Capítulo 11: O aniversário

4 5 0
                                    


Recordo que fazia um dia bonito, daqueles tipos em que os americanos realizavam piqueniques nos famosos parques dos filmes da sessão da tarde.  Devia ser um sábado, daqueles chatos em que passava estudando num canto qualquer enquanto Jabes permanecia sentado com fones enormes utilizando o computador.

Levantando um pouco pra tomar um ar, notei uma movimentação incomum no quintal coberto de mato intocado.

O que está havendo ali Jabes, perguntei em vão.

Quando estava com aqueles fones era muito difícil escutar alguma coisa. Sempre desconfiei que ele os usava para não se assustar quando uma das frágeis paredes velhas desabasse sobre alguma coisa, algo que esperava a qualquer momento.

Estava a ponto de perguntar de novo quando escutei uma voz irritante vinda da porta ( a filha do Albérico)

Aquela mulher simplesmente não existia: Uma mistura de educação, despeito e indelicadeza, tudo ao mesmo tempo.

Bom dia, disse indo vê o que ela queria.

Hoje é aniversário do meu pai, disse ela direto ao ponto. Estamos arrumando algumas coisas aqui. Tire essas roupas do varão, jogue esses lixos fora e apareçam meio dia: Meu pai convidou vocês para o churrasco em família.

Diga ao seu pai que agradeço o convite, respondi encarando aquela cara seca e enrugada dela.

Nós não nos dávamos bem e isso não era segredo para ninguém.   Isso ocorria por que ela se achava a dona da casa e queria fazer exigências quando o próprio Albérico era super simpático e permissivo com agente.

Logo chegou o horário do almoço e um bom churrasco estava servido e a casa já repleta de gente velha( todas parentes ou amigas do aniversariante).

Quando finalmente Jabes tirou os fones ficou muito feliz com a expectativa de um almoço grátis. Juntos fomos pro banquete familiar: uma andada curta de 15 passos.

Sentamos numa mesa de plástico( essa material me persegue), tomando uns corpos de  refrigerante e literalmente tiramos a barriga da miséria com o almoço gostoso preparado por profissionais contratados.

No meio da festa fomos apresentados pela cara de uva seca a muitos convidados: Todos mestres e doutores em agronomia( Com exceção das crianças é claro que dominavam um segundo idioma).

somos os menos importantes aqui, disse eu a Jabes

Sorria e acene companheiro, e aproveite o momento por que é de graça.

Vou gravar essa data pra comparecer ano que vem.

Já me convidei mentalmente: Ano que vem estarei aqui.

Será que eu consigo guardar alguma coisa pra amanhã?

Só vai saber se tentar.

Diante dessas palavras, levantei com prato na mão indo direto a churrasqueira.

Se sou o mais pobre aqui vou desempenhar bem meu papel então, pensei me aproximando do gaúcho que preparava as carnes.

Tem alguma coisa pronta ai? Perguntei

Tem muita coisa pronta, o que você quer?

Carne, disse a primeira coisa que veio na mente.

E automaticamente um pedaço grande de picanha parou no meu prato.

Mais alguma coisa, perguntou ele prestativo.

Não sei, um frango, sugeri temendo abusar.

Tranquilo, muito frango aqui pronto.

E então pedaços de coxas surgiram no meu prato.

Obrigado, disse fugindo pra casa com medo da filha do Albérico me interceptar no caminho.

Guardei na geladeira e voltei pra festa com muita vergonha do que tinha feito.

Ninguém pareceu notar, para  o meu alívio.

A festa seguiu ate terminar pela tarde, dando espaço a um cochilo naquela dia feliz.

Nos dois dias seguintes não me preocupei e fazer carne, utilizando aquela disponível no prato. No terceiro dia fiquei me perguntando por que não tinha pegado mais carne:  mal não ia fazer.

O Isaque  chegou e contamos a ele o que tinha perdido, nos divertindo com a cara que tinha feito ao saber da festa.

Passamos os dias seguintes numa paz MÁGICA, coisa que ate hoje não entendo como aconteceu.

Uma paz passageira como a calmaria no olho do furação...



Lá na casa do AlbéricoWhere stories live. Discover now