Após um dia cansativo na universidade atravessei a velha porta da casa do Albérico exausto demais para me importar com as baratas, só para variar.
Passei o trinco na porta, tomei um banho frio( frío mesmo) e me atirei no colchonete velho que usava como cama desde que cheguei na cidade a um ano atrás.
Peguei o pequeno Nokia no bolso da calça surrada com o mesmo cuidado que teria com um filho recém nascido.
Ele era minha única porta de comunicação com o resto do mundo!
Disquei o número da minha namorada e disse algumas palavras sutis ate ouvir um taque taque no pequeno vidro da janela.
Dei um pulo de imediato, segurando com toda força o aparelho desgastado pelo tempo.
Quem poderia ser? Pensei rápido procurando alguma coisa maior para segurar.
A porta do nada se abriu, dando passagem a uma figura incógnita: Um rapaz baixo, malhado, bem humorado e escuro.
Isaque, quase gritei sentido uma dor de cabeça não sei de onde.
Marcos! Cheguei pra animar essa casa.
Que bom, suspirei não muito feliz com a visita.
Não me entendam mal: Eu gostava do Isaque, gosta mesmo. Mas ele era um personagem muito incoerente.
Nós haviamos nos conhecido na igreja onde nos cumprimentamos umas 3 vezes. Depois disso Luis disse que ele queria morar com agente e um dia depois ele estava com todas as coisas( roupas,colchão, outros itens) na nossa casa. No outro dia arrumou um emprego pra trabalhar viajando e sumiu. Nós ( Luis e eu) precisamos mudar de casa e simplesmente levamos as coisas dele com agente( deu trabalho). Desde então ele passou a aparecer 2 dias na semana e dormir com agente sem pagar nada. Pra falar a verdade nós nunca pensamos em cobrar nada a ele, só mesmo por uma amizade que estava começando.
Isaque gostava de rir e contar histórias da zona rural onde morava com a família. Ele gravava músicas romanticas no celular e colocava pra tocar enquanto desabafava os fora que havia acumulado ate o momento.
Em suma era uma pessoa boa, sincera e companheira: Mas não era o tipo de pessoa que voc^w queria por perto quando estar irritado, cansado e de saco cheio da vida.
Cadê Jabes, perguntou ele. Espero que não teja no banheiro por que tou apertado. Cara eu não defeco a dois dias.
Ele ta na rua, disse eu pouco animado.
Esses Jabes... Deixa eu ir no banheiro então.
É uma boa ideia. Você ta fedendo...
Oh irmão, disse ele rindo. Uma semana dentro de um carro só com homem não deixa ninguém cheiroso né.
Sentei na cama tentando manter a mente em paz enquanto Isaque tentava cheirar melhor. Como a casa estava quente não ficou uma combinação muito agradável...
Fui pra fora em busca de um pouco de ar, parando no meio do imenso quintal coberto de grama.
Um céu estrelado me fazia companhia ali fora, consolando meu coração do peso sobre meus ombros.
Morcegos cortavam a paisagem, brincando em meio as sombras.
A lua sumia daquele lugar esquecido, abandonando-me sozinho com o Isaque.
Respirei fundo, ciente que ele era uma benção: Não uma maldição.
Voltei para casa quando ouvi o som da música tocar no espaço.
Ta apaixonado em, disse brincando com ele.
Oh Marcos , pior que eu to viu, respondeu ele rindo enquanto usava um desodorante qualquer.
Aquilo fedia mais de qualquer outra coisa, mas não seria eu a estragar a noite do Isaque ne.
Quem é a menina dessa vez?
Nem vou te falar viu, ela não me que. Disse que eu teria que nascer de novo, nem me responde mais.
Fica assim não, sua prometida vai chegar algum dia. Pior sou eu, longe da minha perdido aqui...
Ai é complicado mesmo viu...
Nem fale... Vou fazer um cuscuz pra gente e um cafezinho da hora.
Você é um cara bacana Marcos. Valeu por tudo cara, nem sei o que faria se não fosse vocês.
Também não sei como seria Isaque, pensei enquanto fazia o café.
Hoje me pergunto quem estava ajudando quem naquela noite...
Já pararam pra pensar que uma companhia fedorenta numa casa quente num dia ruim para alguém com dor de cabeça seria uma benção?
Naquele momento não pensava isso. Talvez por isso a vida tenha me mostrado o contrário: Coisa pra outro episódio.
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Lá na casa do Albérico
MaceraSer universitário foi um dos maiores desafios da minha vida. Sei que não fui o primeiro e provavelmente não serei o ultimo, nem tão pouco o dono das melhores histórias, mas o tempo que passei na casa do Albérico foram os mais representativos dos me...