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Diego não se lembrou daquele rosto, porque provavelmente não o esqueceu. Seria mentira dizer que não teve sonhos que começavam como pesadelos quando seu corpo caía na água e sentia as ondas o abraçarem para longe do seu conforto e, depois os olhos de uma tonalidade marrom que o resgatavam. Podia ter deixado sua boca expelir palavras de tonalidades cinzentas como seus olhos com o objetivo de a repelir para longe de sua visibilidade. Até tinha surtido efeito, porque eram água e óleo e não se misturavam.

Contudo, havia um pesar que se abatia sobre ele naquele instante. Mesmo que jurasse toda sua impessoalidade em afirmar que não era obrigado a sentir gratidão, existiam sentimentos que atropelam certas pessoas mesmo que elas não queiram. Aquela jovem tinha salvado sua vida e por tudo que Diego contrariava, era claro que o peso de consciência por não ter retribuído a altura, o iria perseguir como uma nuvem tenebrosa por cima de sua cabeça.

─ Não conheço. ─ Então respondeu a Charmila, procurando pelas mãos finas e delicadas de quem passa creme especial antes de dormir, para as entrelaçar com as suas e sentir o conforto de um sentimento que não seria perturbado.

Dior viu quando Diego baixou os olhos e segurou na mão da namorada. Não deixou de pensar como era uma mulher bonita, com cabelos loiros e brilhantes e uma roupa de marca que muito bem lhe assentava. Não era vulgar como pensou que seria uma namorada dele, pelo contrário! Era singela e com um sorriso tímido no rosto. Viu quando Carlo mordeu o lábio inferior com força e se levantou como se almejasse ir até si. O coração dela falhou uma batida, tratou de recolher o balde e a vassoura e correu com as sapatilhas brancas de pano para a área de serviço.

Atravessou as portas brancas que tinha o desenho de duas grandes raquetes de ténis, passou apressada e com a respiração eufórica e finalmente chegou ao banheiro dos empregados, onde conseguiu parar para respirar com calma. Sentou num dos bancos de madeira perto dos cacifos e apoiou os cotovelos nos joelhos enquanto deixava a cara repousar nas mãos.

De uma coisa Diego não falhara, eram de mundos a parte e que nunca iriam se interligar, porém tinham-se encontrado apenas para deixar ainda mais claro como as diferenças seriam notáveis. Não que esperasse algo dele, só não sabia ainda o que fazer para lidar com o aperto que sentia quando se lembrava dele. Ou a maldita razão que lhe levara a pintar o rosto perfeito e quando encontrava seu corpo no mar. Era uma idiota!

─ Brown! ─ Uma jovem de estatura média entrou apressada. O uniforme de vestido branco acima do joelho, não ficava tão apertado como na colega. Tinha os cabelos castanhos cor chocolate e uns grandes olhos escuros. ─ O senhor Gabes chama por ti.

─ Mas está na minha hora de saída. ─ Protestou se levantando e começou a trocar de roupa quase ao mesmo tempo que Trina. O turno delas acabava de terminar.

─ Alguma reclamação de cliente. ─ Deitou-lhe um olhar pesaroso, pois sabia bem como Gabes costumava ser implacável. Era mesquinho e geria uma pequena rede de acompanhantes de luxo que passavam muito tempo no Court de ténis a conquistar clientes mais velhos e podres de ricos.

Dior se lembrava bem de como ele a tinha olhado no dia que a contratou, olhos gulosos de um predador sexual, mas o homem nunca a tinha assediado ou tratado com terceiras intenções, talvez porque fora uma amiga de Paul que a tinha recomendado a pedido do irmão.

─ Tudo bem. ─ Terminou de usar o vestido comprido azul e com alças que se amarravam no pescoço. Calçou as sandálias agradecendo por poder se livrar das sapatilhas com aquele calor e carregou a bolsa antes de despedir a colega e sair em passos lentos.

Não acreditou quando viu a mulher cheia de colares de ouro junto do senhor Gabes e tentou se segurar para não explodir a qualquer momento. Os dois conversavam baixo e se calaram quando a viram se aproximar.

Interligados [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora