CAPÍTULO LXXX

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De Secretário

Na noite seguinte fui efetivamente à casa do Lobo Neves; estavam ambos,

Virgília muito triste, ele muito jovial.

Juro que ela sentiu certo alívio quando os nossos olhos se encontraram, cheios de curiosidade e ternura; e não direi o que senti, porque isso já ficou expresso no capítulo anterior, in fine. O Lobo Neves contou-me os planos que levava para a presidência, as dificuldades locais, as esperanças, as resoluções; estava tão contente! tão esperançado! Virgília, ao pé da mesa, fingia ler um livro, mas por cima da página olhava-me de quando em quando, interrogativa e ansiosa.

— O pior, disse-me de repente o Lobo Neves, é que ainda não achei secretário.

— Não?

— Não, e tenho uma idéia.

—Ah!

— Uma idéia... Quer você dar um passeio ao Norte?

Não sei o que lhe disse.

— Você é rico, continuou ele, não precisa de um magro ordenado; mas se quisesse obsequiar-me, ia de secretário comigo.

Meuespírito deu um salto para trás, como se descobrisse uma serpente diante de si.Encarei o Lobo Neves, fixamente, imperiosamente, a ver se lhe apanhava algumpensamento oculto... Nem sombra disso; o olhar vinha direito e franco, aplacidez do rosto era natural, não violenta, uma placidez salpicada de alegria.Respirei, e não tive ânimo de olhar para Virgília; senti por cima da página oolhar dela, que me pedia também a mesma coisa, e disse que sim, que iria. Naverdade, um presidente, uma presidenta, um secretário, era resolver as coisasde um modo administrativo.

Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)Onde histórias criam vida. Descubra agora