Perigo

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Faith.

Nunca me senti tão bem dentro de um elevador, dá até vontade de ficar subindo e descendo dentro dele, como fazia quando era criança. O elevador chega ao térreo e já dou de cara com seu Isaac. Ele está olhando pra mim e rindo como de costume, esse senhor tem um humor que parece inabalável, mas dessa vez ele está rindo de algo realmente engraçado que eu não sei o que é.

— O que foi? O que é tão engraçado? — pergunto com um sorriso em meus lábios.

— É melhor limpar a boca, Faith. Você está parecendo um palhaço. — ele fala isso entre soluços de tanto rir.

— Oh, obrigado. — Estou envergonhado, mas não posso deixar de achar engraçado.

Ele vai parando de rir aos poucos, ou melhor, de gargalhar. O sorriso desse senhor é inevitável e contagiante.

— Cuide bem dela, não a machuque novamente... — ele me diz e agora está sério, coisa que eu ainda não tinha visto desde então.

— Novamente? Mas eu nunca a machuquei.

— Não estou falando de você, mas no andar da carruagem você pode cometer esse erro.

— Não é minha intenção... — ele me interrompe.

— Eu sei, mas fique sempre em alerta, para não comete-lo. — eu queria um pai assim e ele nem é pai biológico dela.

Após me despedir saio do prédio e fico parado dentro do meu carro, pensando no que seu Isaac me disse. Eu queria um pai como ele, mas meu pai está mais preocupado em me fazer famoso e a cada dia marcar mais shows para mim. Ainda são onze da noite e eu estou aqui parado. Ligo o carro e tento tira-lo dentre os dois carros que estão me trancando. Minha noite está perfeita!

Estou próximo ao hotel e paro na entrada do estacionamento, como de costume, buzino para que o porteiro abra para mim e abaixo meu vidro. Sou surpreendido por um rapaz, que coloca uma arma em minha direção e me manda descer do carro. O portão está quase todo aberto e eu tento acelerar, mas ele dispara contra meu peito e foge. A ultima coisa que eu consegui ouvir foi o barulho do carro se chocando com o outro carro que estava estacionado no fundo da garagem e agora está tudo escuro.

Marte.

Acordei essa manhã com um mau pressentimento, mas tudo que eu quero é ver o Faith. Estou atrasada pra faculdade então nem me arrumo muito e vou. Paro pra comer alguma coisa no caminho e aquele sentimento ainda não passou. O pior de tudo é que eu não tenho nem o número do telefone dele. Termino de comer e vou para o ponto de ônibus e sinto meu celular vibrar. A Níara me ligando uma hora dessas da manhã?

— Bom dia flor do dia. — digo calmamente, mas ela fica calada do outro lado. — Níara, o que aconteceu?

— O Faith tá no hospital... — congelo do outro lado da linha e meu coração quase para. — ele levou um tiro ontem enquanto chegava no hotel e bateu com o carro.

— Qual hospital? — sinto meus olhos encherem de lagrimas e minha cabeça parece que vai explodir.

— RHP. — ela diz e tenta parecer calma. — Você está bem?

— Estou indo pra lá. — desligo o telefone e sinto que a deixei preocupada.

O RHP fica em um sentindo totalmente contrario ao da minha faculdade e levo cerca de uma hora pra chegar lá. Corro em direção à recepção

— Quero ver o Faith! — falo desesperada pra recepcionista que parece não me entender.

— Calma senhora... — pessoas calmas nessas horas me tiram do sério. — Qual o andar que ele se encontra?

— Não sei... Eu preciso vê-lo. — sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto e tento esconde-la.

— A senhora é irmã dele? — Pra que tantas perguntas?

— Não, sou namorada. — era a única forma que ele me deixaria entrar.

— Ele está no terceiro andar, quarto 303. Ele passou por uma cirurgia agora a pouco, então evite toca-lo. — isso não seria problema pra mim, mas no momento é tudo que eu mais quero.

