13. Os caprichos de Balem

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Alguns poucos dias se passaram sem que eu visse ou sequer fosse chamada por Lorde Balem, e eis que no começo de uma noite veio Greeghan chamar-me, explicando que aquele havia dispensado todas as criadas de quarto e aguardava -me para servir-lhe. Com um arrepio pensei comigo o que esse termo poderia significar, e antes que pudesse me conter, peguei-me dizendo:

- Greeghan, Lorde Balem nunca teve esposa?

- Ele vive só desde a morte de Lady Seraphi - foi a resposta ambígua que obtive, mas senti que não devia me estender no assunto, e apenas o segui. Depositou-me em frente à porta e já se afastava, quando eu pousei-lhe uma das mãos sobre um seu braço:

- Não se vá, Greeghan. Me aguarde aqui.

- Mas aqui a senhora está protegida - e fez um movimento na direção de Tskalikan, que acenou com a cabeça para mim.

- Mas não é isso, você não entende. Me aguarde para quando eu sair.

- As criadas sempre demoram-se muito atendendo às necessidades de Lorde Balem - respondeu Tskalikan de forma simples.

- Mas o que pode estar ele tencionando, Greeghan? - e não cria que falava tais coisas com dois lagartos semi-homens gigantes. Devia estar louca - Digo, eu não sou de Mircalax, não é? Nem androide... - estava confusa. Ambos me olhavam sem falar nada. Respirei fundo e anunciei-me. A porta abriu-se, mas fiquei parada à ela vendo Greeghan afastar-se pelo corredor escuro, e dei-me conta de que sem ele sentia-me de súbito desprotegida.

- Entre, escrava. Por que te demoras à porta?

Voltei-me para dentro, mas não vi de onde me falara.

- Já estou entrando, senhor - e a porta fechou-se. Entrei devagar, com medo do que fosse encontrar, com as pernas um pouco trêmulas. Fui encontrá-lo sentado à mesa, com a bandeja do jantar diante dele, intocada.

- Como se atreve a me deixar esperando para ser servido?

- Perdoe-me - me aproximei - Só que não sei o que devo fazer. Nenhuma criada jamais me instruiu, e eu...

- Sente-se - ele interrompeu-me, indicando a cadeira ao seu lado. Sem jeito, sentei-me, os olhos dele fitos em mim, e deixei as mãos sobre o colo - Sirva-me!

Olhei para a bandeja confusa, julgando que a comida estava servida, não vendo, sinceramente, o que mais eu poderia fazer. Ele não tirava os olhos de sobre mim e mal piscava, até que repetisse, com o tom de voz um pouco menos paciente dessa vez - Sirva-me!

Sem jeito, ergui as mãos para a bandeja e peguei uma fruta que já conhecia. Ela não tinha casca, e desmanchava-se em gomos iguais e perfeitos se a apertássemos no centro, e era muito saborosa, tendo um sumo extremamente doce. Girei-a levemente entre as mãos e olhei-o, aguardando alguma indicação do que fazer, mas ele continuava a me olhar de forma séria, sem mover sequer um músculo da face. Comigo pensei que ele, sendo um Lorde, achasse indigno partir a própria comida, e julguei que fosse isso talvez o que me quisesse para fazer, e apertei a fruta entre uma mão, e ela estourou em gomos vários que coloquei sobre um prato vazio. Timidamente tomei um talher, espetei um deles e estiquei-lhe, para que pegasse. Imóvel ele permaneceu, com os braços apoiados sobre os da larga cadeira. Levei um instante para perceber que estava errada. Seria indigno também levar a comida à própria boca? Parecia -me absurdo, mas não para alguém que sequer vestia-se/despia-se sozinho, e tentei aproximar o talher de seus lábios embora me sentisse ridícula fazendo aquilo. Ele apenas apertou um pouco os olhos, mas não se mexeu. Comecei a sentir-me irritada, e baixei novamente o braço, prestes a perguntar-lhe o que de fato queria que eu fizesse, mas não foi preciso:

- Use a mão.

Olhando-no, pisquei por um momento. Puxei o gomo, desespetando-no, e o levei até sua boca segurando-o entre dois dedos, e finalmente Lorde Balem aceitou pegá-lo, e assim que o fez retirei a mão; mas com um gesto brusco agarrou-me ela pelo pulso, fazendo-me soltar um suspiro de susto, e segurou-me enquanto mastigava, para depois vir lamber dos meus dedos o sumo doce que ficara neles, com o olhar fixo no meu, e só então me largou, tornando de leve o olhar para os gomos sobre o prato. Compreendendo, servi-lhe outro, sem precisar que me agarrasse a mão, embora ficasse incomodada com aquilo tudo. Começava a achar que ele tinha um prazer todo especial em deixar-me constrangida, e fiz o máximo para não transparecer como me sentia. Servi-lhe um pouco de tudo do que havia alí, mas parecia menos interessado em comer do que encarar-me com os olhos fitos e famintos. Por fim resignei-me, crendo que o menor dos males era servi-lo como a uma criança, mas se como o percebesse, Lorde Balem deu o jantar por findo:

A Escrava de Lorde Balem  (terminada)Onde histórias criam vida. Descubra agora