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Diego abriu os olhos, um pouco confuso, seus pensamentos estavam piores que um cego a tentar ver no meio de um motim. Pestanejou, não sentiu a dor que queimava seu peito e várias vezes tentou se lembrar de onde estava. Tudo o que conseguia era ver seu corpo a cair da ponte e podia sentir a água fria o abraçar em toda sua força. Depois disso sua memória repetia a lembrança de uns olhos marrom e uma marca conhecida... Dior.

Levantou o torso sem esforço nenhum, no entanto sentiu o ar lhe falhar junto dos pulmões e quase desistiu de sair daquele espaço pequeno onde tinha estado deitado. Girou a cabeça e se espantou com a precariedade do lugar, tamanha pobreza - a seu ver, desde os móveis que nem para um museu serviriam, assim como várias telas cobertas por lençóis brancos mostrando a falta de algum electrónico por perto. Ele levou a mão ao peito, descobrindo que estava enfaixado e pisou o tapete felpudo que se estendia pela maior parte do pequeno lugar.

Teria sido sequestrado?

Foi o primeiro pensamento que lhe veio a cabeça e como por instinto apanhou um vaso de metal que estava em cima da pequena mesa de madeira. Se levantou por completo, ignorando o corpo que parecia reclamar, assim como as pernas bambas e se apoiou na parede próxima em busca do seu algoz. Pela maneira como cantarolava com animação e o cheiro de sopa que emanava pelo ar, Diego achou que fosse um sequestrador bem desligado do perigo que oferecia. Espreitou pelo único cómodo, vendo uma cama pequena de solteira e vários espanta fantasmas que estavam pendurados no tecto baixo. Uma pilha de roupa limpa estava numa poltrona, assim como sapatos femininos organizados em fileira ao lado de um criado mudo.

Que brincadeira seria aquela?

Por via das dúvidas apertou o vaso em sua mão com a pouca força que lhe restava e cambaleou até de onde vinha a voz que repetia o refrão de uma música antiga de Whitney Houston. Respirou fundo antes de fazer a curva e levantar o objecto assim que adentrou no espaço minúsculo que deveria ser chamado de cozinha. Arregalou os olhos.

Dior gritou ao ser apanhada de surpresa e Pitty começou a ladrar sem parar do lado de fora. Ela usava um calção curto e uma camiseta amarrada na altura do umbigo. Estava descalça e com o cabelo coberto por um lenço com estampas de jogos de cartas.

─ Quem és tu? ─ Diego estava admirado e baixou a arma branca. Recuou para se apoiar na parede branca de azulejos e forçou um arfar que insistiu em escapar de sua boca.

Ela estava visivelmente mais assustada que ele. As mãos escuras logo começaram a tremer sem parar e a boca pequena que imitava um morango, abriu e voltou a fechar sem conseguir articular as palavras.

─ Eu fiz uma pergunta. ─ Reafirmou, mostrando que não tinha medo. ─ Te contrataram para me vigiar?

─ Não era para estares em pé. ─ Foi tudo o que Dior conseguiu dizer e se aproximou para o amparar, mas Diego recuou com repulsa. Ela parou a meio. ─ Te vigiar?

─ Por que estou aqui? ─ A voz dele estava fraca e lutava para manter os olhos abertos.

─ Olha, meu nome é Dior. Eu te encontrei na beira da praia quase morto. ─ Achou por bem esclarecer aquilo antes de conclusões precipitadas serem tiradas.

Diego conseguiu exprimir uma risada sarcástica.

─ E queres que acredite nisso? ─ Indagou com frieza, mas não soube dizer quando o vaso de ferro escorregou de sua mão. Resfolegou.

─ Não me pareces bem, tens que voltar a deitar-te. ─ Ela estava assustada, sem saber se tinha um criminoso em casa, porém o sentimento de ajudar gritava mais alto. ─ Vamos, depois me diga para quem posso telefonar.

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