capítulo 43

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Miguel

A viagem até oaxaca é longa e cansativa, e mesmo estando em companhia se torna tediosa.

Mantenho uma velocidade constante de 80 km/h, não quero chamar atenções indesejadas, por alta velocidade.

Tento não pensar na patética noite de ontem com a Dulce. não acredito que fui otário de chorar na sua frente... que porra! ligo o som da BMW X5 e tento pensar em qualquer outra coisa que não seja a Dulce, mas falho miseravelmente. ela me olhou com tanta ternura... me acolheu sem reclamar, mesmo depois de tudo que já fiz com ela!

Não sei o que me deu para ir até a casa dos pais dela daquele jeito. não que eu me importe com eles, mas a Dulce já está perto de ter o bebê e não pode ter raiva. ainda me sinto um merda quando penso que vou ter um filho... isso tem me aterrorizado mais do que devia.

O James tem razão, eu sou um babaca egoísta! mandei a Dulce para casa dos pais achando que com a distância ela me esquecesse, mas ao contrário disso, ela se mostra cada dia mais amorosa comigo.

Não sei mais o que fazer para ela entender que é melhor viver sem mim!

Bufo frustrado e aumento o som. A música Dile, de Don Omar preenche o carro e nem assim me distraio.

Meu celular vibra no bolso da calça, mas não me dou o trabalho de olhar. Piso um pouco no acelerador. as ruas estão quase desertas.

(..)

São pouco mais de onze da noite quando chegamos ao ponto de encontro. paro meu carro e outros três para ao meu lado, sendo um deles, uma caminhonete carregada de laranjas, nosso disfarce.

Desligo o som e saio do carro, sendo seguido de alguns comparsas meus que vieram para o trabalho.

-confere a mercadoria, Henrique - ordeno com a voz grossa. Tenho que mostrar que não estou para brincadeira.

Uma hora depois, já estamos prontos para voltar à Acapulco.

A verdade é que eu não precisava ter vindo, mas era isso ou aturar a Guadalupe falando merda por eu ter quebrado algumas garrafas de vodka no meu quarto.

Antes de iniciarmos a viagem, vou ao banco de trás e preparo três carreiras generosas. cheiro rápido e quando o efeito inicia dou ordens de voltarmos.

Dessa vez fico no banco de trás, não tô com saco de dirigir.

No trajeto, tomamos certa distância um do outro para não chamar atenção.

A madrugada segue silenciosa e fria. meu celular vibra novamente. Olho a tela, é a Dulce! a essa hora ela já deveria estar dormindo. que mulher insistente... não atendo e fecho meus olhos. não consigo dormir, mas não quero render nenhum assunto com esses caras.

(...)

Cheguei em casa exausto. o James tá certo, tenho que tirar um tempo dessa merda toda. chego no meu quarto e me jogo na cama. a bagunça que fiz não está mais aqui... minha irmã deve estar puta de raiva por ter arrumado. que se foda! não pedi pra vir ficar na minha casa... e por falar nela ainda bem que não me viu chegando. Me poupa de uma falação desnecessária.

Não tiro meus tênis, e mesmo sendo apenas três e meia da tarde eu fecho os olhos e durmo.

(...)

Essa porra desse celular não pára de tocar!  que inferno!

Acordo com uma imensa vontade de arremessá lo na parede, mas olho por curiosidade quem tanto me perturba. A Dulce, de novo! puta que pariu, que mulher chata da porra!

- o que você quer Dulce? - tento me controlar, mas a raiva é notável em minha voz. ela suspira nervosa do outro lado do aparelho antes de responder e isso me irrita mais ainda- fala logo porra! - grito sem paciência nenhuma.

- Não estou me sentindo bem, Miguel, vem pra cá por favor. - ela pede choramingando e lembro que a data do parto está no limite.

- cadê sua mãe, porra? Ela quem tem que te ajudar! - bravejo ainda irritado, Olho o relógio de cabeceira de cama, são quase dez da noite.

- meus pais estão aqui, mas quero você comigo! É nosso filho que está perto de nascer seu idiota! - ela grita e isso me pega de surpresa. ainda estou cansado da viagem, mas se eu não for ela vai ficar ligando e é capaz até da minha mãe aparecer por aqui. saco!

- estou indo - respondo ríspido e desligo. não sei em quê vou ajudar estando lá.  não sou médico, nem porra nenhuma!

Me levanto e vou ao banheiro, tomo um banho demorado e quando estou pronto, mando uma mensagem avisando a que estou de saída. Espero que assim ela não ligue mais.

