada. - falei entre soluços. - Odeio chorar.

- Algumas coisas não mudam. - tinha um sorriso terno em seu olhar. - Agora me explica o que foi que aconteceu pra ter chegado assim.

- Não quero contar, por favor, não me faz contar.

Bryan não conseguia disfarçar seu descontentamento, mas sei que não me forçaria a nada.

- Ela está bem? - escutei Scott perguntar.

- Vai ficar.

- Olha trouxe um suco de maracujá que Dona Fernanda mandou. Disse que era ótimo para acalmar, e estou achando que é o que essa garota precisa.

Levantei, fiquei sentada na cama olhando para duas pessoas mais importantes na minha vida. Peguei o suco.

- Só funciona se beber viu Luna? - Scott ri a dizer.

- Eu sei, idiota. - bebi então um pouco. - Posso pedir uma coisa a vocês?

- Claro. - disseram os dois ao mesmo tempo e sorri.

- É, a gente que poderia fazer uma seção de filmes e dormir todos juntos lá embaixo. O que acham?

- Isso não foi bem um pedido, mas por mim pode sim. O que acha Bryan?

- Ótima ideia. Vou pedir pra nossa mãe ajeitar as coisas comigo, fica aqui com ela Scott, venho já.

- Posso ficar muito bem sozinha. - revirei os olhos e limpei meu rosto. - Já estou melhor, estão vendo?

- Quem disse que estou preocupado com você? Quero que fique os dois discutindo qual seria a melhor maneira de pedir a Mel pra sair comigo, já que ambos a conhecem. - falou zombeteiro.

- O QUE? - Scott rosnou. Enquanto caia cama rindo e derramando o suco na cama.

- Droga. - resmunguei.

- Nossa mãe vai te cortar ao meio. - Scott já tinha esquecido a Mel enquanto ria de mim.

- Realmente, nada mudou. - Fernanda disse olhando para nós três da porta. 

I Remember YouOnde histórias criam vida. Descubra agora