Capítulo 9

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POV Logan

Tateio incansavelmente o velho chão de madeira, procurando uma fonte de barulho oco, similar a um pequeno cofre ou algo do tipo que possa caber um livro.

-- Você tem certeza que o escondeu por aqui? -- analiso o piso, ofegante.

-- Sim, foi uma das minhas últimas lembranças antes de morrer -- indaga, parecendo repassar mentalmente a palavra "morrer".

-- Por que não me contou antes? -- Faço outra pergunta.

-- Acha mesmo que eu iria te mostrar um livro oculto, envolvido fielmente a magia negra, que contém atributos de símbolos, instruções e códigos demoníacos? -- Arqueia a sobrancelha.

-- Sim -- Dou de ombros -- Sendo um livro de total peculiaridade por que você o leu?

-- Eu não cheguei a ler ele enteiro, só consegui traduzir as primeiras páginas -- Responde vagando aleatoriamente pelo meu quarto.

-- Traduzir? -- Interrogo Isabel confuso.

-- Sim, ele é escrito em latim e é muito antigo -- Sua leveza no olhar parece suspeita é sua hesitação nas seguintes palavras ficam nítidas -- Logan, você não pode ler este livro!

Ao ouvir suas palavras com convicção, paro no mesmo instante, saltando meus olhos em sua direção.
-- Claro que posso, é só um insignificante livro -- Digo com desdém.

-- Não literalmente...-- Comenta por fim cruzando os braços.
Não retruco, apenas a observo.
Cuja pisca os olhos várias vezes em um ato de ansiedade.
Incrível como simples atos conseguem entregar tão facilmente uma pessoa ao mentir ou esconder um segredo.

Me sento na cama, sentindo meus músculos se contraírem enquanto solto um suspiro pesado.
Eu vou achar aquele livro e não será Isabel que me impedirá, de alguma maneira tenho o precentimento que ele ajudará em algo sobre sua morte, uma pista, um motivo ou uma brecha.
Ela sabe perfeitamente onde se localiza escondido o livro...

Em um ato de descuido Isabel olha de relance pra cômoda grande, de cor escura que se localiza ao lado do guarda roupa, com alguns pedaços de madeira ainda enteiros, meio antiga, pela nítida cor desbotada num tom meio marrom amarelado.

Tento disfarçar minha risada abafada -- Acho que achei -- Digo irônico, me levantando depressa indo até a cômoda.

-- Não, Logan -- Me repreende brandando a voz, em um tom autoritário.

A lanço um olhar, curioso, observando seu rosto angelical, cativante de cor clara, especificamente pálida com seus grandes olhos de cor acastanhado me olhando afobados.
Sem digerir nenhuma palavra, arrasto a cômoda vagarosamente, que se manifesta com leves rangidos de suas madeiras ao se deslocarem do lugar que permaneceram durante um tempo um indeterminado.
Isabel murmurra uma sequência pesada de chingamentos tentando chamar minha atenção.

Encontro o livro, escondido em um pequeno buraco na parede, infestado de teia de aranhas e outros insetos desconhecidos.
-- Não é pra mecher no livro -- Avisa nervosa.

-- Ops, Já estou mechendo -- Dou um sorriso debochado, quando o livro brota em minhas mãos.

Tento assoprar as 3 camadas impregnadas de poeira que habitam em sua superfície, as fazendo se espalhar pelo ar. Instantaneamente início uma série de espirros avançado na sequência máxima.
"Droga, a asma"
Pego a bombinha...

Após desempoeirar, analiso o manuscrito sobre minhas mãos, capa grossa de couro com uma cor semelhante a sangue.
Abro meio receoso o livro, e sou recebido com frases:

Non legere!
"Não leia"

Abaixo de cada palavra há um tradução legível...

Hic iter est non reditus ... cave!
"Este é um caminho sem volta...cuidado!"

