FUGITIVOS DO INFERNO 01 - Ciclo Da Era [COMPLETO]

XXXI. Eu Prometo

Música indicada: Sorry (Halsey)

Eloísa se contentou em saber as respostas quando já estivessem dentro do avião. Eles estavam sentados lado a lado. Enzo comia nuggets ao lado da garota, o que a fazia querer vomitar só de lembrar da última vez que tinha comido algo tão gorduroso. Na lanchonete da universidade. Que lembrança horrível.

— Eu realmente odeio você faz tanto tempo — olhava a janela do avião enquanto falava, mas o cheiro dos nuggets invadiam seu nariz mesmo que já tivesse levantado o seu cachecol, sua voz saiu abafada.

— Mal educada — Enzo respondeu — e birrenta — finalizou.

— Pelo menos ainda estou literalmente viva — sussurrou, e a risada saiu involuntária.

— Ei, eu ouvi isso — ele a empurrou com o ombro enquanto comia os nuggets com as mãos. Ela mostrou sorriso pela primeira vez em tempos. — Me perdoou, Eloísa? — Sussurrou o rapaz. Ela olhou para ele, sua barba estava suja de óleo, desviou.

— Vai me contar sobre o ciclo, afinal? — Quis saber, enfadonha, encarando a pequena tela acoplada no banco frente ao seu enquanto mexia no catálogo de filmes antigos.

Ele suspirou alto antes de começar a falar:

— Sei que são cinco etapas. Começa com os sonhos...— ajeitou-se. — Você pode prestar atenção? Sei que gosta de fingir que não presta quando está assustada. — Quando ela o olhou, Lorenzo estava com as sobrancelhas erguidas. — Meu amigo disse que eles são para te desestabilizar, e funcionou.

— O que mais? — ele estava interessada em cada palavra dele, mas suas mãos tremiam abaixo do cobertor fornecido abordo. — Por que eu? — Sua voz tremeu.

— Eloísa, você não é...

— Humana — a garota completou.

Ela já tinha escutado aquilo antes. Lupita havia dito algo sobre nenhum dos três serem humanos pouco antes do acidente. El se perguntou se estava pronta para saber o que ele queria contar, mas cada palavras deixada da boca de Enzo fazia seu coração palpitar mais forte. Ele parou de comer e limpou as mãos e a boca em um guardanapo.

— Sua alma... Ela não viaja no tempo, El, ela viaja entre terras — cauteloso, ele engoliu em seco e suspirou. — Você é algum tipo de anjo, demônio, sei lá, algo ímpar — tudo que saía de sua boca a deixava com vontade de chorar. Eloísa desviou o olhar quando uma lágrima desceu de seu olho esquerdo, mas logo retornou a ele.

— Eu quero saber... do ciclo — disse, incerta. — Só...

— Não quer que eu deixe quem sabe mais falar? Podemos esperar — sua face era séria. Ela balançou a cabeça negativamente, tentava parecer confiante, mas a verdade era que não sabia o que estava fazendo. — Certo...— tentou continuar.

— Enzo — interrompeu novamente, ofegante. — Como você sabe do ciclo?

Ele a olhava como se tentasse entender o que se passava na cabeça dela.

— Meu amigo — contou. — Aquele que vamos encontrar em Lima. El, tudo bem se não quiser saber agora, ele pode te contar tudo — insistiu, a olhando com preocupação quando notou que a garota estava coberta de medo. — Pitt é a única pessoa que ainda confio.

E a memória o atingiu em cheio.

Ele não gostava de morar em Ohio, em 1866, após a guerra civil americana. Ainda se viam cartazes racistas e de cunho completamente oposto ao de Lorenzo, que se recusava a aceitar pensamentos imundos e inumanos. Porém, havia se interessado por alguém além do desejo incansável de se mudar e fugir. Uma mulher, de cabelos pretos e bochechas fartas. Sarah era uma viúva jovem com um filho de três anos e um senso de humor inigualável. Se conheceram dois anos antes e Lorenzo aceitou a convivência com uma nova alma que o encantou, passando a ficar mais tempo do que planejou em Ohio.