9. A imortalidade relativa

811 74 6
                                    

Seguidos por Tskalikan e Greeghan, eu e Lorde Balem fomos a uma grande sala escura em que havia o que parecia ser uma grande banheira oval não muito funda, de bordas ornamentadas e encravada no centro do chão polido, e na borda de um dos lados havia um alto console repleto de estranhos botões e uma estranha tela translúcida, como jamais havia visto, e diante dela, manuseando os controles estava o homem estranho que Balem chamara de senhor Night e, assim que entrei, atrás de Lorde Balem, imediatamente persebi que aquele punha novamente os olhos em mim com interesse. Tentei ignorar, e me mantive afastada o máximo do console, permanecendo na outra borda da banheira ampla.

- Há muito tempo descobrimos o segredo do código genético e motivo do envelhecimento, da degeneração celular, da doença e da morte, e a maneira como restabelecer o equilíbrio desse código individual, de forma que a substituição das células mortas ou danificadas por outras novas tornou-se tão simples quanto trocar de um computador um componente defeituoso por um novo.

Lorde Balem falava, de sua maneira pausada peculiar, tentando instruir-me sobre algo que ainda parecia-me confuso, pois em Zalar apenas mal havíamos iniciado os estudos em genética, e eu não era sequer cientista, portanto sabia ainda menos do que alguém mais especializado poderia entender, mas arrisquei-me a falar:

- Como se fizessem "manutenção" genética nos próprios corpos?

Ele olhou-me e riu - É uma forma de compreender. Mas nada como ver - e gesticulou para algumas servas que estavam postadas adiante, e elas começaram a despi-lo, com agilidade, como se estivessem acostumadas a fazê-lo e sequer precisassem pensar para tanto. Night começou a mexer nos controles e o painel subitamente iluminou-se diante de si, e a banheira cheia de água límpida parecia iluminar-se, refletindo de dentro para fora um brilho azul muito sutil e claro, mesclado com um dourado leve.

Tiraram-lhe os anéis, a túnica de largas "asas" e as botas altas, seguida da calça, e senti-me constrangida, retirando de sobre ele os olhos. O último item que retiraram-lhe foi o largo colar, que então vira que usava oculto mesmo por baixo das roupas. E ajudado por uma das aias, a última que permanecera depois de que todas haviam-se já retirado, entrou na banheira, ficando com água pela altura da cintura, e olhou-me fixamente no rosto, como se com isso me convidasse a guardar bem na mente a imagem de seu rosto, e o fiz; e então desceu ele mais alguns degraus, parando com a água à altura do peito, passando as mãos pela borda do liquido, olhando-no com ar inebriado passar por entre seus dedos antes de olhar-me nos olhos uma última vez. E assim feito, mergulhou completamente. Uma forte luz encheu o ambiente até então escuro e soltei um grito de susto, dando um passo para trás.

Quando tornou a erguer-se, Lorde Balem era como um outro homem, de rosto liso e cabelos corados como um rapaz de não mais de 20 anos, de ombros e peito de músculos tonificados e definidos, e levando uma das mãos aos lábios para impedir um grito de surpresa, vacilei, cambaleante, esbarrando na parede de vidro atrás de mim. Era impossível!

Não dando-se pelo meu assombro, ele voltou as costas para mim e saiu da banheira fracamente iluminada, por alguns instantes pondo-se a observar os próprios braços, parecendo satisfeito com o vigor que haviam readquirido, seu corpo jovem e vigoroso, muito branco, resplandecendo sob as ondulações da luz que de sobre a superfície da água refletiam-se sobre sua pele. Ainda chocada, consegui apenas falar-lhe:

- Você não é humano! Isso não é humano!

Voltando a lateral do rosto para mim, ainda de costas, Balem sorriu seu riso triste, de olhos baixos:

- Sou tão humano quanto você, Inkailah. Nossos genes são os mesmos. É apenas o conhecimento e a tecnologia o que nos difere.

Eu continuava olhando-no escorando-me na parede de vidro, até que ele finalmente se voltasse, lentamente, de frente para mim, a água ainda respingando de seus cabelos, escorrendo e pingando de seu queixo, e novamente vendo seu rosto liso, suspirei assustada - porque os olhos, os seus olhos continuavam extremamente velhos.

A Escrava de Lorde Balem  (terminada)Onde histórias criam vida. Descubra agora