"And I realised that, no matter
how hard painful or hopeless
my day may seem...I'm never alone!"
Os meus olhos abriram-se com dificuldade devido à luz do dia. Senti um peso encostado a mim e vi Dylan a dormir, um pequeno sorriso apoderou-se de imediato da minha cara ao ver que a pequena criatura veio ter comigo durante a madrugada. Olhei para o relógio pendurado à porta da enfermaria. As horas pareciam não passar, eram quase nove da manhã e eu estava sentada ali nas escadas, depois de apenas três horas de sono. Não entendia a razão de não me deixarem ir ver o Carl, se ele já está consciente... O meu pé batia freneticamente no chão, usando esse movimento como forma para manter a minha ansiedade controlada. Já não conseguia chorar (acho que as lágrimas tinham secado), então estava ali, com o Dylan adormecido, a sentir o meu coração a despedaçar-se em mil pedaços.
Ouvi a porta a abrir e logo virei a minha cabeça; era Beth. Ela deu-me um sorriso confortante, pensando que isso iria aliviar a minha preocupação, mas não o fez. A loira sentou-se à minha beira e pousou a cabeça no meu ombro, respirando fundo. Os seus olhos e nariz estavam vermelhos, o que indicava que ela também tinha estado a chorar.
"Não me sinto eu mesma." desabafei, voltando a sentir as lágrimas a invadir os meus olhos. "Só quero desistir e tornar-me outra pessoa..."
"Tu importas-te mesmo com ele, não é?" eu acenei afirmativamente com a cabeça. "Então vou-te dizer uma coisa, Kayla. As pessoas com quem te importas, elas fizeram de ti a pessoa que és. Elas fazem parte de ti. Se deixares de ser quem és, esse ultimo pedaço ou essência delas que anda por aí algures..." ela apontou para o meu coração. "Quem tu és... deixa de existir. Por isso tens de te manter forte, por ti e pelo Carl. As coisas vão mudar!"
O discurso de Beth só me fez chorar mais e lembrar-me da minha família. Aquele pedaço que eu tinha deles em mim, estava apenas adormecido, ao contrário do que eu pensava. E depois voltei a pensar em toda a gente naquela prisão, que agora são a minha família e no Carl. Beth tinha razão... As coisas iriam mudar de certeza, provavelmente Carl voltaria a ficar agressivo por consequência do que aconteceu.
"Portanto, promete-me que entras ali de cabeça erguida." eu juntei as minhas sobrancelhas com a resposta da loira.
O meu coração parou e eu arregalei os olhos.
"Ele está bem?" perguntei, entre soluços.
"Com algumas dores, mas sobreviveu." Beth respondeu.
Levantei-me num ápice, tendo cuidado com Dylan e corri pelas escadas, abrindo a porta com brutalidade e respirando fundo, enquanto mais lágrimas caíam. E depois vi Carl... Ele estava acordado, com uma ligadura à volta do seu olho e sentado na cama, a falar com Rick.
E mesmo assim, ele não deixava de ser tão atraente como sempre foi. O seu cabelo estava sujo de sangue seco, mas mesmo assim não estava completamente desgrenhado.
Voltei a soluçar devido ás lágrimas quentes que escorriam pelas minhas bochechas. Os meus soluços chamaram a atenção de Carl e ele virou o seu olhar para mim e deu um meio sorriso.
Corri para ele, abraçando-o e sentindo todos aqueles pedaços partidos do meu coração a juntar-se outra vez.
"Carl..." disse, chorando.
"Eu estou bem!" ele afirmou instantaneamente, só para me deixar segura, com a voz rouca e hesitante quanto ao facto de me abraçar ou não. "Ouvi dizer que estiveste a noite toda lá fora."
"Não me deixavam entrar."
"Porque estavas muito nervosa." Rick intrometeu-se.
Assenti, concordando com o pai de Carl e limpando a minha cara com as mãos.
Rick fez-me uma festa na cabeça e saiu da nossa beira, indo falar com Hershel.
Carl olhou para mim e pegou-me na mão direita, suspirando. Já podia sentir que ele iria ter um longo período de recuperação.
