Capítulo 27

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James/ Leonardo

Antes era prazeroso ir à empresa, mas agora.. Agora, tudo mudou. É difícil deixar minha mulher sozinha em casa e ter que passar o resto do meu dia, rodeado por completos idiotas.

Hoje tenho mais uma droga de reunião de negócios, isso é tão irritante. Ficar no meio de um bando de babacas de terno, falando sobre edifícios e casas e afins.

- Senhor, com licença, os empresários já estão na sala de reunião a sua espera. - Tatiana. Ela aprendeu a lição. Finalmente, não entra mais de supetão em minha sala.

- estou indo - respondo com a voz grave para mostrar que sou a autoridade aqui. Ela respira fundo e seus olhos brilham. Percebo suas pupilas dilatarem.

Não dou mais a mínima atenção à ela, fecho meu laptop e pego alguns documentos que vou precisar para essa reunião. Quando olho novamente pra porta, ela já se foi.

Caminho calmamente até minha sala de reunião e abro a porta cautelosamente. A sala está cheia de advogados e empresários. Todos me olham curiosos. Dou um bom dia sem ânimo e sento em meu lugar.

A reunião prossegue como de acordo. Chata pra caralho. Mas não dá pra não me concentrar em tudo que está sendo acordado. É muito dinheiro em jogo.

Ao final de uma hora e meia de negociações, saio satisfeito com o resultado. À caminho de minha sala, meu celular vibra no bolso da calça. Meu coração dispara quando vejo no eclã a foto da minha Yasmin. Não espero por nada e atendo, enquanto continuo meu caminho.

- oi amor, aconteceu alguma coisa? - pergunto preocupado. Ela não costuma me ligar em meu horário de trabalho.

- nada de preocupante, amor. É que minha mãe me ligou agora pela manhã e eu.. - ela pausa um pouco, sinto sua ansiedade na voz. Entro em minha sala e fecho a porta. Me acomodo em minha cadeira enquanto espero ela concluir - eu contei à ela sobre você! Sobre nós, mais precisamente.

Relaxo ao perceber que não é nada sério. Mas fico intrigado, não sabia que ela ainda não havia contado à própria mãe sobre nós. Afinal, quando uma mulher começa a morar com seu namorado é difícil a mãe dela não saber. Acredito que seja algo importante para se guardar. Apesar de que minha própria mãe ainda não sabe sobre minha mulher. Mas sou homem e conosco é um tanto diferente.

- e está tudo bem? - pergunto receoso, se a mãe dela se opor e ela resolver ir embora, não sei do que sou capaz. Afrouxo a gravata em meu pescoço e sinto uma ansiedade absurda tomando conta de mim.

- tá sim, mas ela quer te conhecer. O que significa que precisamos conversar a respeito de irmos à casa dos meus pais. - viagem. Isso não estava em meus planos. Quanto menos eu aparecer em aeroportos, melhor pra mim. - então? O que digo à ela?

- Yasmim, eu vou entrar em uma reunião agora, mas assim que eu chegar em casa nós conversamos com calma, tudo bem? - não tenho nenhuma reunião agora, mas não posso conversar sobre isso por telefone. Preciso estar frente à frente com ela, para fazê la mudar de ideia. Não posso me arriscar em um aeroporto, mesmo com documentos novos. Tudo é um grande risco.

- tudo bem amor, vou pedir peixe e salada pro nosso jantar, ok?- ela pergunta tranquila, mas sei por sua voz que está inquieta.

- perfeito. Amo você, até a noite - me despeço.

- também te amo! - sua voz é sensual, me fazendo ter ideias que não são legais agora. Não onde estou. Ficar duro no trabalho não é nada legal.

Jogo o celular em cima da minha mesa. Estou frustrado. Como vou fazer a Yasmim desistir de uma viagem à casa dos pais dela?

Apoio meu rosto em minhas mãos. Meu celular volta a vibrar. Número privado.

Era só o que me faltava!

- Alô? - atendo temeroso. Há um barulho forte de vento do outro lado da linha.

- Sou eu mano, Miguel. - não consigo relaxar mesmo sabendo ser meu irmão. Odeio quando ele me liga. Os riscos são grandes. E ele sabe disso.

- Porra Miguel. Já te falei pra não me ligar! Eu já te dei meu email. Porque não me chama lá?

- desculpa, cara.- o barulho de vento dificulta ainda mais a ligação. Pela sua voz grogue, ou está bêbado ou drogado! O que me irrita ainda mais.

- fala logo o que você quer! - digo sem a mínima paciência. Ele ri. Esse puto ri!

- calma cara! - ele pede sorrindo e o vento continua.

- onde você tá? Que barulho de vento da porra!

- tô na praia, brother. Na praia de Acapulco. Lembra daqui? Quando vinhamos dar uns mergulhos nos meios dos riquinhos de merda. Dois favelados no meio da burguesia. - suspiro derrotado e nostálgico.

- claro que me lembro, seu merda! Mas agora você faz parte dessa burguesia. - sorrio, tantas lembranças em minha mente. Sinto falta do meu País, da minha família. Mas tenho total noção de que foi uma escolha minha. E se não fosse essas escolhas, nenhum de nós estaria onde está hoje, e nem com a conta na suíça recheada!

- eu sei brother. - ouço um barulho de porta de carro sendo aberto, logo o barulho do vento cessa. - tô na merda, cara! - ele admite e juro escutar um soluço seu. A última vez que meu irmão chorou pra mim, foi quando saí do México. Algo de muito ruim deve ter acontecido.

- o que você aprontou cara? - pergunto preocupado. Ele soluça mais um pouco e demora pra responder, o que não me acalma nada.

- ... Eu.. Vou ser - ele pausa novamente e chora audívelmente. - A Dulce tá grávida, cara!

Mas que merda!

- você é muito babaca, Miguel! - falo sem pensar muito - caralho. Um filho, Miguel! Mas que merda!

- eu sei - é tudo que esse puto consegue falar antes de desabar em lágrimas e soluços. Como ele vai criar um filho envolvido em toda merda que ele puxou pra si.

A chamada é finalizada. Ele provavelmente desligou.

Mas que merda!

Tanto que eu o alertei pra não ter filhos. Não sem antes abandonar a vida que ele leva lá. Mas que filho da puta egoísta.

Não tenho mais condições de continuar na empresa. Guardo meu celular no bolso, pego alguns pertences. Desligo meu notebook, pego o e saio porta a fora.

Ouço a Tatiana gritar preocupada, digo que estou indo embora e entro no elevador, que por sorte havia acabado de se abrir em meu andar. A vejo vindo correndo em seus saltos agulhas. A porta se fecha e suspiro. Tenso. Nervoso.

Se eu tivesse frente à frente com o Miguel agora, daria uma surra nele.

Mas que porra!

Soco a parede do elevador, na inútil tentativa de aliviar a tensão.

As portas se abrem e sigo o mais rápido que posso para o estacionamento.

Preciso sumir.

A Dama Do TráficoOnde histórias criam vida. Descubra agora