23 - Final Call

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Nunca havia me sentido tão devastada em minha vida. Devastada e inútil. Além de ter levado todos para uma missão suicida, ainda não consegui resgatar meu irmão e minha melhor amiga foi morta, por um erro meu, e eu não estava me culpando pela morte dela sem motivo, eu realmente fui culpada. No momento em que o navio balançou com meu terremoto, a faca que a mulher segurava na garganta de Beatriz a rasgou. Não precisei de muito raciocínio para perceber isso, era óbvio. Loki dizia que não era minha culpa, mas eu sabia que não era verdade. Thor nem conseguia olhar para mim e Peter assim que chegou e soube o que aconteceu, me culpou, e sei que ele estava em seu direito. Eu havia levado a mulher dele para isso e agora ela estava em coma. E não era a primeira vez que ela estava comigo e algo assim acontecia. Eu sempre levava todos para o seu fim. Me pergunto se a irmã ruim não sou eu.
Me encolho mais no banco e percebo Loki se virando para me observar, logo desviando sua atenção para a parede a nossa frente novamente.
-Você tem que ir pra casa descansar.-ele fala, ainda olhando para a parede branca.
-Não posso, quero falar com meu pai.
-Vamos voltar para a Austrália, passar um tempo lá até tudo se acalmar. Vai ser bom para você.-ele virou para mim e puxou minha mão para a sua.
-A Austrália não vai me fazer esquecer que falhei com meu irmão e matei Beatriz.-deitei a cabeça sobre o joelho e fechei os olhos para impedir as lágrimas de caírem.
-Drika...-ele me chamou tirando meu cabelo da frente do rosto.
-Você não me matou.-abro os olhos assustada e olho para o banco a minha frente. Beatriz estava sentada lá, ela sorriu e cruzou as pernas.-Foi aquela vaca com a faca.
-Fui eu que quase virei o barco.-falei, ainda sem entender como ela estava ali.
-Drika, com quem está falando?
-Eu...-olhei para a minha frente novamente mas não havia mais ninguém ali, apenas o banco vazio.-Era... Nada, eu... tenho que achar meu pai.-estico minhas pernas para fora do banco e levanto.
-Drika, pare com isso. Você sabe que ele não pode te atender agora.-ele segurou meu braço e me olhou com pena.-Ele está resolvendo as coisas do funeral.
-Loki, se ele quiser me rejeitar terá que ser pessoalmente, não precisa me poupar.
-Precisa sim e obrigada Loki. Vamos levá-la para casa.-ouço Victoria e olho para o corredor de onde ela vinha.
Seu olhar estava apagado. Seu semblante pesado. As marcas vermelhas em seu rosto, sinalizavam o tanto que ela havia chorado nas últimas horas.
Dou um longo suspiro antes de responder.
-Eu não vou para casa.
-Você vai sim, sabe que não vou desistir até te levar embora. E o funeral vai ser de manhã, precisamos nos preparar, e Lena está ajudando papai.-ela diz cautelosamente, como se cuidando para não dizer algo que me faria... surtar.-Loki se você quiser ficar com Thor...-ela continua, mas Loki a interrompe.
-Drika precisa mais de mim.
-Eu realmente acho que seu irmão precisa mais. Ele só tem Knut agora e ele é apenas um bebê. Thor precisa de um apoio. Drika tem a mim ainda, já ele...
-Vai lá, seu irmão precisa de você.-eu digo, apertando sua mão.
-Você vai se cuidar?-ele pergunta incerto.
-Aham.
-Pare de se culpar, okay?-apenas assenti para ele, que me deu um beijo na testa e sorriu fracamente antes de se virar e partir.
Olhei para Vic que tinha um olhar triste e piedoso ao mesmo tempo. Ela estendeu sua mão para mim e a peguei.
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Meus olhos arderam com a luminosidade repentina e levantei os olhos para ver quem tinha aberto a cortina e lá estava Beatriz com um sorriso debochado no rosto.
-Vamos levantar ruiva, já deu de cama por um bom tempo.
