RAVENA
Estou correndo. Pra onde olho enxergo apenas as paredes de uma sala inteiramente branca. Mais a frente vejo algo, me aproximo o suficiente para enxergar Jake estirado no chão, ele esta com uma camiseta branca toda ensanguentada.
- Fuja, ele vai vim atrás de você. - diz Jake assustado.
- Meu Deus Jake! Quem fez isso com você? - Eu digo em meio ao choro.
- Va agora, antes que seja tarde - ele repete novamente.
Ouço passos se aproximando cada vez mais. Eles param como se estivessem atrás de mim.
Me viro e vejo Jona, ele segura uma arma e está sorrindo:
- Olá querida, vamos?
Eu ainda estou chorando, mas mesmo assim começo a gritar:
- Por que você fez isso com ele?
- Porque você vai ser só minha. - ele faz uma cara normal.
Eu começo a negar com a cabeça, e ele percebe.
- Então você quer ele? Justo você que eu julgava ser mais esperta. Morra com ele então.
Minhas pernas travam no lugar, eu não consigo correr, apenas fecho meus olhos.
O barulho do tiro não demora, mas eu não sinto nada, então abro meus olhos e vejo Jake com um novo ferimento no coração. Corro até ele, está sem pulsação e não respira mais, Jona esta gargalhando.
- Parece que a história de vocês acaba por aqui.
Eu me viro chorando e no momento que vou pra cima dele, ouço o som e vejo Hayato chegando, Jona aponta a arma pra ele.
- Ravena? - diz Hayato assustado.
Jona atira nele e em Susie que vinha logo atrás.
Eu sabia que estava colocando eles em risco, todo mundo ao meu redor sempre se machuca.
Jake agora está em pé na minha frente, ele pega em meus obrou e diz:
- CORRE RAVENA, CORRE!!
Eu não consigo me mover.
-ACOOOOORDAAAAA.Abro meus olhos no susto, começo a olhar ao redor e tudo não passou de um sonho. Mas ainda estou assustada. Pego meu celular e vejo que ainda são três da madrugada. Lembro de tudo o que aconteceu e começo a chorar.
"- Ravena, Ravena, me ajude - fala Ryan.
Tenho a visão dele se afogando na correnteza da cachoeira, mas não sei o que fazer.
Grito por ajuda mas ninguém vem.
Então eu mergulho pra tentar salva-lo. Nado atrás dele que cada vez mais se distancia.
Perco Ryan de vista e começo a gritar:
- Ryan? Ryan? Cadê você?
- Eu te amo - ele grita.
Então ouço um som estranho vindo do outro lado da margem um pouco mais a frente. Nado até la.
Quando chego, tenho a pior visão do mundo, vejo Ryan que não está mais consciente, com um galho de madeira enfiado na barriga. Subo na margem ao seu lado e tento acordar ele, mas já não sinto mais seus batimentos.
Chamo a polícia."
As lembranças de Ryan ainda estão nítidas em minha memória.
"O detetive da polícia pede pra que eu conte a história toda.
- Ryan e eu decidimos sair pra vir fazer um piquenique, como sempre saíamos juntos. - começo a contar - Estávamos jogando o bummerang um ao outro e então... - eu começo a chorar.
Olho para o lado e vejo a mãe de Ryan chegando, ela vê o corpo do filho e cai no choro aos braços do marido. Corro até eles e falo:
- Me perdoem, foi tudo minha culpa, eu não consegui salvar ele, me desculpem - corro para qualquer lugar e ouço alguém atrás de mim.
Não sei onde vim parar, mas sento em uma pedra e fico lá chorando, o detetive chega e fala:
- Eu sei que é difícil, mas eu preciso da história toda.
Ele se senta ao meu lado, me abraça e diz que a culpa não foi minha, e que ele sabe que não foi.
- Eu joguei o bummerang muito longe e ele acabou caindo no rio - continuo - eu avisei Ryan pra deixar pra lá, que a gente podia fazer outra coisa, mas ele, teimoso como sempre, resolveu ir atrás, ele não nada tão bem, então pensei que estava brincando, mas ele mergulhou e tentou ir atrás da merda do bummerang.
