8. A vida eterna

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Acordei, como sempre, num sobressalto, meu corpo virando-se vagamente no ar, dentro do campo antigravitacional que a cama produzia conforme as criadas me haviam informado e ensinado a utilizar e, embora ainda achasse aquilo absurdamente estranho, já não me assustava tanto. Havia algo diante do qual o meu receio era bem maior. Virei-me para sair, e assim que tencionei fazê-lo, senti-me virada na posição correta, até que fosse posta sentada e o campo azulado se desligasse, meu peso tornando a fixar-me ao chão. Olhei para a porta que eu julgava trancada por dentro, mas na verdade duvidava que fosse realmente assim, duvidava que Lorde Balem não fosse capaz de abri-la durante a noite se quisesse, para infiltrar-se em meu quarto e em minha cama. Tive um arrepio súbito. O simples pensamento deu-me asco. Não poderia aceitar tal coisa com o carrasco de meu próprio povo - Por isso, todas as noites eu custava a dormir, com a atenção voltada para a porta, esperando-na a qualquer momento ouvir abrir de súbito, e todas as manhãs acordava sobressaltada porque não havia suportado a vigília e dormira, recriminando-me por isso.

Levantei -me e vesti-me, em seguida pressionando o comunicador ao lado da porta. Greeghan, que montava guarda, respondeu:

- Senhora.

- Pode mandar vir-me o café, Greeghan, por favor.

- Sim, senhora - e não demorou para que a bandeja chegasse, maravilhosamente repleta das maiores delícias, como sempre. Eu poderia sair do quarto para andar a hora que quisesse, mas na verdade não queria fazê-lo, enclausurando-me dessa vez por vontade própria. Terminava o café quando o comunicador soou novamente e ouvi a voz do reptiloide - Chegaram suas novas roupas, senhora.

Assim que abri a porta, vi um verdadeiro desfile de amas e criadas de todos os tipos entrar, uma após as outras, carregando roupas, calçados e joias, depositando-nos todos muito ordenadamente nos armários enquanto retiravam de lá as peças que eu havia rejeitado, e saindo em seguida. Olhava para tudo aquilo incrédula:

- Vocês prepararam tudo isto em tão pouco tempo? Como conseguiram? - algumas apenas me sorriram, mas não responderam, e assim que estava tudo guardado, saíram e vi-me novamente sozinha. Greeghan colocou a cabeça para dentro do quarto, fazendo uma mesura:

- Esperamos que tenha ficado do seu agrado. Se puder trocar-se, a levarei à presença de Lorde Balem, que a aguarda.

Disse-lhe que faria isso, e voltando-me para dentro, abri o armário repleto de roupas, pensando quantos anos achavam que eu iria viver para conseguir usar aquilo tudo... Nem que eu chegasse aos 100 daria conta de fazê-lo, concluí; e peguei uma túnica idêntica a que vestia, só que fabricada num tecido leve e dourado que rescendia em mil pontos de brilho, com um cinto preto e vinho com um longo pendente lateral. Admirei-a, passando os dedos por ela - era como as roupas das mulheres ricas de Zalar; jamais imaginara vestir uma como essa em toda a minha vida.

Entramos no grande hall de Lorde Balem, indo encontrá-lo cercado por funcionários seus que esticavam-lhe "pads" , que ele olhava atentamente e tocava às telas antes de devolvê-los, sentado como sempre no seu divã de tecido finíssimo. Olhou-nos desinteressado assim que eu e Greeghan nos anunciamos. Um "homem" aproximou-se então de mim, olhando-me com um interesse patente, com uma expressão de admiração. Devolvendo-lhe o olhar, tive a estranha sensação de que me lembrava um rato albino, devido às feições de seu rosto e seu cabelo branco. Era estranho.

- Senhor Night - disse Lorde Balem, e o homem-rato sobressaltou-se - Pode ir agora. Traga-me novos relatórios assim que chegarem.

Tomando nas mãos os pads que Balem lhe esticara, ele fez uma mesura e saiu, acompanhado pelos outros. Greeghan aguardou o sinal, e assim que Balem ergueu-lhe uma das mãos, saiu também. O silêncio caiu sobre o amplo hall de Lorde Balem, que agora me olhava, novamente da cabeça aos pés, admirando provavelmente minhas novas roupas.

A Escrava de Lorde Balem  (terminada)Onde histórias criam vida. Descubra agora