XXXVII. LUPITA

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LUPITA

Algum lugar na existência - ANTES

Sentiu a forte força puxando-a para trás e um segundo depois havia voltado para lá. Estava ao lado dele depois de tantos milênios vagando pela Terra. As asas estavam abertas novamente e passou os olhos sobre seu corpo amarelo como ouro e brilhante como diamante. Não havia roupas sobre seus quatro braços e nem sobre a cintura que se expandia sem um fim. Bateu as asas que tinham cinco vezes o seu tamanho e sentiu a liberdade que por muito tempo havia sido tomada.

Nunca foi um objetivo, um local tão temeroso ser associado ao inferno, mas ela sabe que esse é o penúltimo ciclo e, com o último, o dono da mente que tortura todos ao seu redor estará morto e assim os outros serão livres. Esse mesmo que se alimenta da dor é o responsável por todos os seres humanos ruins que já habitaram a Terra e, depois de sua inexistência, ela poderá ser completa de novo.

Sabendo que sua missão incluía garantir que o fugitivo nunca fosse pego por um demônio, que queriam garantir a inconclusão do ciclo, o anjo aceitou a missão de acordar com ele na Terra em sua versão menos grandiosa. Lupita sabia que pedir que sua energia angelical fosse cortada era perigoso e poderia mandá-la direto para o inferno se fosse pega. Há muito tempo que não se sentia insegura em sua missão. Quando teve garantia que acordaria como um fugitivo e realmente acreditaria ser um, foi avisada de que não poderia ficar perto demais do rapaz porque a energia dos fugitivos juntos atrairia demônios, mas que um sacrifício seria necessário quando chegasse a hora.

Era difícil se manter confiante ao pensar que ficaria um tempo razoavelmente grande na mente do demônio ao ser capturada e que sua natureza angelical seria esquecida pela mesma durante esse período. Perguntou a ele quando se lembraria e Azazel a disse novamente que o tempo linear é uma ilusão e que ela mesma finalizaria tudo. Encarava- em busca de uma resposta sobre o que faria quando aquela expansão se desfizesse e ele a respondeu que ser um pedaço de Seth era grandioso o suficiente para fazê-la querer desistir de sua missão, mas que deveria resistir. Era um plano perfeitamente harmonioso e que iria garantir que Lupita juntasse a chave e a fechadura no local certo e na hora certa. E se eles recusarem sua natureza? perguntou e seu irmão respondeu: Eles não conseguem recusar. Nasceram para isso.

Não foi necessário ela avisar que estava pronta.

Eles se uniriam e, assim, o ciclo se encerraria.

Os dois então me encararam, como se eu fosse novo por ali, e dei um sorriso genuíno. Era divertido encarar esses planos, mas irritante não conseguir impedi-los. Por vezes, saber de tudo por ser um fardo doloroso demais, assim como essas pessoas gritando de dor dentro da minha cabeça.

- Isaac está aqui - afirmou Azazel e quis poder respondê-lo.

Apenas encarei o ser de asas brancas e brilhantes, feias se comparadas às minhas negras parceiras da eternidade. Um triângulo vermelho e sangrento, invertido, estava marcado em sua testa enorme e ele não se preocupou em esconder os dentes afiados de um real e desgraçado monstro.

Queria mandá-lo para a puta que pariu, porque do inferno eu mesmo o expulsaria, do real e do deturpado. Azazel sabia o porquê de eu estar ali. Estava me preparando para o ritual prestes a acontecer e do qual não conseguia fugir. Também estava preso, no fim, às amarras dessa maldição que se mantém há milhões de anos.

- Está pronto, irmão? - Sussurrou Lupita e soube que é para mim. Queria conseguir xingá-la também. Não sou irmão dela, nunca fui, ela é uma parte quebrada de um todo que preciso juntar, mas sou insuficiente. - Qual humano vai escolher para tentar me impedir dessa vez? - Perguntou ela.

Seu tom não era de superioridade. Isso também me deixava furioso. Saber que ela carregava traços da minha irmã original, entender que sua existência derivava de uma coisa pela qual sou o culpado. Apenas minha mente estava ali e, por isso, mesmo que eu falasse não seriam capazes de me ouvir.

- Nenhum - respondi. - Lupita, como se sente ajudando a perpetuar a dor de tantos humanos e seres celestiais?

Ela permaneceu serena e imóvel, não me enxergava ou ouvia, apenas sentia a minha vibração. Tenho certeza de que conseguia sentir o ódio que alimentava dela e de Azazel.

Então os deixei.

Voltei para a terra. Aquela onde o ciclo se fecharia daquela.

A assisti nascer. Mais uma vez, loira e de olhos castanhos. Eloísa Dias Castillo era o nome dela. Nem cinco minutos fora do ventre da mãe e já a odiava também. Tínhamos um passado que ela não iria se lembrar, mas eu lembrava. Antes mesmo do ciclo da era, ela já não era do meu gosto. Além disso, era responsável por me levar para mais perto da morte, não sabia se agradecia ou a odiava um pouco mais por isso.

No fim, nada disso importou. Porque eu sabia que iria perder mais uma vez, já que aquele não era o último ciclo.

Mas, quando o último ameaçar acontecer, Azazel e Lupita irão tremer.

FUGITIVOS DO INFERNO 01 - Ciclo Da Era [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora