Interligados [DEGUSTAÇÃO]

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Charmila não dormia há dias. Não era possível que não tivessem nenhuma pista sobre Diego, ainda por cima com aquela maldita chuva que veio assolar a cidade e atrapalhar as buscas. Tinha que lidar com os assuntos da Saltzman Corporate, adiar reuniões e viagens, remarcar novas palestras e projectos e aturar colaboradores curiosos que faziam más previsões sobre o desfecho do jovem presidente, para além de aturar a família materna dele que não parava de a importunar em busca do que quer que fosse. Diego diria que estariam a contar com a morte dele para a mãe poder herdar sua fortuna, mas ela pessoalmente não acreditava nisso. Tinha tido a oportunidade de conhecer Verona e apesar de todo passado lascivo que carregava, parecia ser uma mãe que se preocupava com seu único filho. Ele era apenas ligado ao pai que também tinha sido um filho único e que teria morrido há alguns anos, agora a avó era a única que restava.

─ Não entendo como isso acontece na semana que tirei férias. ─ Carlo estava impaciente desde que soubera do assalto. Era um homem alto e com uma massa corporal de tirar o fôlego, seus cabelos pretos estavam bem cortados e os olhos astutos eram de um azul tão claro que intrigava qualquer um. A pele também estava bronzeada e a roupa de segurança com um coldre bem preso na cintura, dava ases a qualquer fetiche sexual. ─ Eu disse para ele que não queria sair de férias, mas o Diego é teimoso e quis se armar em Schwarzenegger.

─ Pare de se martirizar, Carlo. ─ A loira baixou a guarda-chuva assim que alcançaram a entrada principal do grande aeroporto internacional todo cheio de portas de vidros e de pessoas que se despediam ou se recebiam, ora em choros ou celebrações, sem tirar a agitação espalhada. Ela sacudiu a guarda-chuva preta e a fechou, transformando-a numa bengala. Charmila não era tão bonita como as outras mulheres, no entanto tinha o poder de transformar qualquer coisa num estilo que a fazia se destacar. Foi assim que conquistara o impossível jovem Saltzman, com sua classe e sensualidade. Por muito que nunca tivessem afirmado em palavras certas o teor daquele relacionamento, estava claro que eram muito mais que namorados. Diego andava por todos lugares com ela e a apresentava aos conhecidos, dormiam quase todas noites juntos e viajavam para férias, isso sem contar que lhe tinha confiado tantas coisas importantes ao longo do tempo e uma delas era a pessoa que iam buscar no aeroporto. ─ Acima de tudo é teu melhor amigo e sabe o quanto trabalhas dia e noite para a sua segurança.

─ Pensei que tinha tudo sob controlo, Charmila. Eu confiei no meu pessoal para vos proteger e sinto que falhei redondamente. ─ Carlo continuou enquanto abria espaço entre a multidão para ela passar. Ele era dono de uma empresa de segurança privada, trabalhava com muita gente conhecida. Tinha feito colégio militar e sempre se dera bem com Diego, talvez por isso fazia questão de cuidar dele pessoalmente.

─ Nós vamos encontra-lo. ─ Disse enquanto curvavam para a sala de voos internacionais que chegavam. Sentia um suor frio só de pensar em receber aquela pessoa irritante, não conseguia compreender como Diego a adorava. Olhou para a tela no alto da parede e percebeu que o avião tinha chegado há alguns minutos. ─ Me conte antes sobre a Vanessa?

─ Não deu muito certo. Tudo mecânico e falta de química. ─ Soltou um suspiro pesado. Desde que se divorciara no ano passado, Carlo tinha percebido como estava cómodo dentro do seu casamento, tanto que agora não sabia como lidar com as mulheres. O mundo tinha avançado horrores, as mulheres estavam mais atrevidas e o grande problema é que ele era conservador. Sua mulher tido ido virgem ao altar e agora pelo que ouvira andava nas boates e sempre acompanhada de um homem diferente. Ela tinha realmente se cansado da rotina e monotonia que Carlo tinha para oferecer.

─ Acho que você é exigente demais. Devias te abrir e apenas curtir.

─ Acho que não queria ter essa conversa contigo. Sinto falta do Diego. ─ Cruzou os braços na altura do peito.