7. Seraphi

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Greeghan veio-me chamar à porta logo que eu tinha terminado de banhar-me, vestir-me e tomar meu café, como se soubesse o momento exato de me chamar sem me interromper, e sua voz rosnada soou no comunicador:

- Senhora. Lorde Balem requere sua presença no hall.

Indo até a porta, fremi o dispositivo de abertura e diante de mim surgiu o ser com cara de megaterium selvático que agora, de certa forma, fazia-me remeter um pouco ao meu próprio planeta e parecia até estar-se tornando "simpático" devido a isso, certamente, e, vendo-me, fez uma mesura.

- Já estou indo, Greeghan, só um momento - e tornei a fechar a porta, respirando fundo. Precisava de forças para ver àquele homem tão cedo... achava que fosse dar-me uns dias de paz... E quando abri novamente a porta, Greeghan estava pacientemente no mesmo lugar - Vamos.

Ele seguia alguns metros atrás de mim, como se vigiasse a minha retaguarda, e começava a sentir-me protegida por essa sua atitude; seus pesados passos ressoando logo atrás de minhas costas, não mais como uma ameaça, e teria rido do pensamento que me passou, se a situação fosse outra, de que agora tinha um megaterium gigante de estimação, e era realmente um pensamento absurdo e risível, mas eu não conseguia rir. Não depois do que havia acontecido. Julgava que jamais tornaria a rir de novo em minha vida. De repente recordei-me da felicidade que senti correndo nas plantações de meu pai aquele dia em Zalar, e parecia uma outra vida, parecia que havia sido há séculos atrás.

E assim pensava quando chegamos em frente às altas portas rebordadas em alto-relevo do hall de Lorde Balem, e elas abriram-se para deixar-nos passar. Ainda na minha retaguarda, Greeghan anunciou-nos:

- Milorde. A senhora, como pediu.

De costas, olhando pela janela, Balem permaneceu em silêncio. Percebi que era por minha culpa, e falei baixinho:

- Milorde.

Somente então ele dispensou Greeghan, que saiu no mesmo instante, e em seguida me ordenou que fosse até onde ele estava, o que fiz em absoluto silêncio, pondo-me ao lado dele junto à ampla vidraça, olhando para fora, para evitar olhá-lo. Passaram-se alguns instantes sem que ele não fizesse sequer um movimento. Pelo canto dos olhos persebia que ele tinha as mãos unidas pelas pontas dos dedos próximas ao queixo, como se pensasse em algo grave.

- Deixe-me vê-la - disse, finalmente. Não me movi.

Ele pousou os olhos em mim em silêncio, olhando pelas fendas da minha túnica os vergões que fizera em mim tentando arrancar a corrente, e em seguida pediu que lhe mostrasse as mãos. Ofereci-lhe ambas com as palmas para cima, sem olhá-lo no rosto, e ele as tomou entre as suas com uma delicadeza tal que eu não esperava nele. O toque de suas mãos era macio, o toque das mãos de um senhor, que jamais trabalhara a terra. Lembrei-me do terno toque áspero das mãos grandes de meu pai quando me pegava as mãos daquela mesma forma, mas a custo desviei o pensamento. Examinou-me ambas as mãos entre as suas, tocando-lhes as palmas com as pontas dos dedos e, colocando nelas o meu olhar, notei seus dedos longos e muito brancos nos quais usava alguns anéis estranhos, e cujas unhas crescidas me arranhavam de leve a pele. Senti seu olhar desviado de meus dedos machucados para o meu rosto, e ergui o olhar para olhá-lo na face também.

Ainda vestia preto, mas uma roupa completamente diferente, sem gola e com brilho restrito ao tórax, com o amplo colar inteiramente visível desta vez, e pareceu-me que seria desconfortável usá-lo, tão rígido daquela forma, mas repreendi-me por estar-me preocupando com o conforto de tal pessoa, e logo retirei essas ideias de minha mente, proibindo-me de tê-las novamente. Mas na verdade pensava no colar para desviar-me daqueles olhos súplices que me encaravam, como se quisessem mergulhar dentro de mim mesma através dos meus, e aquilo me perturbava.

A Escrava de Lorde Balem  (terminada)Onde histórias criam vida. Descubra agora