Passa da meia-noite quando estaciono na garagem de seus pais. a casa tá escura... Os seguranças me olham surpresos e temerosos. devem estar estranhando o fato de eu estar aqui novamente. duas vezes em uma mesma semana! é, isso é mesmo de estranhar. que se danem!

Entro e vou direto ao seu quarto. A porta está aberta e quando ela me vê, suspira aliviada. coloco minhas chaves em sua mesa e após fechar a porta, tiro minhas sandálias e me jogo em sua cama. estou com muito sono.

- você demorou! - começou a falação do caralho!

- eu tô aqui Dulce, não estou?! - Olho o seu rosto e vejo desconforto neles- o que você têm, afinal? Cadê sua mãe que não tá aqui?

- não falei pra ela que estou me sentindo mal. Estou com muita dor nas costas. Muita mesmo. - ela se senta e levanta um pouco a camisola, aponta com o dedo onde sente dor, me mostrando.

Massageio seu local dolorido e ela geme baixinho. seu rosto me mostra que ela realmente está sentindo dor.

- melhor irmos pro hospital - digo calmo e ela me olha chorosa.

- já disse que nosso bebê vai nascer em casa! a parteira já está a caminho. liguei pra ela depois que você me mandou a mensagem- ela fala com dificuldade e começo a me sentir desconfortável.

- você quem sabe! - digo conformado. quando ela quer ser teimosa, não adianta retrucar. mulher dos infernos!

Continuo massageando suas costas. sua barriga está enorme... não tinha reparado antes. escutamos barulho de chuva e olhamos a janela ao mesmo tempo. ótimo! uma tempestade. era o que faltava!

- dói tanto Miguel- sua voz sofrida e chorosa chama novamente minha atenção.

- vou chamar sua mãe!- informo já me levantando. ela não protesta. saio do quarto... me sinto um intruso aqui nessa casa.  isso é uma porra!

Chamo sua mãe e seu pai acorda junto. digo o que está acontecendo e ambos me seguem preocupados. volto ao encontro da Dulce e fico encostado na parede apenas ouvindo sua mãe lhe questionando os motivos dela não a ter chamado. elas continuam conversando e acho tudo um saco. seu pai sai e elas tentam ligar pra parteira novamente. lá fora a chuva se intensifica. essa noite vai ser longa! eu devia ter trazido um pouco do pó.

Suspiro cansado e me sento na poltrona do quarto da Dulce. parece mais um quarto de adolescente... não sei pra quê tanto rosa.

Alguns raios são ouvidos e a Dulce se senta a beirada da cama, chorando baixinho e se contraindo de dor. sua mãe fala que vai encher a banheira e me pede para ajudar a tirar a camisola da Dulce.

Me levanto sem ânimo e a ajudo. sei que não é o momento, mas olhar seus seios acaba mexendo comigo. estão enormes e apetitosos.

- pára Miguel! - ela percebe meu olhar e me repreende. suspiro e me sento ao seu lado, massageio mais suas costas-  liga pra parteira, por favor.

Me levanto e pego o seu celular. ligo três vezes e a puta não atende. a Dulce me pede um remédio pra dor e fico perdido. sua mãe chega a tempo e me pede pra colocá la na banheira, então ela sai do quarto. faço o que ela me pediu.

As horas passam e a chuva continua forte. a parteira não dá notícias... começo a ficar realmente preocupado e volto a insistir para irmos para o hospital, mas a Dulce se nega. ela não só chora, mas grita também. a água da banheira já está fria e sua mãe está ao meu lado, tentando acalmar a filha.

- mamãe me ajuda- a Dulce pede desesperada e isso me deixa mal.

Saio do banheiro e deixo as duas se resolverem. tento ligar de novo, mas agora os telefones estão mudos. deve ser por causa dessa maldita chuva!

Estou tenso. me pego andando de um lado para o outro. vou até a janela e olho a chuva.

O dia já está quase amanhecendo quando ouço o choro do meu filho.

Corro pro banheiro sentindo um desespero enorme, sua mãe está cortando o cordão umbilical com uma tesoura pequena e a Dulce está chorando e sorrindo ao mesmo tempo, segurando junto aos seios nosso bebê.

Seu choro é forte e isso alivia algo em mim. olho a água da banheira que agora está avermelhada... ajudo a Dulce a sair, sua mãe pega toalhas e juntos enrolamos minha mulher e meu filho. quando voltamos ao quarto, seu pai está nos esperando. os olhos vermelhos de quem chorou.

A Dama Do TráficoOnde histórias criam vida. Descubra agora