Eu Devia Ter Percebido

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Fazia muito sentido eu estar me sentindo no fundo do poço e ainda mentalmente eu estava tomado por uma pequena depressão. Nada mais importava, mas eu ainda tinha uma vida para seguir, essa tristeza me deixou inseguro até desisti de fazer faculdade e arranjei vários empregos durante um certo período, fui demitido em todos, mesmo com o efeito da porra do remédio para me manter com uma boa impressão eu ia pra rua. Não dava para me segurar com aqueles clientes idiotas sem paciência, todos os dias eu senti ansiedade, depressão e raiva.

Não sei se era sorte ou o gerente ia com a minha cara Já que eu parei de ser demitido quando comecei a trabalhar numa loja de roupas, eu era um simples atendente. Quer dizer, na verdade eu comecei no estoque.

Era uma loja maneira, eles gritavam do térreo "Ei estoque!", eu era do andar de cima, pegava as roupas que um cliente precisava e jogava de lá. Fiquei um mês por lá mais ou menos tempo o suficiente para novas amizades.

Tinha um cara lá que se chamava Fernando, mas era conhecido como Freddy, acho que era porque ele só usou um blusão listrado preto e vermelho durante o inverno, Nós dois ficamos a mesma quantidade de tempo naquela loja, lembro que fizemos amizade quando no final do expediente de uma sexta-feira qualquer ele me perguntou "E aí rapa, por que se tá com a cabeça raspada? Hein?!", admito completamente folgado, mas ele era legal.

Ele era mais folgado que os próprios alargadores, bem perceptíveis com o símbolo socialista junto de um sinal de proibido, consegui entender que ele gostava do capitalismo ou de uma anarquia total, por que não?!

Eu respondi pra ele sobre a minha cabeça raspada "Culpa de uma mulher..." , Freddy fez uma cara de surpresa e disse "já fiz esses tipos de coisas, e pela mesma razão. Vou te ajudar a esquecê-la...", eu não confio em pessoas rapidamente, mas com ele era diferente, acho que eu só queria um amigo e eu já estava solitário a algum tempo, não tive outras opções.

Ele foi a única opção, mas parecia ser a correta para fazer eu voltar ao normal.

Durou bem essa amizade, saíamos todos os dias e não importava aonde estávamos nós arranjávamos drogas, nada demais só maconha e cocaína, o Freddy tinha cara de que puxava um, mas não sabia que eu iria me igualar a ele. Mas depois dessa semana voltamos para sexta o dia que nas palavras deles "Nós vamo bota pra fude.". Ele gritou isso no estacionamento, me deu um soco no ombro para que eu presta-se atenção de verdade nele enquanto dizia para irmos na parte baixa ou cidade baixa, alguma coisa assim, mais especificamente no bar opinião, eu não fazia ideia onde era, mas eu tava fissurado, pronto pra descobrir. Pensando hoje talvez estivesse naquele por conta da cocaína que a recém tínhamos usado, no estacionamento mesmo, não tinha ninguém olhando então por quê não.

Freddy me prometeu que eu iria entrar no bar opinião, mas tava tão lotado que eu fiz ele mudar de ideia e compramos direto uma cachaça e uma vodka em um pub com temática inglesa naquela mesma rua. Acabamos chamando a atenção de duas mulheres que puxaram assunto com a gente depois de elas terem comprado uma garrafa de whiskey é uma de absinto bem do nosso lado e antes de bebermos tudo aquilo Freddy achou melhor ir para a casa de alguém, ninguém ali queria morrer enquanto alguém dirigia o carro bêbado, e como ele deu a ideia fomos na casa dele.

Em torno de umas quatro horas acabamos com aquelas garrafas, menos a de absinto, aquela porra e forte para caralho e estávamos quase vomitando depois de cada gole de absinto, parecia que meu fígado ia explodir antes mesmo da ressaca bater. Eu fiquei tão bêbado que eu transei com uma das mulheres, mas até hoje eu não sei qual das duas e nem descobri os nomes delas... Com Freddy foi a mesma coisas, nós dois acordamos de manhã e elas nos deram tchau e foram embora, foi bem louco até...

Até chegar ao ponto de eu olhar para o espelho da sala e ver que eu estava horrível, eu tinha sangue seco escorrendo pelo nariz e estava magro, olheiras enormes e logo atrás de mim tinha o Freddy que se juntou ao meu lado se segurando pelo meus ombros e eu olhava para o espelho, ele simplesmente não apareceu no reflexo, enquanto ele puxava um baseado do bolso ele dizia "Gabe agora este é você. E sabe o que mais?! A culpa de tudo isso é sua". Aquilo não podia ser verdade não tinha como alguém que nem existia em um espelho me dar lição de moral.

Fiquei com raiva e fui com tudo dar  um soco nele, enquanto ele se afastava e ficava de costas para mim porém enquanto eu estava nessa trajetória percebo que era inútil lutar, pois o Freddy era eu mesmo e por pouco tempo me percebi tudo que havia acontecido, em forma de flashes em minha cabeça tudo foi voltando e eu havia acertado e quebrado o espelho e ainda tinha o baseado já aceso em minha boca que estava tomada por aftas e um pouco de sangue de um corte que não cicatrizava a uma semana, eu só havia percebido na hora.

Joguei aquele baseado no chão e apaguei com o pé, aquilo doeu um pouco, sai andando pela casa abrindo armários e gavetas e encontrava remédios que eu achei que estava tomando, mas na verdade eu estava usando cocaína, maconha, e heroína, eu tinha tudo isso espalhado pela aquela merda de casa. Não quis acreditar até voltar ao meu quarto e achar em cima da cômoda o alargador anti-socialista dele... Tentei colocar a mão em minha orelha e só tinha cabelo a tapando, até eu ter raspado foi uma alucinação.

Eu precisava de tratamento e simplesmente deixei em segredo, admito não ter ficado um completo viciado, pois eu sabia que tinha usado tudo aquilo, porém eu não sentia vontade, não me sentia dependente daquilo, eu mudei os meus hábitos pro resto daquele ano, joguei fora as drogas, decidi fazer boxing e decidi sair todas as sextas para arranjar alguém para ficar pelo menos uma noite comigo... Claro tinha dias que ter um homem ou uma mulher para transar não bastava, não ter tratado totalmente a depressão foi a pior coisas que eu fiz, mas o meu anti-depressivo era meu amigo Freddy que aparecia para zuar comigo logo após eu pegar um baseado "dele", que na verdade era meu me

Mudanças Pelo caminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora