Não demorei a perceber que apenas uma coisa era certeza na universidade: Algo que alguns desejavam, outros odiavam, algo que ate mesmo os indiferentes estavam sujeitos e para o qual não havia escapatória: Um fenômeno denominado pelos primitivos universitários como A GREVE.
As vezes ela chegava do nada, surpreendendo os mais fanáticos seguidores do movimento. Algo como numa bela manhã ir para a aula e encontrar o portão fechado com corrente e cadeado que nem mesmo os seguranças que vigiavam os prédios sabiam de onde veio ou quem os instalou.
Outras vezes a greve profetizava sua chegada muitos meses antes através daqueles que estavam na universidade a muito mais tempo do que qualquer ser humano normal suportaria ficar.
Ela surgia decretada da sala dos servidores, da assembleia do sindicato dos professores, dos corredores da universidade pelos alunos( você leu isso mesmo!), das páginas do facebook, do gabinete do reitor ou ate mesmo do comando nacional em Brasília.
O fato é que ela chegava sem pedir licença, interrompendo provas, trabalhos, estágios, formaturas, pesquisas e principalmente esperanças de um dia os discente se formarem.
Ate mesmo os terceirizados pegavam carona em seu seio, interrompendo atividades nada haver com o evento anual e por que não dizer sacro da universidade.
Quando ela surgia não era só de passagem: Permanecia 4 meses quando se tinha sorte.
Quem tinha juízo fazia logo as malas pra casa, autodeclarando férias em períodos nada agradáveis.
Era algo no mínimo estranho de se viver, nos forçando a permanecer ligados em postagens de redes sociais.
Das cinco greves que peguei nos 6 anos que estudei em Cruz das Almas, a segunda delas ocorreu enquanto morava na casa do Albérico.
Não reclamei ao fazer minhas malas e por algum motivo que vocês devem saber fiquei muito feliz em deixar aquela velha casa para trás.
Passei os 4 meses seguintes desfrutando do conforto, limpeza e companhia da casa dos meus pais, apreciando cada dia como se fosse o ultimo dia das ferias: Afinal assim como as greves vem elas também vão( Simplesmente do nada).
Quando finalmente chegou a notícia que a greve havia acabado, estava tão inserido na dinâmica da família que foi difícil voltar aquela antiga vida. Para piorar minha mãe havia ficado doente do nada e passado uma semana no hospital internada( recebeu alta 2 dias antes da minha partida).
Talvez tivesse sido um sinal do destino para deixar aquilo para trás e viver um futuro próspero com aqueles que amo, pena nunca te sido bom em ouvir ou mesmo interpretar sinais do destino.
Assim voltei para Cruz, me intocado novamente naquela velha casa do Albérico.
Talvez alguém esteja se perguntando se eu nunca voltava pra casa no período das aulas. A resposta é que voltava sim 2 finais de semana por mês o que me ajudava a não surtar naquele lugar condenado a muito tempo atrás.
Uma coisa fazia longas pausas longe do lugar ruim demais para serem desejadas e ela se resumia aos insetos que se escondiam pela casa. Durante o tempo fora eles se reproduziam muito e mudavam para locais indesejados como debaixo de camas, na própria cama, enfim...
Cheguei em casa e comecei logo uma faxina nas minhas coisas, não demorando a declarar morte a uma lagartixa que estava dormindo no meu colchão.
Como tenho alergia logo ela atacou me fazendo expirar mais do que lembrava ser possível a uma só pessoa na vida.
Acomodei as coisas e juntei toda coragem que ainda me restava para as rotinas seguintes.
Notei logo que um capote querido( presente da mãe doce mãe) havia desaparecido. Perguntei a Jabes se ele sabia do paradeiro, recebendo como resposta uma negativa espontânea.
Talvez os primos do Isaque tenham pegado. Ele trouxe alguns pra dormir aqui na nossa ausência, resmungou ele.
Que ótimo,pensei. O que mais poderiam ter roubado?
Então corri para a estante buscando os livros que tinha pegado na biblioteca. Felizmente eles estavam lá.
Fique calmo, dizia Jabes. As pessoas não gostam de roubar livros.
Ainda bem, falei. Taria lascado se roubassem. Cada um custava uns 150 e eram 5 livros sendo que na época eu vivia com 450 reias mensais.
Dormir aquela noite sentindo saudade de casa, ouvindo as batidas dos morcegos dançando ao luar... Me perguntando o que o futuro teria esperando para mim... Segurando os rascunhos de histórias que ainda hoje não publiquei...
YOU ARE READING
Lá na casa do Albérico
AventuraSer universitário foi um dos maiores desafios da minha vida. Sei que não fui o primeiro e provavelmente não serei o ultimo, nem tão pouco o dono das melhores histórias, mas o tempo que passei na casa do Albérico foram os mais representativos dos me...