Eu começo a chorar novamente, mas conto tudo:
- Ele estava em uma parte calma do rio, mas aí entrou na correnteza, tudo parecia bem, mas aí ele começou a se afogar. Ele gritou meu nome, e eu mergulhei para pega-lo, ele estava um pouco mais a frente, mas eu não fui rápida o suficiente. Perdi ele de vista e o barulho me indicou onde ele estava, então eu vi o corpo e liguei pra vocês.
Estou chorando muito.
O delegado me leva de volta ao local e os pais dele já não estão mais lá."
Estou chorando muito com esses pensamentos, eu sei que fui eu. Então lembro do segundo pior dia da minha vida, o que formou a pior semana, o pior mês, o pior ano. Eu tinha 15 anos quando isso aconteceu.
"Chego ao funeral já chorando muito, o pai de Ryan me pediu pra fazer um elogio fúnebre a ele, mas a mãe dele não queria olhar na minha cara. Depois de várias pessoas que a gente nem conhecia de verdade falarem que foram grandes amigos de Ryan na escola, quando na verdade nem lembram dele, foi minha vez. Eu ia falar tudo o que estava acontecendo entre a gente, e que eu também o amava, mas dobrei o papel e falei algumas palavras bonitas.
Quando fui até o caixão ele estava lá, coberto com flores, e em seu terno preto. Sua expressão era de paz, ele parecia feliz. Ninguém estava mais lá perto, então eu disse em seu ouvido:
- Me perdoa meu amor, por favor me perdoa, eu tentei, se não fosse por mim isso não aconteceria. Eu também te amo Ryan.
Dou um beijo em sua boca gelada e coloco a carta ao lado de seu corpo no caixão.
Seis meses depois do ocorrido, o pai de Ryan me convidou para um almoço com eles. A mãe dele me abraçou quando eu cheguei e chorando me disse:
- Agora eu sei que você tentou salvar meu menino.
Eu também já estava chorando.
Aquele dia foi bom, após tanto tempo, aquele foi meu primeiro dia bom depois dele.
Após a refeição nós três sentamos no sofá e eu contei tudo a eles, inclusive a parte do eu te amo.
- Ele realmente te amava querida - disse dona Savannah.
- E sabemos que você tentou salvar ele, somos gratos à você por já ter salvado ele sem nem ter percebido - disse o senhor John.
- Co-como assim? - gaguejei já com lágrimas nos olhos.
- Então ele não te contou? - disse John.
- Ele estava em depressão querida - continuou Savannah - já fazia três meses que ele estava sofrendo com tudo o que havia acontecido. Seu avô tinha acabado de morrer e os meninos na escola não perdoavam, e faziam bullying por ele chorar em sala. Ele estava muito deprimido e já havia tentado se matar umas três vezes.
- Aí um dia ele chegou todo feliz em casa - falou John - eu já não o via assim a algum tempo, então perguntamos o que havia acontecido e ele nos contou sobre você. A gente não ligava dele sair com você, a gente não ligava dele ir na sua casa ou você vim aqui pra "assistir filme", por que você fazia bem pro nosso garoto.
Eu já estava chorando muito, eu o amava de mais, com certeza foi meu primeiro amor de verdade.
- E a gente não te culpa por nada, você já havia o salvado, sabemos que ele se foi, mas com certeza ele se foi feliz - disse a mãe dele pra completar.
Vimos alguns vídeos dele quando criança, e a foto do seu primeiro baile comigo ao seu lado.
Eles me levaram até seu antigo quarto e me deixaram lá.
Eu deitei em sua cama, senti pela última vez seu cheiro, vi todas nossas fotos e pedi para leva-las. Eles deixaram.
Então eu apenas voltei pra casa."
Fiquei perdida em meu mundo particular por muito tempo, até virar isso aqui que sou hoje.
Estou chorando muito, vou até o banheiro a procura de algo cortante. Não encontro nada.
Volto pro quarto e começo a jogar todos os objetos no chão, gritando comigo mesma.
- ME PERDOE RYAN, POR FAVOR, ME PERDOE.
Agora eu estou caída no chão, minhas mãos tocam o piso gélido e meus pés estão congelando.
Ouço a porta bater contudo contra a parede e Jake entra assustado.
- O que aconteceu?
