A Dama Do Tráfico

Capítulo 22

Por Dulce

Acordo pela manhã com fortes dores pelo corpo, até respirar me dói.

Com muita dificuldade consigo ir ao banheiro, me desespero ao ver meu reflexo no espelho, muitas manchas roxas. Não sei por quanto tempo fico sozinha, chorando. mesmo sem forças tomo um banho morno e me troco, coloco um dos meus muitos vestidos longos.

Passo algumas camadas de base no rosto e em meu pescoço onde o Miguel mordeu, não quero que as empregadas e nem os seguranças me vejam machucada... não quero que me julguem fraca.

Vou ao andar de baixo para tomar meu café da manhã, sem ânimo nenhum.

Meu corpo congela quando paro ao pé da escada e vejo meu marido vindo em minha direção. Tento me forçar a sair do caminho, mas meu corpo não me obedece. Evito olha lo nos olhos e encolho meu corpo ainda machucado... para meu espanto, o Miguel para ao meu lado e segura minha cabeça cuidadoso e me beija na testa... sinto meus olhos lacrimejarem. ele não vê. Sobe as escadas e eu fico parada, sentindo uma explosão de sentimentos. Uma parte em mim grita de raiva e me diz pra ir embora... a outra parte se auto-destrói de amores ao Miguel.

Enxugo meu rosto e vou até a cozinha me alimentar.

(...)

Depois que termino meu desejum, vou para a biblioteca. Para minha sorte, o Miguel não desceu até o momento. Não saberia como reagir a um café da manha com ele. Não hoje. Não depois do que ele me fez ontem. O Miguel estava fora de si completamente .

Sinto falta da minha mãe, da minha tia, do meu pai...

Não me lembro a última vez que os vi.

Novamente sinto meus olhos marejarem... lágrimas pesadas rolam sem pedir permissão.

Me sento ao chão e me abraço. deixo que essas lágrimas sejam libertadas.

(...)

São sete da noite... estou no meu quarto deitada, cochilei um pouco à tarde, o que ajudou um pouco a diminuir as dores... continuo com cólicas e meu período ainda não desceu.

Sinto meu celular vibrar e o busco sem pressa alguma, é uma mensagem.

Uma mensagem do Miguel.

💌 Se arrume. vamos ao cinema hoje. vou mandar o motorista le levar. lá nos encontramos.

Não sei se rio ou se choro. Uma noite ele me bate e na outra me chama para sair!

Não consigo dizer não ao Miguel. eu o amo, e mesmo estando muito magoada... continuo o amando.

(...)

No caminho até o cinema, fico em completo silêncio. Não quero olhar a paisagem fora do carro. Me limito apenas a olhar minhas mãos... que por sinal estão geladas.

Estou nervosa, há muito tempo não saio com o Miguel. Ele está sempre irritado ou chega muito tarde em casa!

- tudo bem com a senhora?

Me assusto com a voz do Brandon, meu motorista. seus olhos me inspecionam através do espelho retrovisor.

- Está sim Brandon.- minto descaradamente. Ele é apenas um funcionário do meu marido, não posso lhe contar o que houve e nem o motivo do meu silêncio!

- a senhora está com um olhar tão triste essa noite.

O Brandon sempre é gentil comigo, mas hoje está mais conversador que o habitual.

- apenas dirija Brandon. quero encontrar logo meu marido!

Tento soar o mais decidida possível. Não sou idiota, sei que alguns homens se aproveitam de estados frágeis de nós mulheres para se aproximarem. Amo meu marido acima de tudo! Jamais seria infiel a ele.

(...)

Estou nervosa, minhas mãos suam frio, meu coração parece que vai saltar boca a fora.

Desço sozinha do carro, vou encontrar meu marido. Não há porque ficar nervosa!

Justamente por ser o Miguel que estou nervosa!

Minha consciência me perturba.

Ando devagar pois tenho medo de tropeçar em minhas próprias pernas agora.

Olho as vitrines por onde vou passando, tento me distrair olhando as novidades nas lojas.

Vejo uma loja especializada em roupas de bebês, sinto um enorme desejo de entrar.

Entro na loja e vou caminhando por entre as futuras mamães que passam por mim.. Quero tanto ser mãe, ter um filho do meu Miguel.

Os minutos voam enquanto olho distraída as minúsculas roupas. Ouço meu celular tocar impaciente em minha bolsa, e só então me lembro que o Miguel está me esperando para irmos ao cinema. O nervosismo volta com força. Ele deve está muito irritado pelo tempo que o fiz esperar.

Saio apressada da loja, enquanto pego o celular e o atendo ofegante..

—onde raios você se enfiou Dulce? -sua voz é grossa e raivosa, me fazendo tremer.

— me desculpa Miguel, me distraí em uma loja, mas já estou bem próximo ao cinema! -respondo nervosa, ouço ele bufar do outro lado da linha antes da ligação ser encerrada.

Guardo o aparelho de volta à bolsa e ao dobrar na esquina de mais algumas lojas, o vejo parado em pé de frente à entrada do cinema.

Ele está tão lindo. A barba feita, calça jeans escura, uma blusa pólo branca que evidencia seus braços fortes e de tênis também brancos.

Respiro fundo tentando afastar o nervosismo e a ansiedade.

Ele está olhando para a tela do celular e digitando algo, ainda não me viu.

Meu coração continua acelerado. Eu o amo tanto. Mesmo depois do que ele me fez na noite passada, olhá lo assim me faz esquecer tudo de ruim que já passei com ele.

Há poucos passos de distância ele eleva o olhar e me vê, guarda o celular na calça e caminha em minha direção.

Sinto que vou desmaiar a qualquer momento. Ele se aproxima e segura em meu pescoço, me beija. E nesse momento sinto que mais nada existe. Somos só nós.

Me deixo levar pelo momento, pelo desejo. Ele finaliza nosso beijo com um selinho.

Toda tensão que eu estava sentindo desaparece. Sorrio feito uma boba apaixonada o olhando.

— porquê demorou tanto? - sua voz não está mais nervosa.

—me desculpa. - é tudo que consigo falar.

Seus olhos são tão lindos.

—tudo bem, vamos logo que a sessão já começou tem 15 minutos!

Ele segura em minha mão com firmeza e nos encaminha à sala do cinema.

Sentamos em nossos lugares, a sala está um tanto vazia. Me surpreendo quando vejo que o filme em questão é exatamente o que eu o havia chamado para assistirmos algum tempo atrás.

O Miguel fica atento à grande tela, mas vez por outra o sinto me olhando.