Uma Gota De Vinho

Capítulo Um

MELISSA 

Estava em meu quarto, em frente ao espelho e olhando fixamente para a minha imagem refletida. – É hoje que a minha vida vai mudar... – Falo para mim mesma, querendo que isso realmente acontecesse. Alcanço minha escova de cabelos em cima da minha penteadeira e arrumo com ela alguns fios de meus cabelos que se encontravam desalinhados. Suspiro, levantando da cadeira e virando-me um pouco de costas para ver melhor minha imagem no espelho. Estava vestindo para aquela noite um vestido na cor preta. Era um curtinho que mostrava bem minhas pernas torneadas e valorizava bem minha bunda, ma não curto o suficiente para me fazer sentir vulgar. Era também aberto nas costas, mostrando sutilmente as curvas de minhas costas.

 Ouço o vibrar do meu celular, procuro-o e o acho em cima da cama. Na tela uma foto minha e da Maitê aparece. Sorrio e atendo prontamente.

 - Já está aqui embaixo? – Pergunto.

Maitê era minha melhor amiga desde o ensino fundamental, nós nunca nos desgrudamos desde a escola, fazíamos tudo juntas, os meus maiores segredos quem sabia era ela e minhas maiores dores também. Quando minha avó decidiu contar a verdade sobre a morte de minha mãe e meu irmão, Maitê estava ao meu lado. Eu tinha completado à uns meses atrás dezesseis anos e vovó decidiu contar a verdade sobre a morte deles. Quando aconteceu, eu tinha apenas seis anos de idade, essa foi a justificativa dada por ela por ter mentido que eles morreram em um acidente de carro. Mas na verdade eles foram assassinados.

Lembro-me como se fosse ontem, a expressão dela, explicando que em um dia de trabalho, minha mãe fora visitar um cliente para fazer uma visita em uma casa, já que era corretora de imóveis. Meu irmão foi acompanha-la, pois, por uma infeliz coincidência, a aula dele havia sido cancelada. Chegando à casa, na verdade a pessoa que marcou a visita era um bandido e criminoso. Tudo aconteceu rápido. 

 Fechei os olhos com força para espantar as lembranças e a voz da minha melhor amiga me trouxe de volta a realidade. – Mel, ainda tá ai? O Bruno está aqui no carro, estamos te esperando aqui embaixo do seu prédio, mas será que vou ter que ir até aí?

 Rindo, falo saindo do quarto, passando pelo corredor, indo até a sala e pegando minhas chaves e bolsa que estavam em cima do sofá. – Não amiga, relaxa, estou descendo já. – Desligo, abro a porta e saio do meu mais novo apartamento. – Era bem aconchegante e espaçoso, com muitas janelas, uma delas vinha do teto ao chão, me proporcionando a vista do parque Ibirapuera, é todo branco com apenas algumas paredes pintadas de cinza e preto, eu sei, nada feminino, mas eu gostava assim, combinava com a Melissa de agora. – Me mudei para cá 7 meses atrás, minha avó morreu de câncer no pulmão, morava com ela em uma casa no litoral, mas devido as circunstâncias tive que me mudar, não tinha mais ninguém, além do meu pai que sumiu após alguns meses da morte da minha mãe e de meu irmão, até hoje não tive notícias dele.

 Me encaminhei para o elevador que já estava aberto, parecendo que realmente estava a minha espera. Entrei e virei para me olhar no espelho do elevador, arrumo meus cabelos de novo, realmente eu tinha um tique. Todos elogiavam meu cabelo, acho que foi a partir daí que meu tique começou, eles eram compridos e cor de mel que no sol ficam mais claros do que são, nunca os pintei, sempre gostei da cor original e graças a genética da minha família, tenho cabelos lisos que não precisam de nenhuma chapinha, mas o que eu amava eram meus olhos, eles eram grandes e expressivos da mesma cor de meus cabelos, minha avó sempre acariciava meu rosto e olhando nos meus olhos dizia: "Você tem olhos de sonhadora, o melhor tipo de pessoa que possa existir, nunca desista de seus sonhos, tudo vai passar e você será muito feliz.". Senti meus olhos arderem com a lembrança, aperto rápido o botão do térreo, fecho com força meus olhos e sinto o elevador começar a descer.