Doutor "cara dura"...

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Notinha: (não é nota de 100 reais, ma oeeee, quem quer dinheiro?) Todos os capítulos são narrados por Davi, um tijucano que cresceu em Itajaí, um papa-peixe mesmo.

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Bom, teve toda história do meu pai que estava com aquele tumor na próstata e ficou internado no municipal. Se ele me quisesse como acompanhante ou pelo menos minhas visitas, mas não, ele era irredutível, então fiquei no meu canto cuidando da minha vida.

Ele ia ser submetido à cirurgia para depois fazer quimioterapia e a mãe aproveitou para vir me ver e insistir que eu tentasse outra vez me aproximar do pai, disse que eu devia consertar o estrago que fiz na família.

Nossa, como era doloroso ouvir isso da mãe. No começo, logo que fui expulso pelo pai, numa noite orei e pedi para o Pai lá de cima me "consertar", porque eu queria muito voltar pra casa e se eu fosse diferente, talvez deixaria minha família feliz.  

Porque eu queria mudar, se era feliz do meu jeitinho? Sempre me gostei e fui feito assim, amém!

Foda-se! Eu sou assim!

Passado uns meses, a dita cirurgia foi marcada para aquela época do meu aniversário final de maio e minha patroa (baita gente boa) me deu as férias, porque achou importante eu "cuidar" um pouco do pai e descansar.

Eu fui cedo para o hospital, pois a cirurgia seria às 9 da manhã, se não houvessem emergências maiores.

Fiquei fora do centro cirúrgico com a minha mãe que estava exausta, quando um dos médicos se dirigiu a uma moça bonita que tinha por ali. Soube que era esposa de um policial que foi baleado no quadril.

Era o macho!!! O doutor Adriano com aquele uniforme verdinho, touca, máscara e luvas. Reconheci quando este baixou a máscara e conversou com a mulher. Pela expressão de alívio dela o marido estava fora de perigo. Então o doutor deu aquela olhada geral pela sala de espera e de repente os olhos dele pararam nos meus e isso demorou alguns segundos a mais. Nossa, achei que ia desmaiar. Fiquei com as bochechas quentes. Logo, ele pôs a máscara no lugar e entrou no centro cirúrgico outra vez.

Não queria crer que estava a fim do cara. Eu ia sofrer, poxa meu Jesus querido, sofrer mais. Só euzinho sei o que já passei e não teria um macho daquele nem em outra vida.

A mãe e a Ana Alice (minha mana) se revezavam para cuidar do meu velho que um dia me aceitou para uma visita.

Não nos abraçamos, mas ficamos conversando sobre sua recuperação. Ele estava mais humano, pelo menos me pareceu, porque até deixou que eu dormisse uma noite lá como acompanhante.

De manhã meu corpo doía muito por ter dormido sentado num sofá bem pequeno. Mas o melhor foi o que me acordou: aquele timbre de voz inconfundível.

- Bom dia, meu jovem – Era o doutor Adriano dirigindo-se ao meu pai. Naquele dia ele estava com a com barba bem aparada, de calça jeans e camisa social, cheiroso e com aquele cabelo molhado. Meu bom Jesus de Iguape. – Como o senhor passou a noite? Deixa eu ver os pontos.

Ele parecia ignorar minha presença totalmente e nisso a mãe chegou.

- É o velho tá novinho outra vez, logo o senhor pode fazer a alegria da esposa outra vez.

O pai deu uma gargalhada e a mãe riu sem graça.

- E esse menino, é teu piá? – Ele perguntou ao meu pai. - Não tem como não ser, é a tua cara.

Ah, ele me notou. Eu não queria ir emboraaaa... Mas, me despedi da mãe e do pai assim que o doutor saiu do quarto.

- Vai para casa e descansa, nego. – Ela me sugeriu.

Amor "Peixeiro"Onde histórias criam vida. Descubra agora