Ele me pega em seus braços e eu continuo chorando.
Depois de um tempo deitamos e eu falo:
- Promete passar essa noite comigo?
- Prometo.
Então eu acabo pegando no sono nos braços dele.JAKE
Estou dormindo, quando ouço alguns gritos e me levanto assustado.
Vou até o corredor e descubro de onde vem o som. É a Ravena.
Tento entrar em seu quarto mas a porta esta trancada, então eu arrombo a mesma e me deparo com Ravena caída no chão. Eu vou até ela desesperado.
- O que aconteceu? - pergunto.
Vou até ela e a pego em meu colo, ela ainda está chorando. Nos deitamos na cama e ela consegue se acalmar. As únicas palavras que ela fala são :
- Promete passar essa noite comigo?
- Prometo. - respondi.
Então, ainda em meus braços, ela acaba pegando no sono.
Mas eu não consigo dormir, fico me perguntando o que poderia ter acontecido. O quarto esta todo revirado e ela ainda esta tendo alguns espasmos de susto do nada, foi um sonho? Eu não sei.
Me perco desses pensamentos quando olho para seu rosto ameno dormindo. Penso em como seria acordar ao seu lado todos os dias, como seria se ela fosse realmente a mulher da minha vida.
Aí penso em quantas pessoas ela pode querer em meu lugar, talvez já até tenha. Acabo com minhas próprias esperanças. Além disso eu tenho medo.
"- Jake, não é isso que você está pensando. - diz Lindsay.
- Não é o que eu estou pensando? - grito alto o suficiente - você está na cama com meu melhor amigo, nua, e não é o que estou pensando?
- Hey brother, calma cara, eu não faria isso com você.
- Cala a boca Bryce, você é um canalha mesmo.
Continuo olhando a cena sem entender.
- Só me respondam a verdade, a quando tempo isso vem acontecendo?
- Jake - Lindsay esta chorando.
- Me respondam - eu digo entre os dentes.
- Já faz mais ou menos um mês cara - responde Bryce - mas eu não queria.
- Você não queria Bryce? E você, sua ... sua... vadia, para de chorar. Você nunca me amou Lindsay, e nunca vai.
- Eu quero continuar com você Baby.
- Vão se foder.
Eu saio de lá mostrando o dedo do meio para os dois."
Esses lembranças me vem a mente, e eu penso em como eu passei uma semana chorando. Pois é, o astro do surfe chorou por uma garotinha mimada. Mas dói ver o seu melhor amigo pegando a sua mina. E eu não quero que aconteça a mesma coisa comigo e com Ravena.
Eu preciso me proteger o máximo que eu puder.
Odeio lembrar, pois tudo vem a minha cabeça.
"Chego em casa com meu boletim, todas as notas altas como sempre, mas havia um 7 que me incomodava, eu estava com medo.
Sento a mesa para o jantar, meu pai chega já bêbado o suficiente, e apenas me pergunta se eu estava com o boletim.
Ele analisa todas as minhas notas.
- Meu pequeno Jake - acaricia meu cabelo - 7 em matemática?
Eu apenas assinto.
- Eu não posso aceitar algo tão patético assim.
Ele começa a tirar o cinto. Vai me batendo até eu chegar na porta do porão.
O lugar é todo escuro tem apenas uma coisa lá, as corrente que me prenderam dentro daquela velha geladeira
Antes dele me bater, pediu para eu tirar a camisa e então começou.
- Eu não queria, mas você me obriga a isso - diz ele.
Fui pra escola durante 3 meses com dores e marcas rochas nas costas."
Meu pai não colaborava. Sou totalmente traumatizado, tenho claustrofobia. Mas aquele velho já está pagando por tudo o que fez a mim.
Mas um grande medo meu.
As vezes ainda vou até minha antiga casa ver se ele ainda não morreu. E ele sorri pra mim como se nunca tivesse feito nada.
As lembranças vão enfraquecendo e eu acabo pegando no sono.

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Elementares
FantasyQuatro jovens, uma natureza e uma estranha criatura maldosa. Elementares conta a história de quatro jovens, com suas vidinhas medíocres, que descobrem poderes mágicos. Eles vêem suas vidas transformadas quando são recrutados e agora terão que lida...