A noite seguia com uma fina e gelada garoa. Olívia tentava se equilibrar com as suas botas de salto, quando ao passar perto do bar em que frequentava na época que ainda não era uma dessas mulheres exclusivas, avistou uma cena que a faria ficar preocupada.
Ignorou o fato de o chão estar escorregadio e correu de encontro a um velho conhecido, que ficara estendido ao chão depois de alguns socos que lhe fora deferido no rosto marcado pela sarda cor de ferrugem.
— Orange, pelo amor de Deus! Olha a sua idade! Se metendo em briga. O que eu faço com você?
— Me deixa em paz! — Orange gritou com toda força que ainda lhe sobrava.
— É o que eu deveria fazer mesmo, mas não é em paz e sim na merda em que está.
Olhou para ele com pesar. Orange tentava se firmar em pé e seguir por uma linha reta. Tentou dar dois passos e novamente a tontura quase fez com que voltasse ao chão, foi impedido pelo corpo da garota que o amparou.
— Vamos cuidar desses machucados.
— Não precisa fazer isso, vai lá ficar com aquele velho...
— Velho? — Olívia começou a rir.
— Qual a graça?
— Ele não é velho. Tem apenas alguns anos a mais que você. E já não fico mais com ele.
— Como assim? — Orange lhe encarou com desconfiança e interesse.
— Acabou. Acabou tudo, Orange. Tudo.
Orange se posicionou na frente dela, agora totalmente recuperado da vertigem, e a segurava com as suas duas mãos pelos ombros, impedindo com isso que ela avançasse mais um passo ou desviasse o olhar.
— O que acabou? Explica isso direito!
— Não existe mais a Srta. Carmim.
— Você parou? É definitivo isso?
Olívia afirmava com a cabeça para o homem ainda incrédulo a sua frente. Um sorriso começou a crescer nos lábios dela, e em seguida, no dele também.
— Venha, vamos cuidar desse machucado. Onde você estava com a cabeça de se meter em uma briga com tamanha desvantagem? Ele tem o dobro do seu tamanho e metade de sua idade! Você também está ficando velho, quarentão!
— Olha quem fala!
— Ei! Ainda tenho longos quatro anos pela frente, não vem antecipar as coisas, não!
Seguiram caminhando de mãos dadas pelo resto da quadra, até chegarem ao prédio em que ficava o apartamento de Olívia. No momento de subir as escadas, Orange sentiu a zonzeira voltar e novamente a garota estava ali para lhe amparar.
Dentro do apartamento, foram direto para cozinha onde Olívia retirou uma caixa do armário. Era uma caixa onde guardava o material de primeiros socorros. Limpou primeiro o ferimento que ardia no rosto manchado pelas sardas do seu rapaz ruivo. Havia um corte superficial no supercílio direito. Removeu todo aquele sangue seco, passou um antisséptico e recebeu em troca uma careta, e ele uma repreensão. Tampou com esparadrapos, seguiu em direção a geladeira e de lá retirou algumas pedras de gelo, envolvendo-as em um guardanapo de pano que estava jogado sobre o balcão.
Voltou para próximo dele, ficando entre as suas pernas enquanto Orange seguia apoiado no balcão da pia. Dessa forma, quase que encaixados um no outro, ela colocou o gelo protegido pelo pano sobre o seu ferimento.
As mãos dele seguiam apoiadas no balcão da pia, lado a lado do seu corpo, e então, sairiam dali buscando apoio em outro lugar, mais precisamente na lombar de Olívia. Nesse gesto, ele afastou mais suas pernas e a garota ficou mais próxima ainda do seu contato.
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Encontro com o Prazer - Livro 1 [Completo]
ChickLitExiste o momento certo de parar? Elisa Carmim estava decidida quando escolheu ser uma acompanhante de luxo. Agora passado tanto tempo dessa escolha, sente que chegou a hora de abandonar, antes de entrar em decadência. Não se perdoaria se isso aconte...