12. Conversação com Greeghan

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Abri a porta e chamei por Greeghan, pedindo que entrasse. Assim que o fez, perguntou-me em que poderia ser-me útil. Fui bem direta:

- Quero conversar, Greeghan. Acho que você pode me dar algumas respostas para dúvidas que eu ainda tenho, e sanar ainda outras que venham a surgir durante a conversa, o que estou quase certa de que acontecerá.

Ele fez uma mesura educada, como sempre, acabando de entrar, e a porta fechou-se às suas costas. Ofereci-lhe sentar-se, mas ele disse-me que estava bem de pé, e eu sentei-me na larga poltrona alta, de frente para ele, que então pareceu-me ainda maior.

- Você trabalha aqui em Júpiter há quanto tempo, Greeghan?

- Quinhentos e treze anos, senhora - respondeu rapidamente.

Pestanejei levemente - Quinhentos e treze anos? A você também é dado banhar-se no RegeneX? - falei, sem pensar.

- Não, senhora. O RegeneX é para seres humanos puros, apenas. A longevidade é natural à minha espécie.

- Compreendo. E você é natural de onde, digo, sua espécie não é de Júpiter, ou é?

- Na verdade, nós, os sargorns, somos descendentes indiretos dos saurisapians que viviam na Terra quando dela ser descoberta na época da Grande Expansão pela Família Abrasax. Digo descendentes indiretos porque na verdade não somos fruto de evolução natural, mas sim, de engenharia genética praticada pelos humanos de Orous, para a criação de guarda-costas.

Ouvia-no, fascinada. Quando calou-se, encorajei-o a falar mais:

- E você, pelo jeito, parece saber muitas coisas. Você me diria a verdade sobre as coisas que eu perguntar-lhe ou, não sei, talvez você não possa falar a verdade e minta para mim por algum motivo?

- Nós somos criados para sermos 100% leais, senhora. Isso inclui não mentir para nossos amos.

- Muito bem - pensei um instante - O que eram aquelas criaturas que me raptaram em Zalar?

- Guardiões. Do sistema Diorito; mas modificados geneticamente para atuar como feitores de tarefas ou vigias. Fazem praticamente todo o tipo de trabalho externo, não somente para a Família Abrasax.

- Então não eram demônios? - Greeghan olhou-me e pareceu não compreender. Subitamente lembrei-me da reação de Mirca à palavra "barco" - Digo, eles são seres vivos de um planeta, são uma raça?

- Exatamente, senhora.

- E eles raptam pessoas quando são mandados a isso... - e fiquei pensativa.

- A maioria do trabalho que fazem é trazer amostragens dos planetas que estão em vias de ser colhidos. O caso da senhora foi, na verdade, um caso excepcional.

- Entendo. E essas amostragens, o que são? Ouvi Lorde Balem pedir amostras e resultados de amostras o tempo todo durante o trabalho.

- Creio que ele já lhe explicou qual o propósito da colheita, não?

- Sim, Greeghan.

- Pois sim, as amostras são como uma verificação prévia do estado do material de determinado local.

Calei-me um momento, pensando. Aqui todos falavam em termos técnicos; traduzi em termos humanos dentro de minha cabeça. As poucas pessoas que haviam presenciado os raptos ao longo dos anos haviam descrito os raptores e, não havendo explicação lógica para a existência deles, haviam-se tornado os "demônios que roubavam pessoas" no imaginário popular e entrado para as lendas... E as pessoas desaparecidas nunca retornavam pelo simples fato de serem mortas quando chegavam até aqui. Fazia sentido. Mas já havia gerações que pessoas desapareciam em Zalar sob circunstâncias suspeitas, e disse isso a Greeghan, que respondeu-me:

A Escrava de Lorde Balem  (terminada)Onde histórias criam vida. Descubra agora