Entro no elevador que parece um ano pra subir, ele para em todos os andares até o terceiro e a única coisa que eu consigo pensar é no nosso beijo na noite passada. Ele para no terceiro e eu saio o mais rápido que posso do mesmo. Olho pra ambos os lados do corredor, isso aqui é enorme. Vejo uma enfermeira e corro em sua direção.

— Onde está o Faith? — pergunto e depois percebo que sei o número do quarto. — Onde fica o quarto 303?

— O quarto do bonitão é no fim do corredor! — ela ri e segue andando no lado oposto ao que estou indo. Desnecessário ela chama-lo de "bonitão".

Entro no quarto e junto a ele tem uma bela moça ruiva. Minhas pernas travam ao ver essa cena. Ela levanta o olhar até mim e eu não tenho reação.

— Pois não? — ela me trata como se eu fosse uma estranha, que eu sou. — quem é você?

— Sou amiga dele. Ele estava comigo ontem a noite antes de tudo acontecer. — ela ergue uma sobrancelha e eu quase não consigo falar.

— Amiga? — queria saber o que essa garota é dele, mas não tenho jeito pra perguntar.

— Sim, amiga. — engulo seco e respiro fundo. — ele vai ficar bem, não vai?

— Vai sim, já retiraram a bala e disseram que ela não atingiu nenhum órgão. Ele está se recuperando bem, mas ainda não abriu os olhos desde ontem e agora ele está sedado. — Respiro aliviada, mas queria que ele acordasse logo.

Entro e sento em uma cadeira ao lado da cama. Queria tanto segurar sua mão, mas a recepcionista pediu pra evitar toques e eu não sei quem é essa ruiva que não foi muito com a minha cara. Escuto a porta se abrir e olho na direção da mesma. Entra um senhor com uma menina no colo, ela aparenta ter dez anos.

— Quem é essa garota? — ele pergunta colocando a menina no chão.

— Disse ser amiga dele, papai. — diz a ruiva e agora eu acho que ela é irmã de Faith.

— Então deve ter sido por você que ele decidiu voltar tão cedo a Pernambuco. Você sabe o que aconteceu?

— Não, ele já não estava comigo quando aconteceu... — isso é obvio sua idiota. — recebi a ligação de uma amiga avisando que ele estava internado aqui e vim correndo.

— Então vocês são só amigos mesmo? — sentir humor na sua pergunta e minhas bochechas ficam corada.

— Bem... — não faço ideia do que dizer — acho que sim.

A menina ainda está do lado do senhor e fica me olhando fixamente.

— Vovô, quem é essa? — ela fala baixinho, mas deu pra entender.

— É a namorada do papai. — ela me olha espantada e ri. — bonita não é?

Ela balança a cabeça dizendo que sim ainda olhando pra mim.

— Vamos tomar um café, Pietra. — ela levanta e vai em direção à porta — Vamos Sophie. — que corre em sua direção. Ele me olha e sorri. Estou sozinha com Faith.

— Queria tanto que você abrisse os olhos e me mostra-se esse sorriso lindo pra mim. — respiro fundo — Por que quando eu acho que tudo vai dar certo, isso tinha que acontecer? Meu alivio é saber que você está se recuperando rápido e logo vou poder te ter pra mim de novo. — coloco minhas mãos no apoio lateral da cama, mas na verdade queria coloca-las no seu braço.

Já anoiteceu, está perto das 22 horas e ele ainda não abriu os olhos. Seu pai foi pra casa tomar um banho e sua irmã foi descansar e levou Sophie junto. Eu não vou sair daqui tão cedo, não até ele falar comigo. A vontade de toca-lo é enorme, mas eu não posso... Será que tem problema se eu segurar sua mão? Aproximo minha mão da dele, com medo que alguém veja, até toca-la e fazer meus dedos escorregarem entre os seus. Ele respira fundo...

— Esse toque é único. — ele fala baixinho e meu coração explode.

— Faith? — eu falo sorrindo. — Já estava desesperada!

Rose of FaithWhere stories live. Discover now