Capítulo 3: A casa do Albérico

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Não devo ter dormido bem, o dia anterior foi de fortes emoções mais como tinha aula pela manhã, levantei cedo, arrumei o que faltava e sair de casa preocupado com a chegada da nova moradora. Antes de sair combinei de me encontrar com os meninos meio dia na frente do prédio por que não sabia chegar na casa nova.

A essa altura não considerava eles mas confiáveis, mas que escolha eu tinha?

Podia ter perdido aula, mas naquela época não fazia isso. Era meio que suicídio acadêmico...

Ao meio dia encontrei Luis lar, cumprindo o combinado da noite passada.

Entreguei as chaves do meu apartamentozinho e fui para tão falada casa do Albérico.

O Alberico era um senhor de 94 anos, ativo, ainda dirigia seu carro semi-novo que não lembro a marca. Tinha um casarão num bairro rico chamado Lauro Passos. Uma das coisas que me chamava atenção é que ele namorava uma senhora de uns 50 anos, vê os dois juntos era algo de outro mundo. Seu filho mais velho tinha 64 anos na época, o Albérico me contou que esse filho não conseguiu continuar os estudos, disse algo como " tendo o que comer e o que beber basta', mais mesmo assim se tornou um homem rico em Cruz das Almas, dono de imóveis e galpões, tinha até um prédio de uns 4 andares em construção que víamos da casa do Albérico mesmo.

Outro fato curioso é que as pessoas sempre se iludiam em relação a nossa moradia.

O muro da frente da casa era simples,com seus 2 metros de altura, um portão maior localizado do lado direito do terreno quase colado com a mansão vizinha e outro menor no centro do terreno, ambos de grade com cercas elétricas por toda extensão, a tintura era velha mais ainda assim era um belo muro.

Aqueles que chegavam no portão não enxergavam nossa casinha atrás da grande casa , e sim um jardim sem muita diversidade, uma enorme garagem e um casarão.

Naquela época a casa do Albérico era uma mansão para mim, era uma casa térrea coberta por telhas, com varandas por quase toda a extensão onde o Albérico passava os dias deitado na rede ou sentado em uma daquelas cadeiras antigas e bonitas que em quase toda casa de gente idosa se encontra.

Entrei nela pouquíssimas vezes mais recordo que ocupava uma grande área, uns 200 m², pintada de branco, e ao fundo ficava a lavanderia onde constantemente Maria lavava roupa. Maria era a empregada do Albérico, ela morava na casa grande e fazia tudo para ele, eu daria  45 anos a ela, magríssima, era uma boa pessoa.

Assim que cheguei me empolguei com a grande casa do Albérico, mas o encanto foi sendo quebrado, despedaçado, triturado, pulverizado, desintegrado, a medida que avistei a casinha no fundo, com sua pintura dos anos 40, suas portas e janelas ainda do período colonial e seu piso cascudo, encardido contemporâneo aos primeiros dinossauros.

A sala-cozinha-escritório-caverna-abrigo ante bombas era mal forrada com telhas tão antigas quanto os pilares da Terra, mas que iluminavam a casa  se é que podemos chama-la assim) com seus buracos. O quarto era coberto com gesso, assim como o banheiro com sua decoração vermelha que não possuía porta.

Passei pela porta procurando disfarçar minha cara de espanto pela precariedade do local. Dei uma boa olhada, e percebi que era um pouco maior que meu antigo apartamento, notei uma mesinha e algumas cadeiras de madeira brancas na sala-cozinha-escritório-caverna enquanto no quarto havia uma cama de solteiro, o Jabes perguntou se eu queria ficar com ela mais como eu usava meus 2 colchonetes e um colchão de madeira recusei a oferta.

Durante a mudança minha estante/raque/peça de museu partiu ao meio, e meu garrafão de 20 litros de água rachou. Fiquei preocupado por que era uma das poucas moveis que eu possuía, ela era feia, velha e combinava muito com o restante da casa, mais tinha sido um presente e me servia muito. Jabes e eu carregamos e remendamos ela de modo a maximinizar nosso pouco espaço disponível.

Foi difícil acreditar que um casal havia morado ali antes de nós por cerca de 5 anos, foi eles que forraram o quarto e o banheiro com gesso, tenho medo de imaginar como o lugar era antes deles chegarem.

Arrumei o que tinha de arrumar, tirei copias das chaves, procurei me adaptar ao local.

Afinal, era barato, 200 reais incluso água e luz, no centro, num bairro de rico. E nós sujeitos desprovidos de renda fixa, precisávamos poupar dinheiro. Por que dois compromissos que conseguir ao ingressar na universidade foram: estudar e poupar.

E entre contas e contas, pagar o aluguel sempre era aque doía mais.

Lá na casa do AlbéricoWhere stories live. Discover now