10. A decisão

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Dias passaram-se sem que Lorde Balem me solicitasse novamente a presença, e passei-os como seria de se esperar, reclusa dentro de meu amplo quarto, os olhos abertos em vigília e secos de lágrimas como jamais antes. Abraçava as pernas sobre a poltrona larga, pensando, até que levantei-me dali num rompante súbito, e abri a porta, falando a Greeghan:

- Peça por favor uma audiência com Lorde Balem. Quero vê-lo o mais breve possível.

*

*

Lorde Balem houvera-me feito esperar o dia inteiro, mandando me chamar apenas já ao final da noite, e encontrava-me irritada pela espera. As portas do hall abriram-se diante de mim, que entrei a passos largos sem que Greeghan me seguisse, mas antes que me fizesse anunciar pude perceber que não era Balem que se encontrava no recinto, mas sim o senhor Night e, embora convencionasse-se que era já noite, o sol laranja ainda brilhava exatamente no mesmo ponto do céu. Ambos os imprevistos desconcertaram-me um pouco, e confusa olhei para a cara estranha do senhor Night que ajuntava pads de sobre a mesa e interrompera-se para fazer-me uma mesura assim que entrei.

- Onde está Lorde Balem? Eu pedi para vê-lo e ele mandou-me buscar. Por que não se encontra?

- Sim - senhor Night riu-se - Lorde Balem mandou-a chamar, mas como já recolheu-se aos seus aposentos, creio que a senhora terá a audiência que deseja lá, em vez de aqui - e sorria para mim de um jeito malicioso com sua cara de rato.

Com o rosto fechado, dei-lhe as costas, caminhando rapidamente para fora:

- Greeghan, leve-me imediatamente para os aposentos de Lorde Balem, porque é lá que ele se encontra.

*

*

Fui deixada por Greeghan em frente a um par de portas trabalhadas nos mesmos motivos que as do hall, mas não tão altas ou sequer largas como aquelas, embora ainda dessem a mesma ideia de poder e riqueza, e estranhamente vi-o afastar-se, apenas Tskalikan permanecendo no seu posto de segurança, postado em frente à porta. Esse olhou-me, e meneou a cabeçorra feia, e retribuí o gesto polidamente, apertando o intercomunicador, falando para dentro dele; e sem que obtivesse resposta, a porta abriu-se para mim. E assim que o ar de dentro do quarto me atingisse o rosto, paralisei-me, porque era, simplesmente, o perfume do harbiscum violeta. Demorei alguns instantes até conseguir mover-me, mas finalmente entrei nos aposentos de Lorde Balem, e a porta fechou-se às minhas costas.

Instintivamente voltei-me a ela antes de percorrer com os olhos o luxo ostensivo que o quarto apresentava. Bem no centro, uma grande cama ovalada estava com o sistema antigravitacional ligado, mas abandonada vazia, bem como todo o restante do quarto, onde não se via ninguém. De repente, notei sobre uma mesa, dentro de um grande jarro, um ramo de feixes violeta muito frescos, e corri para eles, tocando-nos com as mãos e sentindo-lhes o cheiro com os olhos marejados, e era como se, por um instante, estivesse de novo a salvo em Zalar; mas logo uma voz fez-me lembrar que não estava: Era a voz de Lorde Balem.

- Estou aqui. Na varanda. À sua direita.

E quando voltei-me, vi que à minha direita realmente havia um pequeno hall que saía dos aposentos, ornado por estreitas colunatas, que levava a uma varanda aberta, e vi seu vulto lá, no canto, sobre uma espreguiçadeira, e dirigi-me até ele.

- Milorde.

Sua mão visível por trás da cabeceira da espreguiçadeira esticou-me dois dedos, e esse foi o sinal de que me permitia entrar, e pisei o piso branco da varanda, olhando para o céu estrelado belíssimo diante de nós, subitamente admirada.

- Vejo que gostou das flores. Está com o perfume delas novamente.

- Não são flores - respondi sem pensar - O harbiscum é uma leguminosa, usada para o fabrico de cosméticos - e de repente baixei a voz - Meu pai era perfumista - e olhava para o céu agora de forma triste.

A Escrava de Lorde Balem  (terminada)Onde histórias criam vida. Descubra agora