Estamos num domingo do mês de abril, do ano de 2012, em Cruz das Almas, cidade universitária.
Eu sempre chegava neste dia da semana, deveria ser uma 16:00 horas.
Abrir o portão do prédio, subir alguns degraus, andei por um corredor de apartamentos apertado que lembrava muito aqueles cenários de filme de suspense onde algo assustador sempre acontece.
Passei pela lavanderia , subir uma pequena e apertada escada, virei a direita esbarrando com uma porta de madeira sem maçaneta.
Havia chegado em casa.
Na verdade, sempre vi o lugar mais como um acampamento, daqueles tipos onde se vê tendas espalhadas por toda parte.
Com 19 m² e apenas 1 quarto, a república abrigava 4 garotos contando comigo.
A porta sem maçaneta dava numa cozinha retangular de um metro e meio por quatro que, engenhosamente também utilizávamos como sala. Outra porta dava para o quarto pequeno que tinha duas janelinhas que davam para o corredor de onde os vizinhos nos assistiam dormir quando passavam por que o calor ali dentro era insuportável para sequer pensamos em fecha-las.
O banheiro até que era arrumadinho, tinha 3 m² e Box de vidro, porém a descarga vivia quebrando e o chuveiro sempre ficava com água fraca, o que tornava os banhos demorados num local onde todos tinham hora marcada.
Não tínhamos muito móveis: Luiz tinha uma cama, eu um bi cama, Isaque um colchões e Jacó não tinha nada, pelo que recordo usava o colchão do primo(Isaque) quando este não estava em casa. Na cozinha tínhamos uma cadeira de plástico,um garrafão de água com 20 litros, uma estante de madeira prensada onde se guardava desde livros ate alimentos, um ventilador de mesa, um li quidificador, alguns talheres e um fogão de 2 bocas cedido por uma moça de bom coração.
A casa era pintada de branco, o piso também era branco e as portas de madeira, de tarde ficava muito quente por causa do sol que batia na parede da cozinha.
Resumindo: O local era uma zona que mal cabia uma pessoa: Sem exagero
Tudo estava como esperado: Bagunçado,apertado e quente: Afinal era Cruz das Almas.
Que dizer quase tudo por que havia estacando frente a porta, encontrando um rosto desconhecido naquele ambiente inusitado.
Um jovem moreno claro de aparência calma
No momento ri por dentro, ciente que estava diante do quinto morador da casa: O Jabes.
- Você deve ser o Jabes , devo ter dito eu. Afinal não o conhecia, só havia recebido a notícia pelo celular que um irmãozinho da igreja iria estudar na cidade e precisava de um lugar para morar:
- E você o Marcos, falou ele.
- Muito prazer cara, a paz de Deus, já está instalado aqui? Respondi o cumprimentando com um abraço.
- Amem, disse respondendo a saudação. Já passei umas duas noites aqui, está dando pra levar...
- Que bom, disse rindo imaginando o sufoco que deve ter passado.
Ao entrar notei objetos novos, provavelmente do novo morador: uma mesa de plástico ( porque tinha que ser de plástico?), umas caixas de isopor( esses matérias são símbolos de estudantes?), o colchão, panelas novas, em fim,era difícil não notar num espaço tão pequeno. Não encontrei mais ninguém naquela hora, então fui me acomodando e ouvindo as histórias do meu novo amigo, que era técnico agrícola , e contava fatos como " um carinha ficou deprimido por que a menina não queria ele, tomou um veneno que é usado pra tal coisa e ficou 3 meses em coma, depois desse tempo ficou com os braços hipertrofiado, ele nem mexia mais, ai morreu",
Ainda hoje acho chocante a maneira simples como ele contava essas histórias...
Não demorou ate chegamos ao x da questão: O futuro daquele acampamento mal cuidado.
Pagávamos ali 250 reais, fora energia e condomínio, e nosso contrato acabaria em um mês.
Jabes havia encontrado uma casa próxima a nossa atual com aluguel de 150 reais já incluso água e luz o que era música para nossos ouvidos. Até parecia bom demais pra ser verdade.
Era uma oferta irrecusável, de modo que aceitei por força das circunstâncias sem nem conhecer o local.
Não recomendo isto a ninguém!
Vamos todos? Perguntei?
Eu não vou, disse Luis. Estou cheio dessa faculdade... Vou voltar pra casa.
Eu também, disse Jacó.
E você Isaque? Perguntei.
Estou colado com vocês, respondeu ele animado.
Então arrumem as coisas e vamos embora: Disse eu feliz da vida por deixar aquele lugar para trás.
Como não poderia deixar de ser, a mudança foi em si mesma uma tragédia.
Preparem as unhas e segurem-se nas cadeiras...
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Lá na casa do Albérico
AdventureSer universitário foi um dos maiores desafios da minha vida. Sei que não fui o primeiro e provavelmente não serei o ultimo, nem tão pouco o dono das melhores histórias, mas o tempo que passei na casa do Albérico foram os mais representativos dos me...