3. Hóspede prisioneira

1K 97 0
                                    

Havia alí chorado na poltrona até adormecer de cansaço, e acordei sem saber quanto tempo depois, sentada e com o rosto caído de lado contra os espaldares altos. A iluminação dentro do quarto parecia nunca mudar, e não sabia se era noite ou dia, mas era fantástico como as luzes se acendiam automaticamente no instante em que acordava, num fade-in delicado aumentando aos poucos até estabilizar-se. Mexi -me um pouco dolorida e persebi que estava faminta - o cheiro da comida logo adiante fazia meu estômago doer. Tentei levantar e, vendo que não sentia mais tontura, fui timidamente até a bandeja dando passos miúdos.

Debrucei-me sobre ela e olhei seu conteúdo com desconfiança. E se estivessem envenenados? Pensei nessa possibilidade por um instante até chegar à conclusão de que não havia sentido nisso, e examinei as iguarias de mais perto. Tinham um cheiro muito bom apesar de completamente desconhecidas. Peguei uma das várias dentre a variedade do que pareciam ser frutas e a levei ao nariz: Não parecia nada má, mas tornei a largá-la. Peguei na sequência uma iguaria que parecia assada como os tzoltar que estava acostumada a comer, mas o cheiro era completamente diferente. Tornei a largar, olhando tudo ainda desconfiada. Cruzei os braços, encolhendo os ombros, olhei em volta.

Não havia como negar que era um bonito lugar, embora estranho, da mesma forma que a comida, que claramente era das melhores, como bem dissera Mirca, mas não conseguia deixar de preocupar-me com o fato de que não conseguia compreender que lugar era aquele, e nem muito menos como fora que eu viera parar alí. Pensando nisso, um arrepio correu-me pela espinha - teria sido verdade? Teria acontecido realmente de haver sido capturada por aqueles demônios e terem sido eles quem me haviam trazido até alí? Seria este o lugar para onde vinham todas as pessoas que, segundo se dizia, eram levadas pelos pequenos demônios cinza e nunca mais eram vistas? Senti tontura novamente e me apoiei na mesa. Outra vez me vieram lágrimas aos olhos, mas dessa vez não chorei. Sentei-me numa cadeira em frente à bandeja e passei não sei quanto tempo gasto no exercício de observá-la com a mente inteiramente vazia, quase como um recurso de meu cérebro para manter a sanidade.

Como se se erguesse sozinha, minha mão foi depois de um longo tempo na direção dela, e pegou uma fruta de cor laranja muito viva e a mordi - era deliciosa. O seu sabor de repente me fez recordar do fato de que estava faminta e dei-lhe outra mordida, e mais outra, cada feita com mais urgência. Com a outra mão peguei o tzoltar, ou aquilo que parecia-se com um, e abocanhei. Era simplesmente divino. Mas com a fome que estava certamente tudo seria ótimo ao meu paladar, sem grande dificuldade. Dei-lhe a segunda mordida, mastigando com sofreguidão, mas de repente o estômago se-me revirou e baixando-me, vomitei tudo o que havia engolido.

Deitada sobre a cama flutuante à qual já quase me acostumava, olhando um olhar perdido e distante para o teto, repassava pela mente os absurdos que ouvira de Mirca. E se aquilo fosse realmente verdade? E se fora de Zalar houvessem outros planetas, e houvessem realmente navios que viajavam entre um e outro, não seria maravilhoso? Grandes navios cruzadores cortando os céus como grandes pássaros de metal? Interrompi bruscamente esses pensamentos. Não era correto pensar assim. Em Zalar mesmo as crianças pequenas sabiam que os deuses haviam descido dos céus e criado apenas Zalar como sua morada porque estavam exaustos de não terem terra sob os pés, e na terra eles colocaram seu DNA e dessa forma Zalar se tornara o corpo dos deuses, de onde nascíamos e para onde voltávamos - não era correto pensar que houvessem outros deuses semeando outras terras. Não era respeitoso para com os nossos deuses.

Levantei-me. Dei uma volta pelo grande aposento, procurando por uma janela, por uma passagem, qualquer coisa, sem obter sucesso. As longas e pesadas cortinas ocultavam apenas densas paredes e nada além, então voltei minha atenção para a porta, esquadrinhando um meio de abri-la, um mecanismo qualquer, mas não havia nada. Comecei a esmurrar a porta e a gritar:

A Escrava de Lorde Balem  (terminada)Onde histórias criam vida. Descubra agora