Cave quid dicis muros et aures habere.
Custodite animas vestras et quae agis
His actionibus deducere consectaria eius colligat.
Cave ad te respicere
sub lecto habitat certamen.
Speculum gemitus stridens, voces manet in ...
Ego te!
"Cuidado, com o que você fala
As paredes tem ouvidos.
Cuidado, com o que voce faz
Seus atos trazem consequências.
Cuidado, pra onde você olha
Debaixo da cama habita o inevitável.
No espelho os ruidos estridentes permanecem...
Eu te observo!"

Fico meio inquieto com a bela recepção.
Isabel permanece calada ao meu lado encarando o livro, com cara de paisagem.

Ao lado da página tem um grande desenho de uma estrelas de 5 pontas com um círculo ao seu redor.
Boatos dizem que é bem usada em ocultismo, com o significado de anti-Cristo.

Folheio o livro, dando um leitura rápida com os olhos em algumas páginas.
Aqui contém todo tipo de invocações, exorcismos, demônios, magias negras envolvendo sangues humanos, pactos, mortes de animais.
Nomes de capirotos, mortes horrendas muito detalhadas.

Paro por completo o livro em uma página com pedaços de jornais, notícias antigas de mortes, fotos...
Primeira página do jornal:

12 de setembro de 1875
Hoje pela manhã, houve uma morte em uma parte afasta da cidade, de um jovem chamado Louis Martin, ainda não sabemos do que se trata a morte deste jovem, mas a suspeitas de ser overdose. Com nenhuma marca de violência, pelo corpo do adolescente há símbolos, a polícia está a investigar.
Casa 313 próximo ao cemitério principal da cidade.

-- Ele morava nesta casa -- Comenta Isabel.

Analiso os outros pedaços de jornais recortados, todos com as mesmas características semelhantes a desaparecimentos de corpos ou até mesmo algumas sem noção da causa da morte.
As mortes estão em uma sequência de sexos opostos, mulher depois homem, todas nesta mesma casa.

-- Devo me preocupar? -- Pergunto com medo.

-- Provavelmente, sorte a minha que estou morta -- Comenta se gabando, sinto um arrepio percorrendo pela minhas pernas.

-- Cadê os outros que morreram, eles não deviam estar vagando aqui pela casa? -- Pergunto.

-- Não faço a mínima idéia, devem estar com suas almas pressas em algum objeto satânico -- Da de ombros.

-- Me lembre de não descartar está possibilidade -- Retiro os jornais que estão na superfície da página, encontrado um manual de uma invocação peculiar entre as antepassadas, tendo como requisito 10 sacrifícios com diferentes rituais.

hostias
et victimarum:

Louis Martin 1875
Carly Lost 1893
Robert Miller 1900
Sammy Taylor 1926
John Smith 1949
Clarke Hall 1974
Dylan Collins e Sophie Collins 1992
Isabel Cooper ...

Estremeço quando vejo o nítido nome de Isabel sobre a folha, em minha cabeça cresce um grande ponto de exclamação, uma resposta multiplica a dupla perguntas.
Não me arrisco a olhar pro seu rumo, permaneço imóvel no mesmo lugar com a costumeira respiração pesada.

-- Não, não, não -- repete descontroladamente -- Eu não posso ser um sacrifico -- Choraminga.

Me sento na cama, automaticamente, travando o maxilar, levando minhas mãos a cabeça passando-as levemente sobre meus cabelos.
Caraca, a exatamente dois meses atrás, minha vida era tão normal, contando com a presença de um pai vivo.

-- Logan, olhe de novo -- Isabel diz com a voz trêmula.

Pego o papel, rolando os olhos novamente pelos nomes, parando instantemente no último.

Logan Harris

Engulo em seco.
O rápido movimento que faço com os lábios, procurando palavras certas para protestar é simplesmente inútil.
Avanço os olhos em Isabel, desesperado e ela devolve o mesmo olhar.
Meus pensamentos permanecem martelando minha cabeça, "Vão me sacrificar" atônito, estas palavras me tormentam.

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