Resmungo e cubro a cabeça com a coberta. Fazia mais de uma semana desde que tudo aconteceu, e tenho visto Beatriz constantemente, claro que eu sabia que era minha cabeça, mas não deixava de ser real. E ela aparecia sempre nos momentos mais irritantes, assim como a verdadeira.
-Você nem está aqui, eu não vou obedecer a uma miragem da minha cabeça.
-Hey, não me chame de miragem, tenha mais respeito com a melhor amiga que você matou.-sentei na cama e olhei incrédula para ela.-Ao menos isso te fez levantar. Você não me matou, garota burra. E para de se culpar pelo que aconteceu. A morte de Henry foi culpa de Eadlyn, e a minha da vaca com a faca e você sabe que Sue foi porque quis, Peter só está te culpando por estar exausto e devastado. E Sue quando acordar com certeza vai dar um esporro nele por ter te culpado.
-Porque está aqui?-choramingo.
Mesmo depois que ela tinha morrido eu não sabia o que sentia em relação a ela falar tudo na minha cara, sem medo de me machucar. Se antes era complicado, agora depois do que aconteceu, era terrível.
-Porque você precisa de mim e sempre vou estar aqui enquanto precisar.
-Você está morta, não pode estar aqui.
-Eu não estou aqui, não realmente.
-Eu sei, mas...
-Com quem você está falando?-ouço meu pai e só então percebo que ele estava entrando no quarto.
-Pai, o que faz aqui?
-Você está bem?-ele olha para onde segundos antes eu olhava enquanto falava. Onde Beatriz ainda estava parada, o encarando.
-Claro.-sorrio.
-Está estranha.
-Está mesmo ruiva. E esse sorriso está assustador.-ela se jogou aos meus pés na cama e revirei os olhos para ela.
-Porque será.-falo baixo.
-Olha eu sei que você está sofrendo, mas se trancar aqui não vai adiantar.-ele fala e senta na beirada da cama.
-Verdade, preciso concordar com o enferrujado. Você devia estar procurando a vaca loira e não choramingando aqui.-encaro ela pensando em suas palavras.
-Filha?-volto a atenção ao meu pai.
-Alguma pista de Eadlyn?-pergunto e ele me olha surpreso.
-Nada ainda, mas Lena e Loki estão perto de achar algo.
-Não vejo Loki faz dias.-digo, me sentindo culpada.
-É, mas você não está nem tentando. Se esconde de todo mundo. A única que te vê todos os dias é sua irmã.
-Me desculpe, eu te deixei sozinho novamente.
-Não deixou, você estava aqui. Estávamos juntos no enterro do seu irmão e da sua outra irmã.
-Ai que lindo. Vou chorar.-Beatriz fala, e abana os olhos.
-Mas eu me exilei de novo.-falo, sem dar atenção ao drama dela.
-Sei que é assim que lida com sua dor. Aceito isso. Mas, agora está na hora de voltarmos ao trabalho. Logo Loki conseguirá desbloquear a mente de George e teremos uma grande batalha pela frente.
-Não vamos achá-los tão fácil assim. Se George sabe o esconderijo, eles devem ter mudado já.
-Se eles pretendessem mudar não teriam bloqueado grande parte de sua memória.
-Acho que fizeram só por crueldade, principalmente fazer ele esquecer que Carol tinha morrido só pra ele reviver a dor de novo.-meu pai fala.
-É.-digo, dando de ombros e volto o olha para minhas mãos.
-Quer vir pra S.H.I.E.L.D comigo? Assim vai poder ver sua rena.
-Você está mesmo desesperado pra me tirar desse quarto. Se fosse em qualquer outro momento faria qualquer coisa pra me afastar de Loki.
-Tenho que superar, se aquele troço te faz feliz não tenho mais o que fazer.
-Sábia decisão.
-Se arruma que vou esperar lá em baixo, foguinho.-ele levantou e bagunçou meu cabelo rindo, antes de sair.
-Ele ficou mais fofo depois que morri ou é impressão minha?
-Ele sempre foi fofo.
-Aham, foferrímo, um doce, igual limão.
