— Acorde Allison. — Escuto a voz de minha mãe, chamando-me pela décima vez.
— Levante agora Allison! — Ordenou.
— Está bem! — Gritei, levantando as mãos em sinal de redenção. Mas ainda estava sonolenta, e os cobertores quentes estavam convidativos.
— Veja isto. — Estava animada.
— O quê... Uma folha de papel? — Ironizei.
— Não seja tola menina, leia. Apenas leia. — Insistiu.
— Está bem. Mas primeiro, deixe-me trocar de roupas. — Pedi.
— Estarei na sala com seu pai, te esperando para o café da manhã. Não demore. — Se retirou.
Levantei da cama e olhei-me no espelho. Eu estava horrível, com os cabelos bagunçados e olheiras, indicando a falta de sono na noite passada. Passei a noite inteira, tendo sonhos estranhos. E era sempre a mesma pessoa que aparecia no sonho. Mas quem era ele? Eu me perguntava, enquanto a água percorria meu corpo, como se lavasse o mais profundo do meu ser. Perdida em meus devaneios, ficava lembrando dos sonhos da noite anterior.
Noite anterior.
Seus olhos azuis, pareciam tão intensos que era como se vesse além do que os outros pudessem ver. Seus sussuros "Eu te amo, eu te amo", hora mais altos, hora baixos novamente, causavam-me arrepios. Não eram apenas declarações de amor, seu tom de voz expressava a mais intensa dor. As vezes ele estava sorrindo, outrora encarava-me com total desprezo. A música alta e lenta tocava, e várias pessoas dançavam ao nosso redor, e nos encaravam. Uns curiosos, outros alegres e alguns, até com desprezo. Apenas dançávamos, sem nos importar com quem estava ao redor, porém seu rosto, eu não conseguia ver. As imagens fora ficando embaçada, e o cenário mudou. Eu conseguia escutar a música, uma bela melodia, e havia várias pessoas encarando-me, enquanto mais na frente alguém esperava-me de terno, seu rosto ainda não era possível ver com clareza, e eu não entendia o que estava acontecendo. "Eu te odeio!", sussurava magoada. "Eu te amo", dizia como quem sentia a maior alegria. Por que eu falava aquelas coisas, nem sequer sabia, aliás, não sabia o que estava acontecendo. As cenas iam mudando. Agora a cena é diferente: uma linda paisagem, que eu apenas observava. Um céu estrelado e um lindo luar, que contrastavam perfeitamente, com as águas calmas daquela praia. Alguém falava atrás de mim, e eu não entendia ao certo o que ele dizia, mas aquela voz... A voz dele, era inconfundível. Todas essas sensações estranhas faziam-me despertar, em seguida o sono dominava-me novamente, e os sonhos estranhos voltavam.
Agora.
Termino minhas higienes matinais, visto um vestido de seda, azul claro e desço para o café. Meus pais conversavam, e pararam assim que notaram minha presença.
— Então filha, você leu? — Meu pai foi o primeiro a falar.
— Ainda não. — Fui até ele e depositei um beijo em sua testa, e em seguida, na de minha mãe.
— Não banque a esperta! Leia logo! — Ordenou, começando a ficar nervosa.
— Calma querida, ela acabou de acordar. Deixe-a, que ela logo lerá. — Tentou acalmá-la. Sentei-me ao lado deles, e peguei o papel que minha mãe havia me dado.
"Christopher Watson, acabou de perder seu pai, que faleceu de causas naturais, passando assim, a ser o único herdeiro da fortuna e do Reino Watson. O príncipe (que em breve será coroado rei), fará um baile daqui há doze dias, (contando a partir de amanhã). O motivo exato do baile, não se sabe ao certo, mas há boatos de que o príncipe precisa escolher uma esposa em breve, para que seja coroado, senão os conselheiros escolherão uma esposa para ele. Caso ele não escolha sua esposa, no tão esperado baile, sofrerá consequências, a ponto de ser exilado.
— Que horror! — Fiquei perplexa. — Eles não podem exilar alguém de seu próprio reino... Ou podem? — Encarei meu pai, esperando ele negar.
— Pode sim minha filha. Ele precisa se casar, para ser coroado rei e ter herdeiros. São as normas de Darmanys. — Explicou.
— As vezes penso em ir embora desse lugar. Não compreendo o motivo de tantas regras. — Revirei os olhos.
— São para nosso bem, minha filha. E você como uma Darmanyana, deveria sentir orgulho do lugar onde vive. — Repreendeu-me.
— Eu sinto papai, mas acho que as vezes, as regras são muito rígidas. — Expliquei. — Eu por exemplo gosto de usar calças, mas aqui não é permitido, somente os homens podem usar.
— Mas calças foram feitas para os homens usarem, os vestidos são para mulheres. — Argumentou, o óbvio.
— Mas, o que há de mais em mulheres usarem calças? — Queixei.
— E os homens, poderiam usar vestido? — Rebateu.
— Não vejo problema algum, com tanto que assim eu possa usar calças também. — Admiti.
— Você sabe que tudo isso, é uma tremenda bobagem e vai contra as normas de Darmanys.
— Normas e blá blá... As pessoas simplesmente, não podem escolher a forma como querem viver. — Contestei.
— Aqui temos um padrão minha filha e tudo o que podemos fazer é segui-lo. — Explicou. — Ou então...
— Ser exilado ou chicoteado em praça pública. — Completei.
— Assim como aquele casal. — Lembrou.
Eu não gosto de lembrar, pobre casal. Eles adulteraram, e foram exilados daqui, com toda humilhação e palavras ofensivas. Eles tentaram argumentar que se amavam, e que não era justo terem que se casarem com outras pessoas sem amor, mas o Conselho de Darmanys não perdoou. Eles nem sequer podem voltar algum dia, ou receber qualquer ajuda vinda daqui. Realmente neste lugar, as regras são demasiadamente rígidas.
— Bom, voltando ao assunto... Você irá neste baile. — Minha mãe propôs.
— Mas... — Contestei.
— Mas nada Allison, você irá no baile e pronto. — Exigiu.
— Mas e se ela for a escolhida, para ser esposa do príncipe? — Meu pai tomou a frente.
— Você não entende Hudson? Se ela se tornar esposa do príncipe, nossos problemas financeiros acabarão. — Presumiu.
— Annabeth, você está falando em vender nossa filha?! — Ralhou.
— Não. Pense que eles são jovens, podem se apaixonarem e se casarem. — Argumentou.
— Haverá muitas pretendentes mais bonitas e elegantes que eu, acha mesmo que o príncipe iria se apaixonar logo por mim? — Arqueei a sombrancelha. — E mesmo que ele se apaixonasse por mim... Eu não quero me casar.
— Não quer se casar, e ter uma família? — Cruzou os braços, não se dando por vencida.
— Claro que sim. — Respirei fundo. - Mas não agora. — Encarei o pedaço de bolo que outrora parecia delicioso, mas agora perdi a fome.
— Você vai neste baile e vai ser a escolhida pelo príncipe. — Esbravejou, como se fosse simples assim.
— E se eu não quiser ir? - Contesto.
(...)
Hum, onde será que essa discussão vai parar? Se quiser saber, então não perca o próximo capítulo.
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Até que A Vingança Nos Separe
Roman d'amourEle só tinha doze dias para escolher a mulher perfeita para se casar, antes que tivessem que escolher para ele, ou pior, ele tivesse que sofrer graves consequências. Ela jurou que jamais se apaixonaria, e que iria se vingar daquele que a comprasse...