Minhas lágrimas

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♫ meu rosto vermelho e molhado é só dos olhos pra fora... todo mundo sabe que homem o não  chora♫  (só se estiver morto que não chora).

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Flagra!

Salésio entrou em um dos banheiros completamente constrangido e eu mais ainda.

- Chega, me solta. – eu puxava o braço sem encarar Adriano.

- Olha pra mim, Davi. – Isso foi mais um pedido que ordem. – Acho que te devo...

- Não deve nada! Não me quis antes, agora eu não quero... - Ele me interrompeu.

- Quem disse que eu não queria, tivesse paciência? – Agora ele me interrompeu e estava com uma cara tão triste que me partia o coração.

- Só por meses. Adriano, me solta, por favor - falei baixo - me deixa em paz, ainda estou tentando te esquecer, me deixa em paz, me deixa... – Chorei na frente dele porque tudo pesava e vinha de encontro. Chorei porque eu estava sendo "sufocado" pelo acúmulo de coisas que passei. E se minha vida fosse uma ficção, beleza, eu ajeitava de forma que agradasse aos outros, mas era minha vida real. Tava tudo errado...

Ele lentamente me soltou e eu sai quase correndo do banheiro.

- Achei que tinha ido pela descarga – Disse a Sol quando passei pela mesa onde o pessoal estava. – que foi, ei Davi?

Eu não parava de tremer e não conseguia falar. Abri minha carteira, pus sobre a mesa uma nota que nem lembro o valor e disse:

- Preciso ir pra casa.

Comecei a caminhar pelo centro da cidade, querendo muito desaparecer e se nada me acontecesse, eu mesmo faria alguma loucura. Escutei uma voz de mulher.

- Davi espera, tô berrando desde o restaurante. O que aconteceu?

- Quero ir embora, mas não quero ir pra casa do Charles.

- Tá, eu tô de carro e te levo, vem. – Fui embora com a Sol, mas não conseguia conversar. – Aconteceu alguma coisa no banheiro? O Salésio comentou que tavas discutindo com um cara quando ele entrou.

Ah merda, mais essa, será que ele disse só isso?

- Foi aquele que ficou olhando para ti?

- Não quero falar dele... – Meu celular tocou e era o Charles.

- Bebê, já posso te buscar?

- A Sol está me levando, assim tu podes dormir cedo. 

Ele aceitou meio desconfiado, disse que ia me buscar no trabalho na sexta e me mandou uns mil beijos. Chegando em casa me joguei na cama...poxa eu gostava do meu negão, mas não conseguia ter força para rejeitar o outro. 

Eu precisava ficar um tempo sozinho e organizar a bagunça que fiz. Adriano nunca fez promessas e hoje me deixa confuso outra vez. O que ele quer? Charles me quer na vida dele, mas e eu? O que EU quero? 

Ouvi uma buzina, que não era do Palio e meu coração bateu com tanta força que eu sentia uma veia pulsando da têmpora. Por uma fresta no black-out vi o carro preto. Aguardei quietinho até que ele fosse embora...

De manhã acordei com dor de cabeça, me arrumei e fui pegar o ônibus, seriam meus últimos dias de coletivo vermelho.

Na trade, bati o ponto e fui a sala do Salésio.

Conversei com ele sobre a cena que tinha visto e ouvi apenas:

- Cada um sabe o que faz da própria vida.

Amor "Peixeiro"Onde histórias criam vida. Descubra agora