Rio dela e vou em direção ao roupeiro.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Na metade da viagem de carro até a S.H.I.E.L.D percebo que Beatriz estava muito quieta no banco de trás. Nem fazia comentários sarcásticos enquanto eu conversava com meu pai. Ao não ver ela sinto um aperto no peito e um medo de que ela tenha sumido de vez. Eu sabia que ela não era um fantasma, que era só minha imaginação, mas ainda assim era como se ela estivesse ali e não vê-la mais era difícil de imaginar e de aguentar.
-O que está olhando?-meu pai olha pelo espelho para o banco traseiro e franze a testa.
-Nada.
-Você está realmente bem?
-Uhum.
-Drika, posso não ser o pai mais presente do mundo, mas percebo quando está diferente.
-Você é um pai incrível, eu sou a filha ingrata aqui.
-Tudo bem, você é uma filha terrível, mas esse não é o ponto. O que você tem? Fica olhando para o nada o tempo todo, como se estivesse realmente vendo algo ali e não apenas como se estivesse distraída.
-Você me chamou de filha terrível?-tento fugir da pergunta.
-Você não aceita que eu te chama de boa filha de qualquer jeito. E não mude de assunto. O que está acontecendo com você?-ele parecia muito preocupado.
Resolvo contar, não importo que ele me ache uma louca. Eu mesma me acho uma louca, na verdade, mas, ele merecia saber, por menor que fosse o problema.
-Eu ando vendo...-ouço meu celular começar a tocar e o pego vendo o nome da mãe de Michael na tela. Estranho e olho para meu pai, que continuava me olhando, após colocar o carro no automático. Atendo a chamada.-Alô?
-Kater... Drika, Drika... Eles sumiram, eles sumiram.-ouço a voz desesperada de Mônica.
-O que? Quem sumiu, dona Mônica?-entro em pânico, começando a imaginar o pior.
-Meu filho e Maggie, eu... eu estava com Bernard... quando vim trazer ele... Oh meu deus... a casa está quase destruída... levaram meu menino... Tem um bilhete, é endereçado a você. Eu... eu não sei... o que fazer.
Meu pai agora me encarava mais preocupado do que antes. Certeza que eu estava com uma cara apavorada. As lágrimas já tentavam sair de meu olhos, mas engulo o desespero por um momento.
-O que... o que ela diz?
-Diz "Eu vou acabar com cada um... lentamente... e no final só restará você, e eu a destruirei como uma formiga. Você pediu por isso, aliás, obrigada pela bela marca que deixou em meu rosto. Ah, quase ia me esquecendo, seus amigos quase mortos mandam lembranças. Com amor, de Rinda, para Drika."-o silêncio se instaura por segundos.-Você a conhece?
-Infelizmente, dona Mônica, ela é minha irmã.
A senhora se cala do outro lado da linha. Ouço um bebê começar a chorar ao fundo.
-Eu vou encontrar Maggie e Michael, eu prometo. Mas por favor pegue Bernard e se esconda. É perigoso que fiquem aí, qualquer um que me conhece corre risco nesse momento.
-Eu não tenho ideia do que está acontecendo. Mas por favor, apenas traga meu menino de volta. Por favor, por favor.
-Eu darei meu máximo, eu prometo. Michael ficará bem.
-Que... Deus te ajude, querida.-ela diz e desligo a chamada, dando um longo suspiro em seguida e limpando as lágrimas que caíram involuntariamente.
-O que Eadlyn fez agora?-meu pai pergunta, já sabendo de quem se tratava.
-Ela acabou de cavar a sua própria cova, apenas isso.
No momento em que termino de falar ouço um barulho estrondoso e então minha visão escurece.




You're like a demon in the dark/ Você é como um demônio no escuro
And like a force with no release/ E como uma força sem descarga
You're claiming control/ Você está reivindicando controle
But you're always telling me/ Mas você está sempre me dizendo
I'm too broken to be fixed/ Eu estou muito quebrado a fixar
I'm too numb to feel the pain/ Eu sou muito insensível para sentir a dor
Too blind to see the truth/ Cego demais para ver a verdade-Final Call-Koven.

Live Like Legends - Season 3Onde histórias criam vida. Descubra agora