10.

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Assim que pisamos em terras africanas, fomos recebidos com bastante música e dança pelas mulheres que iriam nos ajudar com tudo ali. Como chegamos quando já estava escurecendo, fomos direto para nosso alojamento. Enquanto os homens ficaram responsáveis por tirar nossa bagagem, as meninas se dividiram entre cozinhar algo rapidinho, já que estávamos morrendo de fome, e separar alguns medicamentos, prontuários e utensílios necessários para fazer os exames de malária do outro dia.

Eu estava completamente exausta, tomei um banho no simples banheiro, avisei para meus avós, pais e Dani que eu já havia chegado e estava tudo bem. Nos reunimos para comer e logo os meninos foram para os seus quartos e nós, meninas fomos para o nosso.

- Parabéns pela loja, prima! - Lupita, minha prima, falou.

- Obrigada. - Retribui seu abraço. - Agora eu só quero sua visita lá, gastar bons Euros ali, por favor.

- Você e Danielle que têm a obrigação de me dar vários mimos. - Riu. - Mas até falei com Bernardo, precisamos fazer uma visita pra vocês duas. Tem tempos que não te vejo.

- Nas suas férias você vem para África e quando está em Barcelona só fica no hospital, Bernardo só fica no escritório. - Ela revirou os olhos. - Mas venham sim, passem um final de semana.

Lupita namorava o Bernardo há uns bons anos, ninguém lembrava quando exatamente ele entrou para família, mas em todas as fotos de eventos familiares ele estava presente, não sei de que forma.

- Quero olhar isso certinho, Leandro também precisa ir.

- Há! - Soltei uma risada. - Leandro eu desisto, não existe dentista mais enrolado que ele. Vamos combinar, seu irmão nunca aparece no horário certo e se aparece. - Rimos.

Ficamos jogando conversa fora, a Dani me ligou pelo FaceTime e ficamos bons minutos conversando, até que o cansaço venceu e apagamos.

•••

Após um rápido e animado café da manhã, fomos para a primeira zona de atendimento, que seria a zona C, onde iríamos fazer o controle da Malária e doação de roupas e calçados. Nos instalamos, deixando todos os equipamentos no lugar certo, ajudamos a organizar a fila indiana. Só ajudamos mesmo, porque há alguns anos, quando a ONG chegou aqui para sua primeira missão, ninguém ali sabia o que era fila. Quando vi o vídeo que meu avô me mostrou foi impossível não sentir os olhos cheios de lágrimas. Eram coisinhas, que aos nossos olhos eram tão pequenas, mas para eles eram uma alegria sem fim, aprender e conseguir reproduzir exatamente igual quando alguém lhe ensinavam.

Como minha ajuda ali dentro era praticamente nula, eu não sabia quase nada de medicina, mesmo tendo médicos maravilhosos na minha família, preferi ficar do lado de fora conversando e brincando com as crianças.

- Olá! - Mexi com um neném, que estava no colo da mãe, rindo para mim.

A língua oficial de Moçambique desde que se tornou independente era a língua portuguesa, então eu conseguia dar uma enroladinha, que para mim era mais que perfeito.

- Ele gostou de você. - A mãe disse, sorrindo. - Quer pegá-lo?

- Posso? - Sorrindo, ela me entregou o menininho que ainda ria. - Qual o nome dele?

- Ayo, meu menino Ayo. - Ela abriu um sorriso.

- Oi, Ayo, meu nome é Cate. - Ri, dando um beijinho em sua testa. - Ele vai passar na pediatria?

- Sim, mas não sei se vou poder esperar essa fila. Minha mãe está cuidando do meu pai sozinha e ela já é de idade. - Ela jogou o paninho do filho no ombro, se encostou na parede, tentando se esconder do sol.

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