Capítulo 28

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Miguel

Depois que saí de casa, viajei cerca de uma hora até Xaltianguis, lá deixei meu carro e encontrei cinco comparsas. Entrei numa caminhonete com eles e fomos pra Chilpancingo, mais uma hora de viagem montanha a cima.

Estávamos levando uma carga de duas mil Ak's 47 para um cliente poderoso da região. Formar aliados é importante. Para despistar, a carga estava toda coberta por cachos de bananas.

Viajar a noite para fazer as entregas é menos arriscado. Encontramos menos blitz pelo caminho. E dificilmente somos parados, pois aparentamos ser meros agricultores.

{...}

Entrega feita. Nova aliança formada.

Fiz todo o trajeto de volta sentindo muito cansaço. Não quis ir pra casa, era madrugada ainda. Fui pro escritório e dormi por lá mesmo.

Pela manhã, escutei meu celular tocando, mas quando fui até próximo dele, ouvi dois tiros no andar de baixo da minha loja.

Adrenalina a mil, peguei minha pistola na gaveta da minha mesa e fui descendo as escadas fazendo o mínimo de barulho possível. Avistei um dos meus seguranças estirado no chão.

Um buraco de bala na testa e muito sangue se espalhando rapidamente. Esse já era. Desci mais alguns degraus apontando a arma em direção dá entrada, mas quem quer fosse que fez isso já havia ido embora.

Ainda escutei barulho de pneus queimando no asfalto, corri para tentar ver quem era, mas eles foram mais rápidos. Filhos da puta!

Olhei pela loja e descobri que o caixa havia sido arrebentado, só o que restou foram algumas míseras moedas.

Raiva e preocupação me dominavam. Quem quer que tenha feita isso, sabe bem com quem mexeu. E eu não iria deixar barato.

Pouco depois minha secretária chegou e além de ter que me preocupar com um monte de merda pra resolver, ainda tive que fazê la se acalmar e parar de gritar estéricamente. A fiz ligar pra um dos meus outros comparsas e em pouco tempo o corpo morto e ensanguentado do LJ já havia sido levado embora.

Tirei minha camisa e Fechei ao máximo a porta da entrada para não chamar atenção. Por sorte, ainda era cedo pra ter movimentação naquela rua.

Limpei todo o sangue do chão, enquanto a vadia ficava me olhando de longe, assustada e trêmula.

Quando terminei a limpeza, a chamei para me ajudar a tomar banho. Meu coração ainda batia descontrolado pela raiva e adrenalina, eu precisava relaxar.

Depois de um banho regado à sexo selvagem, voltei ao escritório e coloquei uma roupa limpa. Dispensei a Adriana e enquanto fechava a loja, o Brandon, motorista da Dulce apareceu à minha procura.

Sua fisionomia era de preocupação, temi ter acontecido algo com a Dulce. Depois do ataque à minha loja, tudo era de se esperar.

Ele me contou que ela havia desmaiado e estava no hospital, precisando de mim. Não pude deixar de suspirar aliviado. Ele pareceu estranhar meu comportamento, mas eu tava pouco me fudendo pra opinião de um mero motorista.

Fui em meu carro até o hospital em que ele me indicou, seu carro logo atrás do meu.

Minha mente não parava de buscar possíveis filhos da puta corajosos o suficiente para invadir minha loja e matar meu segurança.

{...}

Odeio hospitais.

E graças a minha esposa, agora eu estava dentro de um.

Meu celular vibrava insistente enquanto eu estava sendo guiado por um dos médicos, até o quarto onde ela estava.

Antes de abrir a porta do quarto, ele pôs a mão em meu ombro e me olhou firme. As palavras seguintes me destruíram.

- sua esposa está grávida e precisa de repouso ao máximo, pois sua pressão arterial está elevada. Os riscos de um aborto espontâneo ainda não podem ser descartados. - Grávida! A desgraçada está grávida!!

Senti todo meu corpo se enrijecer. Tenso. E com mais raiva ainda. Meu coração batia tão desesperado que acreditei que teria um ataque cardíaco a qualquer momento.

E então ele abriu a porta e me esperou entrar. Ele veio logo em seguida. Minha respiração era curta e rápida.

Olhei bem nos olhos da Dulce, deixando a saber o quanto eu estava furioso. Seus olhos se arregalaram e ela ficou tensa.

- vou deixá los a sós - o médico pigarreou, tenho certeza que ele sentiu o quanto o clima daquele quarto estava pesado. E então ele saiu.

Apertei minhas mãos em punhos tão fechados que chegaram a doer. Minha vontade era bater nela até aquele projeto de bebê não existir mais.

Caminhei até a janela e foquei na vista. Tentei controlar toda minha fúria assassina. Eu não podia tocá la. Havia muitas testemunhas ao redor.

- Miguel - ela me chamou, a voz baixa e trêmula. Não lhe olhei. - Miguel, por favor. Vem aqui - eu não conseguia acreditar em tudo o que estava me acontecendo de ruim.

Respirei fundo. A raiva mal controlada. Fui em sua direção. Ela se encolheu na cama. Assustada. Mas ainda assim eu podia ver seus olhos brilhando de felicidade. É claro que a desgraçada tava feliz. Foi o que ela tanto desejou.

- amor, por favor- ela pediu novamente e tentou tocar minha mão. Não permiti. Me afastei novamente. - não fica assim, Miguel, por favor. - uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Os olhos logo encheram e eu sabia que não seria mais capaz de me controlar se continuasse ali tão perto dela.

- você me ferrou, Dulce. Mas isso não vai ficar assim! - Rosnei e saí o mais rápido que pude.

Ao passar pela portaria, avistei a cozinheira e o motorista dela. Não parei. Fui até meu carro e dei partida. Eu precisava ficar sozinho. Precisava pensar no que ía fazer.

Dirigi rápido até um bairro próximo. Peguei meu celular do bolso da calça e digitei uma mensagem curta.

" trais a parada. 200 gramas. Da melhor"

Joguei o celular em cima do banco do carona, ao meu lado. Liguei o som. Reggaeton.

Passaram poucos minutos até um moleque magrelo se aproximar do meu carro. Baixei um pouco o vidro e entreguei algumas notas à ele, em troca peguei meu pacotinho da paz.

{...}

Quatro carreiras cheiradas ali no carro mesmo, desci pra praia.

Desci do carro e fiquei olhando o mar. Como sempre a praia estava agitada.

Tantas lembranças boas, quando meu irmão morava comigo.

James. Sinto falta dele. Meu brother.

Num ato desesperado pego meu celular e disco seu número.

Sei que ele odeia quando ligo, mas preciso conversar com alguém de confiança. Talvez ele me dê uma resposta do que devo fazer.

{...}

Eu sou um babaca desgraçado. Um covarde inútil. Meu irmão tem razão. Ele sempre tem.

Choro feito um cretino idiota, dentro do meu carro. Não sei o que fazer. Nunca me senti tão perdido, como estou agora.

Não nasci pra ser exemplo, não vou ser um bom pai. Eu sei matar, é o que faço de melhor. Como a Dulce não percebeu ainda isso? Porque ela quis tanto um filho meu?

Não há saída.

A Dama Do TráficoOnde histórias criam vida. Descubra agora