"E agora vais ficar bem?" questionei, a medo.
"Em principio... só preciso de manter a ligadura limpa e tomar os analgésicos. Foi por sorte que a bala não perfurou o cérebro, segundo o Hershel."
Suspirei tão alto que até o meu peito ficou a doer. "Eu senti-me tão perdida, sem saber para onde me virar... e tão confusa."
"Mas tu estás aqui, não estás? Tu voltaste a conseguir."
"Só porque estás bem!" respondi. "E tu não podes fazer isso. Entrares na vida de uma pessoa, fazê-la importar-se contigo e depois saltar fora." ri, com os olhos embaciados, batendo-lhe no braço.
"A questão é que eu nunca saltei fora." ele até pareceu indignado. "Nem vou saltar!"
(...)
Sentei-me numa das mesas do refeitório e dei um gole no chá verde que tinha acabado de fazer. Estavam praticamente todos reunidos ali, conversando alegremente, ás vezes perguntavam-me a minha opinião e eu respondia, tentando integrar-me na conversa.
Carl andava por aí, ninguem sabia bem onde. Não queria roubar-lhe o seu espaço pessoal e estar com ele 24 horas por dia, para além disso, ele devia estar a precisar de algum tempo sozinho para organizar a sua própria mente.
"Posso-me sentar?" Olhei para cima e vi Glenn. Sorri-lhe e assenti. "Como tens estado?"
Respirei fundo. Eu e Glenn não temos interagido praticamente nada e isso era uma sensação estranha. Sei que têm acontecido bastantes coisas que também não contribuem para isso, mas o facto de ele finalmente ter vindo falar comigo deixou-me um pouco emocionada.
"Bem..." encolhi os ombros.
"Eu vi-te a dormir perto da enfermaria esta noite." ele admitiu. "Foi por causa do que aconteceu com o Carl?"
Assenti. Não queria responder com palavras, sentia que ia começar a chorar se o fizesse e já me doía suficientemente a cabeça de todas as lágrimas que derramei nas ultimas vinte e quatro horas. Sabia que ele queria fazer alguma pergunta relacionada comigo e com o Carl, mas Glenn parou-se a si próprio. Isso foi um alivio, eu não iria saber o que responder, fosse qual fosse a pergunta.
Em vez de falar, Glenn simplesmente puxou-me para um abraço. Os seus braços enrolaram o meu pequeno corpo enquanto a mão dele fazia carícias no meu cabelo. Foi tudo tão repentino que nem tive tempo de retribuir o abraço em condições.
"Honestamente, não entendo como te mantens tão forte." ele disse, deixando-me perplexa. "Não tens um minuto de descanso, todos os dias acontece algo novo e chocante e mesmo assim, tu consegues lidar com a situação, apesar de seres apenas uma adolescente."
Lágrimas começaram a cair involuntariamente pela minha cara. Tinham sido dois dias demasiado stressantes e acho que não estava a conseguir controlar as minhas emoções.
"Ás vezes não consigo lidar. A maior parte das vezes, não consigo." contrapus, ainda abraçada ao coreano. "Passo os dias a chorar e a ter esgotamentos. Acho que isso não é bem a definição de ser forte."
"Num mundo como este, acordares todos os dias com um sorriso na cara é ser forte." ele apertou-me mais contra ele.
Varias pessoas que entraram no bloco, viram o nosso abraço e quiseram juntar-se. Primeiro veio Rick, depois Daryl, Dylan, Amber, Michonne, Carol, Sasha, Maggie, Beth, Tyressee.
E eu espreitei por entre aquele apertado e numeroso abraço, para observar todas as pessoas que estavam ali... E se importavam. E percebi que, não importa o quão difícil, doloroso ou sem esperança o meu dia pareça ser, eu não estou sozinha!
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• The Reason • ➳ cr/cg
TerrorDepois do começo do Apocalipse, o mundo ficou um caos. Pessoas morrem e tornam-se zombies, zombies matam pessoas, que morrem e, por si só, transformam-se em mais zombies. Um ciclo vicioso bem assustador onde só pelo facto de respirares, podes estar...