Capítulo 5: O fogão

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Durante as refeições era comum encontrar Jabes em casa preparando uma coisa para o almoço. Cada um fazia sua própria gororoba mais ocasionalmente compartilhávamos alguns itens.

 Um dos itens que compartilhávamos era o feijão da fazenda do pai dele, naquela época feijão era caro devido a seca e economizar nesta parte foi muito bom por um tempo. Não sabia cozinhar bem na época, então no meu feijão eu usava muito tempero pronto e não ficava nem de longe bom.

Não use Knorr nem sazon cara, isso faz muito mal, dizia ele toda vez que me encontrava fazendo comida.

 Por que? Perguntava. Lar em casa sempre usamos.

É tempero industrializado, isso vai fazer mal pra sua saúde.

Jabes nunca cozinhava  com  temperos prontos, , também não utilizava nada feito com transgênicos, mais a comida que fazia continuava mais ou menos ruim do mesmo jeito.

Eu vou me ariscar, dizia quando o via muito cismado

Reparou nessas panelas? Disse ele mudando de assunto.

Tem o que elas, respondi distraído

Estão queimadas, vê?

Há, hoje elas estão ficando todas assim...

Nós usávamos um fogão de 2 bocas emprestadas por uma menina lar da igreja que sempre funcionou muito bem... Ate chegarmos nesta casa. Por algum motivo que nunca soubemos explicar ao certo as panelas começavam limpas e saiu negras, cobertas de fuligem onde as chamas alcançavam.

Isto é ruim pra lavar, suja tudo que toca. Reclamava Jabes.

Um fogão novo desse é 25 reais, talvez trocando resolva.

Só  25? Vou comprar.

Como o centro era perto, não demorou para ele voltar com um Fogaozinho novo nas mãos.

Juntos instalamos o gás, acendemos o fogo e assistimos as panelas sujarem novamente...

Que merda é essa, disse sem pensar

É meu caro, parece que não era o fogão, respondeu Jabes.

Com o telefone nas mãos ligou para o entregador que em 5 minutos trouxe um bochão de gás novinho.

Substituímos o antigo pelo novo e mais uma vez acendemos o fogo.

Novamente queimou as panelas

Que merda é essa, disse de novo. Essa casa é assombrada.

 Triste meu caro, disse Jabes. Acho que o problema é esses fogões pequenos. Vou comprar um de verdade.

Ta bom, disse sem tanta certeza. Afinal na outra casa funcionava que era uma beleza...

Ate esse fogão chegar, passamos por volta de um mês com panelas encardidas, unhas sujas de fuligem, manchas negras onde as panelas tocavam. Depois de um tempo desistimos de lavar por fora as panelas, utilizando-as pretas assim mesmo.

Quando finalmente o fogão de verdade chegou e este parou de  queimar as panelas elas já estavam tão negras que ficaram dessa cor nos meses seguintes.

Uma lembrança contínua daquele mês negro.

Jabes o inaugurou  cozinhando um frango branco com um caldo ralo.

Jabes – Tem frango cozido, pega um pouco, queria fazer um caldo mas saiu ralo.

Você devia colocar umas verduras, disse depois dele me oferecer um pouco.

Vou fazer isso da próxima vez. Uns bagunceiros conseguiram tirar a professora de matemática, acredita?

Como foi isso?

 Fizeram um baixa assinado depois de uma prova difícil de log.

Isso não é motivo pra tirar uma professora. Você assinou ?

 Eu não, mas fiquei com vontade, ela disse que iria ser tranquilo, por isso o pessoal relaxou, só uma menina do Sartre Coc foi bem.

 Já sabe quem vai ficar no lugar dela?

Um tal de Juarez.

Quase derrubo o prato ao ouvir o nome.

Ele é meu professor, disse. Acho que o pessoal vai fazer manifestação pra trazer sua professora de volta...

E entre professores e professores, o mal de tirar um ruim é que pode vim outro pior!

Lá na casa do AlbéricoWhere stories live. Discover now